Doutor da Borracha
O látex, extraído da Seringueira, árvore nativa da Floresta Amazônica, foi usado amplamente na fabricação de medicamentos, tinta, pneus e solas de sapatos. Nas mãos do seringueiro José Rodrigues de Araújo, a matéria-prima calça os pés com graça e cor.
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Sobre as criações
O látex, extraído da Seringueira, árvore nativa da Floresta Amazônica, foi usado amplamente na fabricação de medicamentos, tinta, pneus e solas de sapatos. Nas mãos do seringueiro José Rodrigues de Araújo, a matéria-prima calça os pés com graça e cor. São botas, sapatilhas e até sandálias gladiadoras. Para criar os produtos, o “Doutor da Borracha”, como ficou conhecido, une os conhecimentos tradicionais, passados por seu pai, também seringueiro, com uma técnica que aprendeu durante um curso realizado no Acre, desenvolvida pelo Laboratório de Tecnologia Química da Universidade de Brasília (UnB), chamada Folha Semi Artefato (FSA).
Todos os dias José acorda antes do sol e parte para dentro da mata, na Reserva Extrativista Chico Mendes, onde mora, para “cortar seringa”. Volta para casa e depois de mais ou menos duas horas, retorna para colher o leite da Seringueira que é misturado com um produto químico, chamado ácido pirolenhoso que coagula o líquido leitoso, formando uma película que descansa no fundo da bandeja. Essa película, chamada “manta de borracha” é passada várias vezes na calandra, espécie de cilindro manual, até ficar bem fina, para somente depois secar. Com as mantas secas, José e sua esposa Delcilene começam a montagem dos sapatos que se assemelha ao trabalho de um alfaiate.
Sobre quem cria
O grupo familiar Doutor da Borracha é constituído por oito pessoas, todos da família de “seu” José. Antes de fazer o curso para aprender a técnica da Folha Semi Artefato, o seringueiro já fazia os sapatos de borracha, as chamadas galochas, que são usadas para entrar na mata. José foi o primeiro a produzir os sapatos de látex, sem que ninguém o tenha ensinado.
O Doutor da Borracha nasceu em Assis Brasil e trabalhava com o seringal junto a um grupo de 40 pessoas. Depois do casamento com Delcilene foi morar na zona rural de Epitaciolândia, onde a atividade Seringueira não existia. Ali, a pecuária imperava e junto com ela o desmatamento. Pouco a pouco, José foi ensinando as pessoas da comunidade a extrair látex, com a intenção de estimular a atividade.
A floresta é o lar e a escola de José, que não teve a possibilidade de frequentar a escola formal. Junto à mata, o seringueiro tornou-se mestre no manejo da seiva dos seringais e na produção de sandálias de borracha. Após a encomenda de um sapato com furos, o artesão teve a ideia de montar um sapato a partir de tiras e dessa experimentação surgiram os sapatos vendidos hoje. Os modelos podem ser encontrados em algumas lojas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e outras cidades brasileiras.
A valorização do trabalho de José possui um impacto importante no desenvolvimento sustentável da região, assim como na proteção às florestas do Acre. Em 2014, o Doutor da Borracha recebeu o Prêmio Chico Mendes de Florestania.
Sobre o território
O Acre integra o território brasileiro, apenas recentemente, desde 1903, quando o Barão do Rio Branco convenceu o Governo Boliviano a entregar o Acre em troca de territórios brasileiros do estado do Mato Grosso e mais um montante em dinheiro que equivaleria hoje a quase um bilhão de reais. O Acre nesse momento já tinha sido ocupado por brasileiros que migraram para a região durante o ciclo da borracha, em meados do século XIX.
Entre 1870 e 1920, a Seringueira, uma árvore nativa da bacia hidrográfica do Rio Amazonas, onde existia em abundância, foi um dos principais produtos da economia nacional, chegando a ser responsável por 25% das exportações, perdendo apenas para o café. Da Seringueira se extrai o látex com o qual se produz a borracha natural que foi por um tempo um produto exclusivo do Brasil, até as sementes da Seringueira serem contrabandeadas pelo botânico inglês Henry Wickman. Anos depois, extensas florestas de seringueiras passaram a ser exploradas na Ásia e Malásia, fazendo com que as exportações brasileiras sofressem uma dura queda que encerrou o ciclo da borracha.
O declínio da borracha na região abriu espaço para a pecuária extensiva que impactou de forma a importante o processo de desmatamento da Floresta Amazônica. Com o início da produção sintética de borracha, por volta de 1945, a extração de seringa caiu ainda mais, mas ainda hoje é uma atividade importante, não apenas por ser o sustento de muitas famílias, mas também por ser uma atividade estratégica para a conservação e proteção das Florestas.