ASSAI – Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira
A Associação de Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (ASSAI) integra cerca de 30 famílias de diferentes etnias que produzem e comercializam artesanato. O grupo, para além da comercialização dos produtos, tem como preocupação a difusão da cultura indígena do Alto Rio Negro.
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Sobre as criações
Tucum e arumã
irmãs do povo de pé,
de fé e sonho.
Suas raízes brincam de nadar sem sair do lugar
e suas mãos, espalmadas no céu,
inspiram o trançado do Aturá
que ampara a seiva da mandioca
que escorre do ventre da mulher indígena.
Raquel Lara Rezende
A prática de trançar cestos é, para algumas etnias indígenas, como a Baniwa, um conhecimento central de sobrevivência no mundo. Com eles, as mulheres podem manipular a mandioca que constitui a base de sua alimentação. Assim como cesto, outras peças do artesanato produzido em São Gabriel da Cachoeira possuem profunda ligação com a vida indígena. São artefatos presentes no cotidiano das comunidades, na pesca, caça, agricultura, nos rituais e nas danças. O Aturá, por exemplo, uma cesta muito comercializada por conta do seu trançado, é utilizada nas roças para a colheita da mandioca.
Todo o processo de produção, incluindo o manejo da matéria-prima, compõe esse conhecimento expresso nas cores provenientes do tingimento natural, nos diferentes trançados feito com as fibras vegetais e nos desenhos que adornam ou dão forma aos objetos. Além da cestaria, a Associação produz biojoias e porta-joias (samburás) com as sementes da região que casam tão bem com a fibra de tucum.
Sobre quem cria
A Associação de Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (ASSAI) integra cerca de 30 famílias de diferentes etnias que produzem e comercializam artesanato. O grupo, para além da comercialização dos produtos, tem como preocupação a difusão da cultura indígena do Alto Rio Negro.
A matéria-prima principal usada é a fibra vegetal das palmeiras de nome arumã e tucum. Os artesãos entram na mata em busca da planta que manejam de forma sustentável, tendo como base o conhecimento tradicional indígena herdado. Por se encontrar dentro de uma demarcação de Terra Indígena, os povos possuem licença para a extração de matéria-prima.
Sobre o território
O município de São Gabriel da Cachoeira fica às margens do Rio Negro, a 850km de Manaus, na região do Alto Rio Negro, conhecida como “Cabeça do Cachorro”. A cidade possui a maior proporção de indígenas do Brasil. Mais de 75% de sua população pertence a 23 etnias diferentes. Em São Gabriel são faladas 19 línguas indígenas, além do nheengatu, derivada do tupi antigo e usada como língua franca na Amazônia durante décadas, e do português. O ciclo da borracha impulsionou uma forte migração forçada ou espontânea de indígenas de outros países, outras regiões do Brasil e de brasileiros da região nordeste para São Gabriel. Nesse contexto, os movimentos de resistência indígena se fortaleceram e uma das muitas estratégias utilizadas foi o uso da língua nheengatu que continuou a ser falada, a despeito de sua proibição em 1758.
Marcada pela pluralidade linguística, São Gabriel da Cachoeira é a primeira e única cidade a ter outras línguas reconhecidas como oficiais, além do português. Em 2002, a cidade aprovou uma lei municipal que tornou o tukano, o baniwa e o nheengatu línguas co-oficiais.
A mandioca é a principal fonte econômica das comunidades indígenas e ribeirinhas e constitui sua base alimentar, com seus derivados como a goma para tapioca, farinha, farinha de tapioca, maçoca, tucupi, arubé e beiju. O artesanato também ocupa importante lugar na geração de renda das comunidades que usam por exemplo algumas fibras vegetais, como as palmeiras arumã e tucum.