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Associação dos Artesãos de Coqueiro Campo


As mãos das mulheres de Coqueiro Campo em contato com o barro ganham asas. O coração sertanejo, mestre em acolher sentimentos, conduzem o tato que dá forma à porção de argila.

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Sobre as criações

As mãos das mulheres de Coqueiro Campo em contato com o barro ganham asas. O coração sertanejo, mestre em acolher sentimentos, conduzem o tato que dá forma à porção de argila. Assim nascem moringas, filtros, mulheres noivas, grávidas, amamentando, colhendo, trabalhando, mulheres de mãos dadas, em círculo. O barro, coletado a cada dois anos para não degradar o solo, é socado no pilão, peneirado e amassado para que possa ser moldado. As cores são resultado do uso do oleio, barro diluído em água com pigmentos naturais, como o tauá, que dá a coloração avermelhada, e a tabatinga que colore de branco. Para a pintura de flores e penas, as mulheres utilizam penas variadas, e depois de pintadas, as peças são queimadas em forno de barro.

As técnicas utilizadas na produção dos objetos lhes foram passadas pelas mães e avós, muitas de Campo Alegre, comunidade vizinha. Na região conta-se que as antepassadas das ceramistas aprenderam a moldar o barro com as indígenas que viviam na região, fazendo cumbucas para uso doméstico e urnas funerárias.

Sobre quem cria

A associação dos Artesãos de Coqueiro Campo conta, hoje, com 39 mulheres. O barro em suas mãos representa, para além de uma atividade central na geração de renda, um tempo de criação, em que as ceramistas podem se fortalecer umas com as outras. Tempo em que aprendem a estar juntas e encontram a força necessária para se sustentarem no afeto, na solidariedade e na criação. A sua inspiração vem da coragem e capacidade de reconhecer e cultivar a alegria mesmo cercadas de ausências. Surgem, assim, peças realistas, surrealistas, delicadas, provocativas. Todas comunicam essa força das mulheres sertanejas estampada nos rostos das bonecas que carregam no barro suas próprias feições.

“Quando eu saí daqui
Vou saí daqui avoando
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
(…)
Adeus, adeus, toma adeus
Que eu já vou me embora
Eu morava no fundo d’água
Não sei quando eu voltarei
Eu sou canoeiro”

Beira-mar, canto de domínio popular do Vale do Jequitinhonha

Sobre o território

“(…) Quando essa firma chegou, desmataram toda a mata, e o sossego acabou. Milhões de pés de pequi, sem outras frutas falar, foram quebradas e queimadas, sem poder reclamar. Mil qualidades de bichos que nessa mata havia, e nesse acaba-mundo, aqueles bichos morria. E depois que eu cresci, agora não sou criança, não sei se é desabafo, ou é resto de de esperança. Se diz que meu vale é pobre, é o vale da miséria, a pobreza aumentou muito mais do que se era! Enquanto eu existir, uma esperança brilhará, de ver no nosso vale projetos para melhorar. E quando for daqui uns tempos, meu  sonho vou realizar: no livro desse vale outra história estará. 

Deuzani Gomes dos Santos, poeta-artesã

Campo Buriti é uma comunidade rural do município de Turmalina, Vale do Jequitinhonha, na região nordeste de Minas Gerais. A comunidade fica, mais precisamente no Médio Jequitinhonha, onde se encontra o rio Araçuaí. A região, antes coberta por mata atlântica e habitada pelo povo indígena Aranã, foi ocupada no século XVII pelos vaqueiros que buscavam terras para pastagem. Grande parte da mata foi derrubada e o que ficou no lugar foi o capim colonião e o solo castigado. Hoje, a principal atividade econômica presente no Vale é o cultivo de eucaliptos pelo agronegócio, que tem trazido consequências graves que atingem as comunidades e o ecossistema, como o desemprego, a crise hídrica, e os impactos na diversidade da fauna e da flora locais.

Nesse contexto, as mulheres têm estado cada vez mais ativas na geração de renda para suas famílias, visto que os homens, desempregados, são obrigados a buscar trabalho em outros cantos, passando longas temporadas fora da comunidade. Cabe às mulheres, assim, cuidarem dos filhos, de suas casas, do plantio e de si mesmas.

o Vale do Jequitinhonha é conhecido, muitas vezes, apenas pela pobreza, criada pelo desmatamento desmedido, e que estigmatizou negativamente a região. Pouco ainda se conhece sobre as riquezas sem medida manifestas nos saberes populares, nas danças, cantos, festas e na produção artesanal em palha, bambu, madeira, algodão e cerâmica. O Vale do Jequitinhonha também é conhecido como “Vale das mulheres”, e a comunidade de Coqueiro Campo expressa bem o sentido desse segundo nome.

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