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Sobre as criações
Após uma ampla pesquisa que resultou em um Manual de Aplicação, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), reconheceu a Arte Santeira do Piauí como patrimônio nacional. O manual é considerado pelo IPHAN um instrumento indispensável no processo de identificação de bens culturais que possibilita a preservação e salvaguarda de bens culturais de natureza material e imaterial. Nele foram catalogados 45 santeiros denominados “Senhores de seu ofício: arte santeira do Piauí” incluindo Mestre Kim, o piauiense Joaquim José Alves que talha lindas esculturas em toras de cedro natural, marcadas por um acabamento primoroso.
Sobre quem cria
Aos 6, 7 anos o menino Joaquim já mostrava interesse pelas artes. Ao começar a frequentar a escola brincava de esculpir miniaturas em giz de louza, passando depois a esculpi-las em lápis escolar e no que mais tivesse pela frente. Figuras de animais, casinhas e os temas que se apresentavam, iam se transformando em pequenas esculturas. Certo dia a professora trouxe um livro sobre a vida de Tiradentes e o menino transferiu para o giz e o lápis os detalhes das narrativas da época. Habilidoso, utilizava como ferramenta uma pequena lâmina de barbear e a quebrava para que se tornasse pontiaguda. Não tinha ideia do valor daquele trabalho mas por volta dos 9 anos já mostrava as habilidades com o trato da madeira.
Seu tio era o ilustre Mestre Dezinho, santeiro de maior reconhecimento no Piauí, do qual mais tarde tornaria-se também seu genro. Ao vê-lo esculpindo sua arte santeira em uma igreja, percebeu: “Meu Deus, é isso que eu quero fazer! Eu também quero ser artista, trabalhar com arte!”. Um dia o tio foi visitar a família e notou que o menino tinha jeito para arte. Fez o convite para que trabalhasse com ele, e morasse em sua casa. A mãe autorizou desde que ele permanecesse frequentando a escola. Joaquim se animou, a família era pobre e ele, curioso, queria estudar arte com o tio. Mudou-se para sua casa e passou a ajudar no acabamento dos trabalhos, lixando. A procura pelas peças de Mestre Dezinho era muito grande – eram em três ajudantes, dois deles sobrinhos. Joaquim tinha 11 anos na época, os outros 17. Aos poucos começou a fazer “meio escondido” suas próprias peças, miniaturas. Quando os turistas chegavam era ele quem apresentava a oficina do mestre e suas obras. E aproveitava para mostrar suas criações. Alguns gostavam e compravam. Das peças de 2, 3 e 4 cm logo passou para esculturas maiores: “Ele me preparou. Fui observando seu trabalho e, em poucos meses, já fazia peças de 10, 20 cm”. Após um ano, Kim já esculpia figuras de um metro.
Trabalhou com o tio por cinco anos e então partiu para São Paulo. Na época não quis seguir na arte. Era o ano de 1985. Foi trabalhar em uma marcenaria, produzindo móveis, quando foi apresentado às máquinas. Passou nove meses e retornou a Teresina. Com o aprendizado foi trabalhar em uma movelaria, onde permaneceu por mais 7 anos. Mas seguia fazendo sua arte, sempre gostou. Certo dia se acidentou em uma máquina, quase perdeu a mão, desentendeu-se com o chefe e pediu demissão. Teve medo de seguir trabalhando naquela atividade. Decidiu voltar ao ofício de escultor, onde criava, inventava.
“Ainda hoje é um aprendizado. Sempre é, você nunca para de aprender.”
Mestre Kim
Foi reconhecido mestre de ofício pelo Governo do Estado, participou de várias exposições e feiras em Recife, São Paulo, Fortaleza e Rio Grande do Sul, foi premiado no Salão de Arte Santeira em 1994 com a obra “São Miguel Arcanjo” e representou o Brasil na melhor delegação de artesãos estrangeiros em Córdoba – Argentina, exposição que participou através do PRODART.
Seu maior sonho é ver todos os seus trabalhos juntos. Sabe é muito difícil afinal tem peças espalhadas em um bocado de lugar – calcula ter cerca de 3 mil espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Com o falecimento de Mestre Dezinho, em 2000, Mestre Kim assumiu sua oficina. Como discípulo, absorveu muita influência do trabalho do tio, mas diferente das figuras do mestre, as suas apresentam semblante refinado e olhos grandes. Em seus trabalhos nota-se uma luta incessante para atingir a perfeição.
Sobre o território
Nascido em Teresina – Piauí, em 1966, Joaquim José Alves casou-se com a prima (filha de Mestre Dezinho) logo que retornou a Teresina. Voltou então para a casa onde havia morado aos 11 anos, ao sair da casa da mãe para aprender sobre a arte com o tio. Mestre Kim trabalha hoje na oficina herdada de Mestre Dezinho, instalada nos fundos da casa em que o santeiro viveu por 30 anos, no bairro de Vermelha, Teresina. Assumiu a missão dispensada pelos filhos, de ser seu sucessor. E hoje é ele quem transfere seu conhecimento a discípulos. Kim reforça o valor da arte santeira que ele e outros artistas santeiros representam. Assim como os outros, não gosta de ser chamado de artesão, define-se um escultor de arte santeira.