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Sobre as criações
Ofício antigo, de referida origem indígena, é o que recontam os estudos arqueológicos realizados na região de Goiabeiras, bairro do município de Vitória, Espírito Santo. Mesmo após a intensa urbanização, o local mantém a tradição de fazer do barro panelas. São daí as reconhecidas paneleiras, que aprenderam a técnica geracional com suas mães, que depois avós e bisavós.
Para começar, o barro é retirado do Vale do Mulembá. As panelas dispensam o torno e o forno; modeladas à mão, a queima é realizada em fogueiras a céu aberto. O tanino utilizado na queima é proveniente da casca do mangue-vermelho, árvore encontrada no manguezal vizinho, que colore de negro o barro e garante a resistência, uma das características mais valorizadas das panelas capixabas.
O ofício das Paneleiras de Goiabeiras, é reconhecido como patrimônio imaterial pelo Iphan. Segundo as artesãs, esse status garante a salvaguarda da técnica, uma vez que a legitima junto à órgãos públicos responsáveis.
Sobre quem cria
A associação das Paneleiras de Goiabeiras, que conta hoje com mais de 60 associadas, foi fundada no ano de 1987 e garante a organização do espaço do Galpão e divisão das funções na fabricação das panelas. Porém, o ofício data de muito antes, sendo proveniente de uma produção essencialmente feminina e doméstica.
Hoje é comum dividir a produção entre quatro trabalhadores: o escolhedor de barro, paneleira, alisadora e tirador de panela, que cumprem em cada etapa da produção suas devidas atividades. O escolhedor de barro faz a limpeza e deixa o barro pronto para modelagem, realizada pelas paneleiras. A alisadora, por sua vez, é responsável por alisar a panela depois de seca utilizando uma pedra chamada seixo rolado, o que dá brilho à peça e a prepara para a queima. Após a queima é realizado o açoite, quando o tanino do mangue-vermelho é aplicando com a vassourinha de muxinga sobre a peça ainda em brasa.
Sobre o território
Goiabeiras Velha é um bairro do Município de Vitória – ES. Localizado à beira do canal que banha o manguezal e circunda a ilha, conservou em seu território o saber tradicional da olaria e do manejo sustentável do mangue.
A inauguração do Galpão da Associação à beira do manguezal, no início dos anos 90, foi um marco para as paneleiras. Ainda que não abrigue todos os associados, o local, além de ser ponto de encontro, produção e queima, é uma importante vitrine para os turistas que visitam e desejam compras as panelas.
A relação com o ambiente circundante é o que mantém viva e ativa a tradição das paneleiras. É preciso conhecer o terreno, saber de onde extrair o barro, reconhecer o mangue-vermelho. A técnica de mais de quatro séculos exige dos habitantes atuais atenção e cuidado pois, segundo estudos de especialistas, o barro pode se acabar em poucas décadas se o manejo não for equilibrado ou se novas fontes não forem encontradas.