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Augusto Ribeiro


Herdeiro da tradição das bonequeiras do Vale do Jequitinhonha, Augusto Ribeiro modela bonecas com uma riqueza surpreendente de detalhes com o barro coletado no sítio da avó.

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Sobre as criações

Na comunidade de Santana do Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, Dona Izabel Mendes da Cunha inovou a produção oleira ao transformar uma moringa, peça utilitária, em uma boneca. Primeiro adicionou uma cabeça, depois os braços. A técnica desenvolvida pela Mestra, que não mediu esforços para compartilhar o que criou, passou a ser utilizada por vários ceramistas, criando uma identidade regional.

Herdeiro dessa tradição, Augusto Ribeiro modela bonecas com uma riqueza surpreendente de detalhes com o barro coletado no sítio da avó. Começa o trabalho dando forma ao o corpo, de baixo para cima. A cabeça é a última a ser feita e, se a boneca for muito grande, é confeccionada como uma peça separada, que fica encaixada no corpo como uma tampa de moringa. O colorido da pintura também é extraído das argilas, encontradas em vários pontos da cidade e da região.

Como suas bonecas possuem expressões e personalidades próprias, é comum perguntarem a Augusto se elas recebem um nome. A maioria não tem. Curiosamente, são os barros coloridos que sempre são nomeados, pois recebem a alcunha do dono do terreno onde são encontrados. Em Santana do Araçuaí, os barros têm nome de gente.

Augusto Ribeiro / Crédito das fotos: Divulgação.

Sobre quem cria

Quando Augusto tinha 4 anos, por volta de 2004, sua mãe estava desempregada e decidiu aprender a fazer bonecas com a irmã, que era aluna de Dona Izabel. Augusto acompanhava sua mãe nas aulas e logo passou a deixar os brinquedos em casa para brincar com o barro. Para não ser repreendido por gastar o material de trabalho da tia, brincava de modelar com os toquinhos que sobravam da confecção dos braços das bonecas.

Com o estímulo da mãe, ainda muito novo começou a fazer aulas com Dona Izabel. Ao conhecer as bonecas da Mestra ficou verdadeiramente impressionado, imaginando se um dia conseguiria modelar como ela. Dona Izabel o incentivava aos poucos, pedindo para que fizesse figurinhas de animais, como burrinhos. Mas o que Augusto queria mesmo era fazer bonecas. E fazia, bem pequenas. Por volta dos 15 anos, Augusto decidiu que era hora de fazer bonecas maiores. Vendeu sua primeira boneca nesse formato e não parou mais.

Certa vez, Augusto fez uma boneca de noiva inspirado pela avó, consultando retratos de seu casamento. Ao ver a boneca, a avó o desafiou, dizendo que era fácil fazê-la jovem. O difícil mesmo era modelá-la assim, velha. Tocado, Augusto a modelou velhinha, em segredo, para presenteá-la em seu aniversário. A avó ficou feliz, mas foi logo enchendo a boneca de terços, que para ela estavam faltando. A divulgação da obra atraiu novos clientes, interessados em ter bonecas idosas, às vezes inspiradas por suas próprias avós.

Atualmente é o mais jovem bonequeiro de sua cidade e a pouca idade esconde sua já longa trajetória como artesão. Augusto sente um imenso orgulho por ser discípulo de Dona Izabel e produz suas bonecas unindo a tradição aprendida com a Mestra a referências contemporâneas.

Augusto Ribeiro / Crédito da foto: Augusto Ribeiro.

Augusto Ribeiro / Crédito das fotos: Augusto Ribeiro.

Sobre o território

Santana do Araçuaí é um pequeno povoado de Ponto dos Volantes, um dos mais de 50 municípios que compõem o Vale do Jequitinhonha. Essa região ocupa 14% do estado de Minas Gerais e possui mais de um milhão de habitantes.

Antes do início da colonização, o Vale era habitado por povos indígenas aranã e outras etnias de tronco linguístico macro-jê. As atividades econômicas desenvolvidas na região pelos europeus, a partir do século XVIII, desencadearam um rigoroso processo de degradação ambiental. A Mata Atlântica foi e infelizmente continua sendo sistematicamente desmatada para dar lugar à mineração, pastagens e ao agronegócio. Atualmente, a mineração e a monocultura de eucalipto são as principais atividades econômicas, ocasionando graves problemas ambientais e sociais, como escassez hídrica e desemprego.

A intensificação da seca e o desemprego provocaram, ao longo do tempo, episódios significativos de êxodo rural, que afeta homens e mulheres de forma diferente. Com a saída dos homens para buscar trabalho em outros locais, às mulheres coube o cuidado com a casa, o cultivo de alimentos e a criação dos filhos. Buscando encontrar outras fontes de renda para suas famílias, essas mulheres passaram a se dedicar à produção de peças cerâmicas utilitárias e decorativas para a comercialização. Atualmente, a produção artesanal é a principal fonte de renda de várias famílias de Santana do Araçuaí e de outras comunidades.

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