Mestre Espedito Seleiro
Espedito Seleiro produz calçados, bolsas, chapéus, carteiras, bancos, poltronas, além das selas, gibões e outros elementos da cultura vaqueira que estão sempre presentes. Suas peças são vendidas em outros estados e exportadas para outros países.
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Sobre as criações
Espedito Seleiro produz calçados, bolsas, chapéus, carteiras, bancos, poltronas, além das selas, gibões e outros elementos da cultura vaqueira que estão sempre presentes. O artesanato é feito com couro de cabra, pelica e camurça compradas em diversas cidades do Nordeste. Suas peças são vendidas em outros estados e exportadas para outros países.
Alguns produtos se destacam como muito característicos do mestre artesão, como é o caso das sandálias de Lampião e de Maria Bonita. A confecção das sandálias foi inspirada por uma passagem da história do seu pai. Um dia, um cliente chegou com o desenho de uma sandália “quadrada” que encomendou do pai de Espedito. Alguns dias depois, quando voltou para pegar a encomenda, aprovou a sandália e revelou ser cangaceiro do bando do Capitão Virgulino. A sandália com o formato quadrado tinha uma função bem prática para o bando por despistar os rastros deixados pelos calçados nas areias do sertão. Anos depois, a pedido do músico Alemberg Quindins, idealizador da Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, Espedito confeccionou uma sandália igual a de Lampião. Logo em seguida, criou também a sandália de Maria bonita.
Crédito da foto: Divulgação
Sobre quem cria
“Tem gente que chega lá em casa, aí diz: Mas seu espedito, por que que toda peça sua tem um coração? Digo: porque eu faço de todo coração, né?”
Espedito Seleiro
“Seu” Espedito nasceu em 1939, registrado como Espedito Veloso de Carvalho, mas o ofício de seleiro, exercido desde cedo, o fez ser conhecido como Espedito Seleiro. Filho de vaqueiro, “seu” Espedito nasceu em Arneiroz, no Ceará, e aprendeu bem novo, aos oitos anos, com seu pai, o ofício de seleiro, confeccionando selas e outros equipamentos para vaqueiros, tropeiros e cangaceiros. Seu pai faleceu ainda novo, deixando dez filhos e algumas ferramentas de ofício. Espedito, o mais velho dos dez filhos, começou passou a sustentar toda a família, com a confecção de selas. Nessa época já viviam em Nova Olinda e a venda foi ficando cada vez mais difícil, por conta da queda do trabalho de vaqueiro, resultado da crise na pecuária vivida após a mais longa estiagem do século XX que assolou o Ceará por longos cinco anos, entre 1979 e 1984.
Seu espedito começou a fazer a fazer outras peças em couro, como sandálias e bolsas e passou a usar cores. Tornou-se um investigador de pigmentos naturais e técnicas de tingimento de couro e assim, descobriu o angico que tinge de marrom, o urucum que traz o vermelho, a cinza da capimbeira que colore de branco. Com o tempo, criou uma estética própria que valoriza os desenhos e as cores, resultado da influência cigana, povo que admira e que, quando novo, o fascinava pelas vestimentas e adornos.
Um dia, Espedito se deu conta de que, com o falecimento do pai, o conhecimento que vinha sendo passado desde seu tataravô poderia morrer com o seu próprio falecimento. Decidiu, assim, ensinar o ofício aos seus irmãos, depois seus filhos e mais recentemente os netos. Mais tarde, fundou a Oficina Escola Espedito Seleiro que passa para os mais jovens além do ofício, a percepção de que esse saber-fazer é parte de uma cultura, de um modo de viver que está vivo, e pode seguir vivo dentro de cada um deles. Hoje, Espedito Seleiro é mestre da cultura, reconhecido oficialmente pelo Governo do Estado do Ceará e pelo Ministério da Cultura. Em 2017, recebeu o título de Notório Saber pela Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Sobre o território
“Sertão, argúem te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistéro
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá”.Trecho do poema “Cante de lá que eu canto de cá”, de Patativa do Assoré, poeta popular cearense.
Nova Olinda, extremo sul do Ceará, está a 543 quilômetros de distância de Fortaleza. A cidade encontra-se na chapada do Araripe, contando principalmente com o aquífero de Mauriti para o abastecimento de água. Localizada na microrregião do Cariri, a cidade tem pouco mais de 14 mil habitantes e é hoje um destino muito indicado pelo turismo. Um dos motivos é a presença do mestre Espedito Seleiro, cujo artesanato se tornou grande atrativo. Também a presença da Fundação Casa Grande, uma Organização Não Governamental que desenvolve diversos projetos culturais, artísticos e educativos, abordando temas como turismo comunitário, direitos humanos, economia solidária e mitologia Kariri.
A cultura Kariri começa com a história do povo que vivia na região da chapada do Araripe, conhecida como o berço da paleontologia nordestina. A partir de resquícios fósseis, que se encontram no Museu de Paleontologia de Santana, outro município da região, comprovou-se que as primeiras flores do planeta surgiram ali. Essas descobertas tornam ainda mais mágica a mitologia Kariri. Nos leitos subterrâneos e cavernosos da chapada do Araripe fluem, assim, muitas lendas que mantém vivas memórias que remetem a tempos historicamente muito distantes, cujas pistas se encontram nas pinturas rupestres e vestígios arqueológicos.
Crédito da foto: Valdemir Cunha