A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Izabel Cristina Manhães de Araujo 


Izabel é artesã de renda de bilros, uma tradição vinda da Europa junto com a colonização e que se fixou principalmente nos litorais do Brasil. Além de registrar pontos tradicionais e ensinar a técnica, a artesã vem trabalhando em atualizar a renda, principalmente para que pessoas mais jovens voltem seu interesse para ela.

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Sobre as criações

No Brasil, a renda de bilros é uma tradição vinda da Europa junto com a colonização e que se fixou principalmente nos litorais, e Izabel conta que muito dela vem se perdendo por falta de materiais de ensino e estudo. Os pontos são a base da tradição, a primeira coisa que se aprende e, também por ser uma tradição repassada de forma oral, eles têm nomes diferentes ao redor do país e do mundo. Por exemplo, o que chamamos no Brasil de ponto Baratinha, na França e em Portugal é o ponto do Espírito. “No Brasil, se costuma colocar nome pelo que parece. Acabam sendo diferentes dos nomes na Europa”. Os pontos também têm muitas variações. O ponto aranha, por exemplo, tem 15 variações.  

Foto de divulgação Artesol

Para fazer a renda, além do conhecimento de como fazer os pontos, é necessário ter o pique – o gabarito da renda -, a almofada, os bilros, e alfinetes. Com os bilros, se trabalha em pares: um em cada dedo. Izabel tem tipos de bilros diferentes: os que são feitos no torno por um mestre, e tem também, por exemplo, bilros feitos de sementes que achou na praia no Ceará. Quanto menor o tamanho deles, mais delicada é a renda. Mas Izabel, que valoriza muito a ideia de democratizar esses saberes, conta: “Dá pra fazer renda amarrando a linha em lápis de cor, bola de gude com massa de biscuit, prendedor de roupas. Se não tem dinheiro, não precisa da peça”. Para produzir a renda, em cima do papel – do pique -, são entrelaçados os fios. Depois, são colocados os alfinetes, até que o ponto seja fechado e a renda finalizada.  

Izabel, além de registrar pontos tradicionais e ensinar a técnica, vem trabalhando em atualizar a renda, principalmente para que pessoas mais jovens voltem seu interesse para ela. Foi daí uma de suas inspirações para começar suas peças figurativas, especialmente que representam a importância da negritude no Brasil. Para fazê-las, ela primeiro faz o desenho que quer representar no papel. Depois, olhando para ele, decide os pontos que vão em cada lugar, e produz o pique. “Queria uma saia, uma blusa larga, queria que ela estivesse dançando. Ali mesmo desenhei. É assim que eu faço: de repente me dá vontade de fazer um desenho e eu faço”.  

Essas peças, que incluem desde a representação da Maria do Jongo passando pelo Atabaque até uma sapatilha de balé, já levaram Izabel para expor em casas de cultura e exposições, além de atrair o olhar dos jovens para a técnica e valorizar as pessoas e a cultura negra. “Vou fazer uma fada negra, um gnomo negro, um surfista negro”. 

Sobre quem cria

Foto de divulgação Artesol

Izabel Cristina Manhães de Araujo estuda e produz trabalhos em renda de bilros desde 2016, quando fez aulas em um curso de extensão do Instituto Federal em Arraial do Cabo. Depois, ela se tornou autodidata, buscando informações sobre a renda em livros do mundo todo, procurando e produzindo registros dessa técnica. “Aprendo olhando fotos de livros em alemão, japonês, grego. Não preciso entender a língua para entender o ponto.” Ela conta que começou o trabalho de passar a limpo desenhos de pique e perfurar novos gabaritos, para registrar os pontos que ela vinha aprendendo e para que esse conhecimento não fosse perdido. 

De 2017 até 2020 deu aulas em Arraial do Cabo e Cabo Frio e quer muito continuar dando aulas. “Pra que eu vou guardar um conhecimento? Vou ensinar para quem quiser.” Ela é aposentada e conta que o que gosta de passar é o olhar da renda para as pessoas, em especial buscando ensinar como representar, dar o movimento pela renda, fazer representações de rosto, etc. Ela também estuda e produz rendas nos estilos tradicionais, mas sua grande paixão são as representações e ela conta que valoriza muito as trocas com pessoas de fora do Brasil, pela internet, principalmente, buscando inspiração nelas.  

Sobre o território

Foto de divulgação Artesol

Izabel é da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, e circula especialmente entre Arraial do Cabo e Búzios. Em Arraial do Cabo, ela conta que tem muita gente interessada na renda, muitas trocas. O Ponto de Cultura dos Artesãos de Arraial do Cabo é uma forte referência e o fato de este território ter a presença de pessoas de outros países da América Latina também é muito interessante para as trocas e aprendizados com materiais em Espanhol. Arraial do Cabo é um dos destinos mais conhecidos de mergulhadores por conta das águas cristalinas, nas quais se pode enxergar em até 20 metros dentro do mar. Para Izabel isso é importante, pois sente forte conexão com o mar e que este e seus animais são uma influência forte para suas representações. Além disso, os bilros também são muito produzidos na região, principalmente com a madeira da Restinga da Região dos Lagos. Em Arraial do Cabo, Izabel ensinou para uma turma durante 3 anos e fez muitas conexões e entrevistas na época, inclusive indo produzir na beira da praia, também chamando a atenção de quem passeava e popularizando a renda de bilros na região.  

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