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Geraldo da Viola


Geraldo já foi caminhoneiro, marceneiro e sempre gostou de trabalhar com madeira, mas foi aos 50 anos que começou a criar violas.

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Sobre as criações

Geraldo já foi caminhoneiro, marceneiro e sempre gostou de trabalhar com madeira, mas foi aos 50 anos que começou a criar violas. Seu bisavô era luthier e os instrumentos fizeram parte de sua vida, mas não chegou a acompanhar o processo de feitura pois teve pouco tempo de contato com ele. Teve que ser autodidata, desmanchando instrumentos e observando sua estrutura interna e externa, pois, segundo ele, os luthiers não costumam compartilhar informações.

“A primeira viola saiu torta, toda atrapalhada”.

Detalhes como escala e afinamento fizeram parte de sua pesquisa com restauradores, músicos e pessoas abertas a compartilhar o que sabiam. Apesar de não saber tocar, Geraldo é dono de uma escuta sensível e é através dela que escolhe os instrumentos que deseja criar:

“Eu estava vendo Inezita Barroso na TV Cultura e vi um rapaz tocando rabeca, me apaixonei pelo som e pensei: eu preciso fazer isso. Quando eu quero fazer uma coisa passo a noite toda pensando pra fazer no outro dia”.

Viola, rabeca e cavaquinho são os instrumentos produzidos por Geraldo. O tempo de feitura é lento, 15 dias apenas no processo de colagem das peças, trabalho minucioso que exige espera e paciência. Geraldo conta do desejo de perpetuar o ofício, mas encontra desafios no caminho do compartilhar.

“Eu compartilho, qualquer pessoa que vem aqui eu ensino, eu ajudo. Só nunca dei curso, porque não temos apoio, projetos para ensinar. O investimento é alto, parte dos materiais vem de fora do país. Se tiver cabeça boa aprende, né? Tudo a gente tem que fazer com amor e muita gente está interessada só no lucro. Aí chega perguntando se dá dinheiro. Eu digo que tem que fazer por amor, dinheiro é sorte”.

Sobre quem cria

Geraldo nasceu em Turmalina (MG), mas foi em Capelinha que fez morada. Chegou na cidade para trabalhar na feitura de carrocerias para caminhão e viveu muitos anos desse ofício. Por ser um trabalho mais pesado, decidiu parar e buscar algo que se adaptasse as limitações do corpo. Segundo ele, o ofício de luthier mudou sua vida, ensinou-lhe sobre tempo e paciência:

“Quando você começa a fazer essas coisas, até a natureza da gente muda. A gente vai ficando mais calmo, tranquilo”.

Geraldo nasceu e foi criado na roça e comenta que, quando para para pensar na vida, fica impressionado com a quantidade de atividades e ofícios que já aprendeu e desenvolveu.

“Sempre gostei de fazer as coisas, fazer tudo. Eu aprendo rápido”.

No quintal de casa, ele e sua companheira, Dona Helena, trabalham e acolhem quem chega com café e pão de queijo. Para Geraldo, é a união entre praticidade, afeto e prosa.

“Eu sou feliz moça, eu sou muito feliz e faço o que amo, sabe? O gostoso é estar entre amigos e família. Não sou muito apaixonado por dinheiro, prefiro ter amigos”.

Geraldo da Viola

Geraldo da Viola / Crédito das fotos: Tadeu Oliveira

Sobre o território

Nascido no alto Vale do Jequitinhonha, em Turmalina, nordeste de Minas Gerais, migrou já adulto para a cidade vizinha, Capelinha. A mudança de cidade aconteceu por motivos de trabalho, mas o município acabou ganhando um espaço afetivo na vida de Geraldo.

A cidade, com aproximadamente 38 mil habitantes, tem a economia local baseada na agricultura e comércio. Parte da região rural é ocupada pelo plantio de café e eucalipto para produção de carvão natural e comércio de madeira.

Entre montanhas e relevos, Capelinha está a 435km de Belo Horizonte e faz parte de um polo importante da cultura popular brasileira. O Vale do Jequitinhonha reúne mestres e mestras da arte brasileira. Cerâmica, tecelagem, música, brincadeiras e celebrações populares que criam uma rede potente de compartilhamento de saberes populares entre quem cria e quem aprecia.

Geraldo da Viola, por sorte entrou nessa roda, seja pelo gosto de aprender ou pelo desejo de se aproximar do som e sua musicalidade. Querido entre todos da cidade, recebe matéria-prima de amigos e conhecidos, que muitas vezes passam em sua casa para deixar madeira encontrada ou sem utilidade.

“Eu ganho muita madeira usada, prateleira, madeira de casa antiga, mas uso cedro também. Está difícil de encontrar madeira, a gente tem que ir reaproveitando. Quanto mais velha melhor. Se não tiver estragada, ótimo”.

Entre feiras e festivais na região do Vale, Geraldo conheceu muitos músicos e pessoas interessadas em suas criações e assim vem criando sua rede de contatos e clientes. Segundo Geraldo, feiras como a da UFMG sempre acontecem e proporcionam momentos potentes de troca de saberes, oficinas e vendas.

“O lugar que mais vendo rabeca é na feira da Universidade Federal de Minas Gerais, sempre vendo muito bem lá”.

Atualmente seu Geraldo é o único luthier de rabeca da região e um dos poucos de viola e cavaquinho. Ele comenta do desejo de perpetuar seus saberes e lamenta a falta de incentivo do poder público, mas reforça:

“Quem tiver interesse em aprender, é só chegar. A gente toma um café, come um pãozinho de queijo e a pessoa vai acompanhando”.

Geraldo fala isso com voz tranquila, de quem gosta de fazer amigos, transportando quem conversa com ele para seu quintal.

“Aqui o café é bom, minha esposa nunca deixa a garrafa esvaziar, viu? Pode vir visitar a gente”.

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