A Rede Artesol - Artesanato do Brasil é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Artesãos de Pessanka do Vale do Iguaçu – APVI


A palavra pêssanka, vem do verbo ucraniano pyssaty (писати), que significa escrever. Trata-se, assim, de ovos escritos, desenhados, com traços que contam história. Para as antigas tradições ucranianas, a pêssanka é um amuleto de proteção e, por isso, um presente muito especial.

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Sobre as criações

A arte da pêssanka é permeada por elementos simbólicos, com profunda relação com a cultura eslava. A palavra pêssanka, vem do verbo ucraniano pyssaty (писати), que significa escrever. Trata-se, assim, de ovos escritos, desenhados, com traços que contam história. A sua origem remonta às antigas celebrações do início da primavera, em agradecimentos à Dajbóh (deus do Sol), comemorando seu retorno após o rigoroso inverno.  Para as antigas tradições ucranianas, a pêssanka é um amuleto de proteção e, por isso, um presente muito especial.

Foto de divulgação Artesol

Fotos de divulgação Artesol

Artesanato trazido pelos imigrantes ucranianos em meados do século XIX, a pêssanka escrita no Brasil se diferencia das encontradas em outros países da diáspora ucraniana e até mesmo das encontradas no próprio país de origem. Isso porque, na pêssanka brasileira insere em suas composições tradicionais alguns elementos locais, como pinheiro araucária, gralha azul e Nossa Senhora Aparecida. 

A base para as escritas são cascas de ovos de diferentes aves: codorna, galinha, pata, gança, emu e ema. Os ovos são esvaziados por um pequeno furo feito com agulha e higienizados antes da pintura. 

A pintura é feita com uma técnica de reserva, ou seja, com cera de abelha isola-se parte por parte do desenho a cada banho de cor. Para isso, a escrita é feita com um bico de pena ou kistka, uma ferramenta especial composta de uma espécie de funil metálico fixado em um cabo de madeira, que  é aquecido na chama de uma vela, para manter a cera de abelha derretida e assim fazer os traços das pêssankas. 

Por fim, o ovo é aquecido na chama da vela e as camadas de cera derretem, revelando as cores e formas dos símbolos inscritos. Um processo mágico que conecta os fazeres contemporâneos com conhecimentos ancestrais. 

Sobre quem cria

Foto de divulgação Artesol

Os Artesãos de Pêssankas do Vale do Iguaçu (APVI), antigo Núcleo de Artesãos de Pêssanka de Porto União, iniciou suas atividades em oficinas com o pesquisador Vilson José Kotviski, autor do livro Pêssanka: da Ucrânia para o Brasil, que já repassou esse conhecimento a centenas de pessoas. 

Durante a formação, aprende-se a técnica e também o simbolismo da escrita. Assim, é possível exercitar a liberdade artística sem descaracterizar o trabalho tradicional. Caso contrário, o trabalho poderia ser somente um ovo pintado. 

As inspirações vêm principalmente de buscas online, onde é possível acessar estilos antigos e contemporâneos de vários lugares do mundo. 

Os oito artesãos que integram o grupo trabalham de forma independente, cada um em sua casa, mas sempre trocando informações sobre a técnica e inspirações com os outros membros. 

Os artesãos que dedicam-se exclusivamente à produção de pêssankas chegam a produzir 90 unidades por mês, em tamanhos variados. Comercializam as peças em feiras locais, lojas especializadas e online. 

Sobre o território

Porto União e União da Vitória são as Gêmeas do Iguaçu, como são conhecidas as cidades que têm a divisa entre os estados demarcada por um trilho de trem. A primeira pertence a Santa Catarina, enquanto a segunda ao Paraná. Assim, por mais que os Artesão de Pêssankas do Vale do Iguaçu esteja oficialmente localizado em Porto União, o trânsito entre os dois municípios é intenso e inevitável; é comum encontrar pessoas que vivem em um estado, mas trabalham em outro.

Em meados do século XIX a região foi um centro da migração eslava, principalmente polonesa e ucraniana. Os núcleos que se formaram conservam até os dias de hoje muitas das práticas sociais e culturais dos países originários. 

Nesse cenário, as comunidades estão integradas à vida social das cidades, compondo também a cultura local. São mais de 15 igrejas ucranianas na região, além do Clube Ucraniano, grupo folclórico, grupo musical e o grupo de artesãos de pêssankas, formado por Vilson, através de projeto cultural.

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