Associação de Mulheres de Itamatatiua
A produção cerâmica em Itamatatiua integra a história da comunidade quilombola desde sua fundação, há mais de três séculos. Homens e mulheres ocupam-se do ofício desenvolvido na relação afro-indígena no território, produzindo peças decorativas e utilitárias que traduzem essa memória na identidade das formas.
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Sobre as criações
A produção cerâmica em Itamatatiua integra a história da comunidade quilombola desde sua fundação, há mais de três séculos. Homens e mulheres ocupam-se do ofício desenvolvido na relação afro-indígena no território, produzindo peças decorativas e utilitárias que traduzem essa memória na identidade das formas.
A produção de artefatos cerâmicos destinados à construção civil, como telhas e tijolos, era atividade dos homens, enquanto as mulheres eram responsáveis pela produção de louças, como potes e panelas, utilizados na comunidade e comercializados em feiras locais. Hoje, a produção feminina é central no Centro de Cerâmica de Itamatatiua.
A argila coletada nas jazidas da região é armazenada em um tanque de alvenaria e é umedecida e coberta com sacos plásticos até o momento que será trabalhada. A quantidade coletada pode durar até um ano, dependendo do número de peças produzidas. Essa massa é limpa, misturada com areia e amassada com auxílio de uma maromba. Assim está pronta para a modelagem que é feita com três principais técnicas: modelagem com rolos, modelagem livre e modelagem com moldes.
A técnica de rolos é reconhecida como a mais tradicional e é utilizada em especial na modelagem de utilitários, como potes, vasos e vasilhas. De origem indígena, é assim chamada pois consiste na utilização de rolos compridos e finos na construção das peças.
Já a modelagem livre, que geralmente começa a partir de uma bola de barro que vai ganhando forma, é empregada na produção das bonecas que representam a força das mulheres da comunidade.
As placas decorativas são de produção mais recente, representam cenas da arquitetura e cotidiano local e são consumidas especialmente por turistas que visitam a comunidade.
Após a modelagem as peças secam ao ar livre por alguns dias até alcançarem o ponto de couro, momento em que as peças estão prontas para o último acabamento que as deixam mais lisas, brilhantes e resistentes. A queima é realizada em forno de lenha e pode durar até quatro dias.
Sobre quem cria
Fundada em 1989, a Associação de Mulheres de Itamatatiua teve sua origem na união das mulheres no então chamado clube de mães. Na época, as mulheres começaram a discutir assuntos pertinentes à vida em comunidade e organizaram a produção cerâmica, ofício existente em Itamatatiua desde sua fundação.
As características dessa união denotam o caráter da associação, que além de fortalecer a produção artesanal, gerando trabalho e renda para as 12 artesãs associadas e suas famílias, é central para a organização política da comunidade e manutenção das heranças culturais ancestrais.
Em meados dos anos 90, foi construído o Centro de Produção Cerâmica, localizado no coração do sítio. Integrados no mesmo prédio funciona uma escola de cerâmica e loja para comercialização das peças.
Sobre o território
A região dos atuais municípios de Alcântara e Bequimão era originalmente habitada por indígenas tupinambás, e em meados do século XVI e XVII começou a ser colonizada por franceses, logo expulsos pelos portugueses. Como parte da política de povoamento, a terra foi cedida pela coroa portuguesa à religiosos da Ordem do Carmo que por quase dois séculos mantiveram produções agrícolas com mão de obra de negros escravizados das etnias Banto e Mina-Jeje.
No século XIX, após o declínio do período escravocrata, a terra é abandonada pelos religiosos e sua propriedade passa à Santa Teresa D’Ávila de Jesus, tornando-se uma “terra de santo”. Os homens e mulheres que construíram o local, agora libertos, passam a ser legítimos herdeiros da terra por conservarem laços religiosos e de parentesco com a santa, gravados no sobrenome “de Jesus” da maioria dos nativos.
Algumas das marcas dos fortes laços dos moradores com Santa Teresa são as promessas, ladainhas, batuques e principalmente a grande festa anual para a padroeira que ocorre no mês de Outubro.