A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Lira Marques


Dona Lira é mestra em investigar a cultura popular e o território em que nasceu e foi criada. A inspiração de Lira para suas criações em cerâmica vêm do fértil território, dos cânticos que coleta e de sua ancestralidade.

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Sobre as criações

Dona Lira, como é conhecida, não consegue dizer em palavras em que momento da vida teve seu primeiro contato com a cerâmica. Sua mãe, Dona Odília, se expressava através de muitas linguagens. Barro, voz, teatro, se comunicava através da criação.

Maria Lira diz que conheceu o barro através dos presépios que Odília fazia para os vizinhos na época de natal. Ela, diferente dos artesãos da região que faziam panelas e telhas, transformava o barro em esculturas e presépios. Uma curiosidade era que Dona Odília não tinha forno de queima, então misturava cinzas para dar resistência e trigo para dar mais liga.

Dona Lira observava com curiosidade as técnicas e experimentos da mãe, ao passo que andava pelo mercado municipal, pela comunidade da Baixa Quente e feiras, sempre atenta às diferentes cores, texturas e técnicas dos trabalhos de outros artesãos. A partir dessas observâncias encontrou Dona Joana que fazia potes e panelas de cerâmica, elas eram vizinhas. Lira se propôs a ser aprendiz de Dona Joana e assim entendeu sobre os processos de extração do barro.

“Olha, a gente tem que tirar o barro bem do centro, o barro virgem. Esse barro de fora é o desmonte.”

Lira Marques

Na ciência do barro, as fases da lua importam no momento de sua extração. A lua mais fraca é a ideal, lembrou Dona Lira. Assim como a qualidade da lenha para queima. Lenha grossa para peças mais robustas, lenhas pequenas para peças mais delicadas. Segundo Dona Lira, Joana ensinou para ela “O mistério da queima”. Ajudou-lhe a construir um forno simples e também lhe contou da importância das folhas no momento da queima, para dar brilho às peças.

Sobre quem cria

Dona Lira, desde muito nova entendeu a importância da escuta, da tradição oral exercida por muitos mestres. Seus conhecimentos não vieram de livros ou da academia, seu saber é empírico.

Pesquisadora de cantos tradicionais, junto à Frei Chico, Lira Marques já viajou por vários estados do Brasil contando e cantando as histórias dos boiadeiros, lavadeiras, cantos de beira-mar… Aliás, foi lavando roupa com sua mãe que talvez tenha percebido a potência de sua voz e a importância de perpetuar cantigas e tradições populares.

Para Dona Lira: “No Vale os artesãos são que nem as cantigas. Cantiga você pergunta: “com quem você aprendeu?”. Como uma contação de história, que se perpetua quando existe o sujeito, que através da curiosidade e do desejo, faz uma pausa no tempo e escuta o mestre Griô.

Lira Marques / Crédito das fotos: Lorí Figueiró

Sobre o território

Nascida em Araçuaí, município do Médio Jequitinhonha, com clima semiárido, localizado no nordeste de Minas Gerais, Dona Lira cresceu cercada de olarias e artesãos do barro. Araçuaí está localizada a 678 km da capital Belo Horizonte e é cortada por dois importantes rios: Araçuaí e Jequitinhonha.

Antes de ser colonizada pelos europeus, a região era povoada pelos indígenas Tocoiós e Botocudos. Ao que tudo indica, o nome da cidade vem do tupi que significa ” arara vermelha”. A colonização no município iniciou-se através da mineração em busca de ouro. Atualmente o município conta com aproximadamente 37 mil habitantes e encontra na plantação de banana uma das principais fontes da economia local.  Turismo, arte e cultura também movimentam o município que faz parte de um dos polos culturais mais importantes do país.

Falar do trabalho de Lira Marques sem falar do território torna-se quase impossível, pois é do Vale do Jequitinhonha que Dona Lira extrai o barro que se torna cerâmica e pigmentos naturais para suas pinturas. Segundo ela, quando seu amigo Frei Chico dirigia, eles iam de Araçuaí até Belo Horizonte observando e colhendo a imensa variedade de tipos de barro do caminho.

Também do próprio território colhe arames, galhos, pena de galinha e até pelo do rabo do gato para fazer pincéis. A singularidade de suas ferramentas reflete em suas obras, que acabam por falar também da fauna, da flora e da ancestralidade local. Como nas suas obras intituladas “Meus bichos do sertão”.

“Eles parecem que querem voar, saltar. Trabalho com inspiração. As máscaras, por exemplo, representam o negro e o índio.Tenho um pouco dos dois”.

Lira Marques

Para Dona Lira, apesar da região do Vale do Jequitinhonha ter o fazer artesanal há muitas décadas presente, foi no contato e na troca com estudantes universitários de psicologia, jornalismo e belas artes que o artesanato do Vale começou a ser reconhecido e valorizado. Sendo a própria associação criada com apoio da universidade católica.

As universidades também se tornaram espaço de troca, onde Dona Lira participa de conversas e aulas falando sobre seus processos criativos e toda sua trajetória enquanto Mestra autodidata. Foi através da universidade de Belo horizonte que ganhou o título de Mestra artesã.

Mas independente do reconhecimento acadêmico, Dona Lira sem dúvida é mestra em investigar a cultura popular e o território em que nasceu e foi criada. Território fértil onde Lira exercita sua criatividade cotidianamente.

“A arte não pode ser igualzinha não. Tem que ter criatividade, você tendo criatividade você vai longe. Tem a natureza pra você”.

Lira Marques

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