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Beto Pezão


Na arte popular de José Roberto Freitas as esculturas possuem traços fortes e detalhes marcantes. Emocionantes, expressam nos rostos as adversidades da vida agreste do povo sertanejo: vaqueiros, pescadores, lavadeiras, vendedores, ambulantes e lavradores, segurando arados ou carregando cabaças.

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Sobre as criações

Dos movimentos suaves das mãos surgem peças inconfundíveis, modeladas no barro pelo artesão sergipano dono de uma arte rica em detalhes e expressões. Na arte popular de Beto Pezão as esculturas possuem traços fortes e detalhes marcantes que emocionam ao expressar nos rostos as adversidades da vida agreste das figuras humanas do sertão: vaqueiros, mendigos, pescadores, lavadeiras, vendedores, ambulantes e lavradores, segurando arados ou carregando cabaças. Personagens que retratam a trajetória do povo sertanejo e personagens cristãos. Os pés grandes, alongados, que surgiram para dar mais estabilidade para as peças e se tornaram uma marca, explicam o nome inusitado do artista.

Beto Pezão / Crédito das fotos: Vanessa Gomes

Sobre quem cria

Seus avós e pais eram artesãos. Ele, o mais velho de 11 irmãos. Começou a trabalhar cedo, aos 6 anos, ao ganhar um pequeno torno de presente, na época maior do que ele. Iniciou fazendo potes, objetos mais simples. Observando o pai, que era escultor, foi aprimorando o trabalho sob sua influência artística. Passou a ajudá-lo nos contornos e pequenas peças. Aos 9 anos começou a modelar e vender alguns de seus trabalhos nas feiras populares. Com 19 mudaram-se para Aracaju, onde José Roberto Freitas, o mestre Beto Pezão, modelou sua primeira peça com pés agigantados, com o objetivo de melhorar a sustentação de suas esculturas que sempre quebravam na altura dos pés, logo que saiam do forno. O barro de lá também não ajudava. Era um grande prejuízo. Ao retornar, o pai viu e reprovou a criação. Dizia que parecia que a figura estava doente. Beto, claro, ficou chateado, mas não desanimou. Havia na época muito preconceito com a hanseníase (doença popularmente conhecida como lepra) e o boato era de que as pessoas com a doença tinham pés, orelhas e mãos crescidos desproporcionalmente. Mesmo assim Beto insistiu na ideia, e as pessoa gostaram. Naquela semana vendeu todas as peças recém-criadas.

Os pés grandes deram um outro rumo à sua obra – destacou seu trabalho e levou vários outros artistas a imitá-lo. Se transformaram na marca registrada de suas esculturas, conquistando o gosto de colecionadores de vários lugares do mundo. Além dos sertanejos, outra paixão do artista são as imagens sacras, igualmente sustentadas por imensos pés, as quais também levam um pouco da cultura nordestina. Antes de seu reconhecimento na modelagem do barro, Beto fazia esculturas em madeira. Elegeu definitivamente o barro ao perceber que o material lhe oferecia “mais intimidade com as mão”.

Orgulha-se do ofício – artesão é como Beto gosta de ser reconhecido: “Eu não sou escultor, nem artista plástico, não tenho formação acadêmica, sou apenas um artesão”.

Beto Pezão

Hoje, com mais de 60 anos, Beto acumula seis décadas dedicadas à arte do barro. Já participou de várias exposições de arte pelo Brasil e mundo afora. A primeira a convite da Universidade Católica do Chile, onde retornou outras 5 vezes. Suas obras também são admiradas no México, Argentina, Portugal, Uruguai, Paraguai, Venezuela e Estados Unidos. No Brasil, sua arte foi exposta em vários estados: Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Maranhão e Minas Gerais. Encantado pelos seus personagens em barro, Fernando Gutiérres produziu e dirigiu um vídeo dando-lhes vida, através da arte gráfica. Um curta-metragem de animação tendo como personagem principal o sertanejo de pés grandes.

Beto trabalha praticamente desenvolvendo peças sob encomenda: “Deus é o meu primeiro parceiro e o cliente é o outro. Eles nunca me abandonam”.

Beto Pezão / Crédito das fotos: Vanessa Gomes

Sobre o território

José Roberto Freitas nasceu às margens do Rio São Francisco em 1952. É filho ilustre do município Santana do São Francisco (antiga Carrapicho), região conhecida pelas olarias no estado de Sergipe. Morou na cidade natal até os 19 anos, quando se mudou para Aracaju, onde mantém sua “oficina”, como gosta de dizer, em casa. “Não gosto de chamar atelier não, que é um nome muito sofisticado”. Acorda bem cedo, por volta das 4h30 da manhã e já começa a trabalhar. “É o dia todo, são muitas horas de trabalho”. Uma jornada intensa, mas que o faz realizado.

“Tudo, tudo o que tenho, devo ao artesanato. Tem os empecilhos mas como qualquer trabalho tem.”

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