José Lourenço
José Lourenço é o maior xilógrafo do Ceará e um dos mais importantes do Brasil. Em sua obra, retrata as cenas e histórias de sua terra.
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Sobre as criações
José Lourenço é tipógrafo, xilógrafo e impressor, dominando todas as etapas do processo de impressão de um cordel. É na xilogravura associada à impressão, contudo, que seu ofício adquire expressão estética e potência criativa. Suas temáticas favoritas são as histórias de sua terra, como a religiosidade, a agricultura, as cenas do cotidiano, as festas e folguedos, além da vida e obra de personalidades locais, como Patativa do Assaré e Padre Cícero.
A primeira etapa do trabalho é dedicada a ler o texto do cordel ou da história que será contada pela xilogravura. Depois dessa primeira pesquisa, faz esboços em papel para estudar a melhor maneira de representar a história. Com o esboço definido, prepara a madeira com lixas e transfere o desenho do esboço para ela. Passa então ao entalhe, ou como costumam dizer, corta o desenho. A madeira mais utilizada é a umburana, a mesma em que os artesãos de Juazeiro do Norte entalham suas esculturas.
Com o desenho cortado, a matriz segue para impressão de teste, momento em que é avaliado se é necessário fazer alguma alteração, clarear alguma parte ou cortar mais alguma coisa. Zé Lourenço ressalta que, sem o domínio da técnica de impressão, não é possível transmitir a mensagem do desenho. Por isso, a técnica do impressor é tão importante quanto a do xilógrafo.
A produção artística de Zé Lourenço segue a estética da “escola do Cariri” de xilogravura, em que as cenas são bem preenchidas, com fundos riscados e volumosos, predominando o uso do preto e do branco. José Lourenço também gosta de experimentar e testar o uso de cores, imprimindo o fundo com uma cor para depois sobrepor o desenho em preto. As cores mais usadas são o amarelo e o vermelho acobreado, pois remetem às cores de sua terra.
Sobre quem cria
José Lourenço Gonzaga, também conhecido como Zé Lourenço, nasceu em Juazeiro do Norte – CE, “aos pés da Igreja Nossa Senhora das Dores”. Atualmente é o maior xilógrafo do Ceará e um dos mais importantes do Brasil.
Sua mãe vendia frutas e verduras no mercado, e seu pai era agricultor. Seu avô, Pedro Gonzaga, era tipógrafo e trabalhava na antiga tipografia São Francisco, que mais tarde seria rebatizada de Lira Nordestina. Atraído pelo mundo das letras, gravuras e papéis de seu avô, Zé Lourenço cresceu brincando na gráfica, varrendo aparas de papel e dobrando cordéis recém-impressos. Também foi na gráfica que aprendeu a ler e a escrever, apesar de ter frequentado a escola até a quarta série.
Na juventude, passou algum tempo viajando entre Iguatu e Juazeiro do Norte para trabalhar na roça com o pai, principalmente em plantações de algodão. Em 1983, ao visitar Juazeiro e a tipografia, decidiu ficar ali. Seguindo os passos do avô, começou a trabalhar como tipógrafo e impressor.
A xilogravura entrou em sua vida entre 1985 e 1986. Ao perceber que faltavam xilógrafos para criar as capas de cordéis, arriscou fazer sua primeira matriz. Como o desenho ficou todo torto, acabou desistindo. Atento a esse interesse de Zé e precisando dar conta da demanda, Expedito – então gerente da tipografia – decidiu que Zé Lourenço faria a capa para um cliente que precisava da impressão na mesma semana. Angustiado, Zé não podia negar o trabalho, pois era recém-casado, o dinheiro era pouco e vivia com dificuldades. Foi para casa preocupado, pensando em como faria a xilogravura para a capa do cordel. Arranjou pedacinhos de madeira descartada de uma serraria perto de sua casa e passou a noite cortando o “taco”, como chamavam a xilogravura na época. No outro dia, chegou na tipografia cedinho para tirar a impressão da capa, que foi aprovada com gosto pelo cliente. Depois disso, não parou mais e passou a cortar capas de cordéis, embalagens, logos de empresas e tudo que tivesse aplicação para a xilogravura.
Em 1990, incentivado pelo professor e pesquisador Gilmar de Carvalho, fez um álbum chamado “A Vida do Padre Cícero”, que foi um sucesso e ganhou um prêmio no Salão de Abril de 1991. Produziu mais álbuns, como “Vida e Poesia do Patativa do Assaré”, “Via Sacra”, “Lira Nordestina”, entre outros. Com uma produção artística de fôlego, participou de várias exposições individuais e coletivas em diferentes estados brasileiros e no exterior. Ilustra livros, além de continuar a produzir capas de cordéis, e participa ativamente de feiras e eventos literários, mantendo viva a relação entre a xilogravura e as histórias.
Desde 1996, com o falecimento de Expedito Sebastião da Silva, é diretor artístico da tipografia Lira Nordestina, em um cargo extraoficial e não remunerado. Sua participação ativa na tipografia e sua preocupação foram essenciais para o estabelecimento de parcerias com outras instituições, dando novo fôlego para as atividades ali realizadas. Inquieto, está sempre em busca de novas estratégias, como o uso da tecnologia e das redes sociais, para reinventar os usos da xilogravura. Também se dedica a ministrar oficinas de xilogravura, impressão e tipografia, estimulando o surgimento de novos talentos – inclusive femininos, nesse universo muito masculino – perpetuando uma expressão artística que, desde os anos 1950, dizem que vai desaparecer.
Sobre o território
Créditos da foto: Théo Grahl.
Juazeiro do Norte é a cidade mais importante da região do Cariri cearense. É um polo econômico, com várias fábricas calçadistas e grandes mercados de atacado, além de ser um polo educacional, concentrando várias instituições de ensino superior.
É o maior centro de peregrinação e romaria na região nordeste, sendo um dos maiores polos de fé católica do Brasil, como Belém do Pará e Aparecida, em São Paulo. Ao longo do ano, são realizadas pelo menos 10 romarias, e a de Finados é a que mais atrai romeiros de toda a região e de outras partes do Brasil. Essa romaria recebe, há alguns anos, pelo menos 500 mil pessoas. Outras são dedicadas à Nossa Senhora das Dores e ao Padre Cícero.
A Lira Nordestina é a mais importante editora de cordéis do Brasil. Foi fundada em 1932 pelo alagoano José Bernardo da Silva, que, anos antes, foi em romaria a Juazeiro do Norte para pedir bênçãos ao Padre Cícero. Com o nome de Tipografia São Francisco, em pouco tempo se tornou a editora de cordéis mais importante do Brasil.
A partir de 1972, com a morte de José Bernardo da Silva, a Tipografia São Francisco passou por muitas dificuldades econômicas, até ser comprada pelo Governo do Estado do Ceará e ficar sob os cuidados da Universidade Regional do Cariri. Foi nesse período que passou a se chamar Lira Nordestina, nome dado pelo poeta Patativa do Assaré. Atualmente, a Lira Nordestina não tem caráter comercial de impressão de cordéis, tornando-se um centro cultural que acolhe artistas, cordelistas, impressores e xilógrafos apaixonados pela cultura do cordel.
A Literatura de Cordel foi reconhecida como patrimônio cultural do Brasil em 2018 pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.