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Sobre as criações
Atualmente, Josie tem trabalhado em três séries de gravuras: “Aves da Caatinga”, “Colcha de retalhos” e “Sertão encantado”. Todas estão relacionadas com o universo nordestino, sendo que na primeira, a xilogravurista destaca os pássaros da região, como o azulão, o concriz e o galo de campina; na segunda série, prioriza as cores, muito presentes nas casas das pessoas e também na própria paisagem regional, marcada pela presença de árvores como o mulungu e o ipê que ficam floridas no inverno; e na terceira, o sol ganha protagonismo, inspirando pássaros e paisagens imaginárias.
Os desenhos são criados na madeira ou em couro bem grosso, onde aplica as tintas a óleo, para depois prensar no papel Canson ou Fabriano. As gravuras podem ser adquiridas já emolduradas ou no papel.
Sobre quem cria
“Eu creio que o que eu tenho em mim é dom. Que é uma dádiva, é um presente. Deus dá de presente um dom pra cada pessoa. São diferentes esses dons. E ele me deu uma capacidade de desempenhar a tarefa da xilogravura, de desenho, de forma fácil e natural. Esse dom que Deus me deu, ele me dá prazer em trabalhar, mas fazendo aquilo que eu gosto, que me faz bem e que me faz representar um pouquinho da cara do nordeste”.
Pernambucana, apaixonada pela brasilidade e pelo pulso nordestino que anima sua alma, Josie Lins se dedica hoje, principalmente à xilogravura. Desde criança, já se aventurava por diferentes técnicas artesanais e artísticas, como a cerâmica, a madeira, a fotografia e o desenho. Por muito tempo se dedicou ao artesanato como uma atividade que fazia para presentear. Foi a partir de 2013 que passou a comercializar as peças que fazia. Nesse época, uma visita que fez ao mestre Nicola, que trabalha com madeira e pedra, lhe abriu os olhos para a xilogravura.
Passou a trabalhar com a técnica e a desenvolver uma linguagem e proposta próprias. É instigada pela inquietude da busca pela completude, o que a leva a estudar e experimentar muito. No universo da xilogravura pesquisou muito a obra do mestre Samico e a xilogravura tradicional.
Sua maior inspiração é a cidade de Triunfo, a cidade mais alta de Pernambuco. Josie adotou o lugar como um refúgio, para onde gosta de viajar de madrugada, horário em que pode ver muitos pássaros e a vegetação da caatinga, delicada e resiliente, adaptável às bruscas mudanças do tempo.
Sobre o território
“Muita gente acha que o nordeste é uma região muito pobre, pessoas miseráveis, ignorantes, sem instrução, analfabetas, terra seca, chão batido, com famílias numerosas puxando um jumentinho. E tudo é monocromático. Cinza, barro. Então com essas séries eu uso muitas cores”.
Josie mora na praia de Candeias, no município de Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife, capital do estado de Pernambuco. Triunfo, a cidade que adotou de coração, está localizada na parte setentrional do Vale do Pajeú, no alto da Serra da Borborema, a 1060 metros de altitude, o ponto mais alto do estado. Triunfo é uma cidade histórica, marcada esteticamente pelos casarios do período colonial.
Pernambuco, de forma geral, se destaca pela forte presença do artesanato tradicional que possui intrínseca ligação com a diversidade cultural que concede uma aura encantadora ao estado. São manifestações religiosas, populares e artísticas que concedem ainda mais vivacidade e expressividade ao artesanato pernambucano. Toda essa efervescência ganha destaque na Feira nacional do Artesanato, Fenearte, que acontece todos os anos na capital, Recife.