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Pano da costa
Feito em tecelagem manual
Ojá
Feito em tecelagem manual
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Pano da costa
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Pano da costa
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Pano da costa
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Fotos dos produtos: Ricardo Carotta
Sobre as criações
O alaká ou pano da costa tem origem africana e compõe o traje da baiana e a indumentária sagrada do candomblé. De uso exclusivamente feminino, é um pano retangular utilizado de diversas formas, podendo ser amarrado na cintura ou no peito, ou envolvendo os ombros com uma das pontas sobre o peito e a outra nas costas. É produzido em várias cores, liso, com estampas geométricas ou listras, sempre associado a um orixá ou a uma nação de origem. Trazido ao Brasil pelas mulheres escravizadas, possui vários significados sociais e simbólicos dependendo do contexto de uso. Na vida cotidiana, é um distintivo de posição social, podendo ser utilizado também para carregar bebês. Em contexto ritual, no candomblé, é indicativo de hierarquia, pois é utilizado somente pelas ebomis, aquelas que já cumpriram sete anos de obrigação após a iniciação.
Além do alaká, as tecelãs da Casa do Alaká produzem outros dois tipos de peças utilizadas nos trajes rituais do candomblé. O Ojá ou torço, tipo de pano com 20 ou 35 por 220 centímetros, utilizado enrolado na cabeça como um turbante pelas mulheres e o filá, uma espécie de chapéu que compõe o traje masculino.
As peças são tecidas manualmente em teares de pedal horizontais de tipo africano, utilizando linhas muito finas de algodão para que possuam um caimento bonito. A linha do urdume costuma ser a de costura reta, enquanto a trama é tecida com um fio mais grosso. Em alguns casos, utilizam linhas sintéticas para dar brilho, como o dourado, atendendo ao gosto de alguns orixás. As cores escolhidas dependem do orixá a que se destinam e seguem as convenções da nação da casa, que é do candomblé Ketu.
Sobre quem cria
A Casa do Alaká é uma oficina de tecelagem localizada dentro do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador, na Bahia. A Casa foi fundada em 2002, mas o fio de sua história começou a ser tramado em 1986. A fiação, contudo, iniciou-se há muitos anos em outro continente.
Durante os séculos XIX e XX, havia no Brasil a produção de panos da costa seguindo a mesma técnica africana, em tear horizontal de pedal. Como essa produção não conseguia suprir a demanda local, havia uma intensa importação de panos da costa para o Brasil. Esses tecidos eram fabricados em países da costa ocidental do continente africano, e talvez seja daí que venha seu nome. Ao longo do século XX, os panos da costa dos teares tradicionais foram paulatinamente substituídos por tecidos industrializados. Com menos artesãos dominando essa técnica no Brasil e cada vez mais dependendo da importação, os panos tradicionais foram ficando cada vez mais caros. Aos poucos, seu uso ficou praticamente restrito às mulheres com maior poder aquisitivo.
Atenta a esse contexto e sensibilizada por uma viagem que fez à África, Mãe Stella de Oxóssi, então Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, idealizou um curso de tecelagem tradicional para os filhos do terreiro. Seu objetivo era inserir a produção dos panos da costa na casa, para que mais filhas pudessem adquiri-los e usá-los, independentemente de suas condições financeiras. Além disso, também queria valorizar a tecelagem que já existia no Brasil e estava em vias de desaparecer. Assim, em 1986, o mestre tecelão baiano Abdias do Sacramento Nobre ministrou um curso para 18 pessoas vinculadas ao terreiro, que foi todo registrado em áudio e fotografias. Contudo, infelizmente, não foi suficiente para instituir a prática no terreiro.
Em 2002, Mãe Stella fez um novo esforço e articulou um projeto para uma nova oficina no terreiro, envolvendo o Instituto Mauá, o Museu do Folclore Edson Carneiro (RJ) e a BR Distribuidora. Dessa vez, a oficina foi pensada especificamente para ensinar os jovens, além de prever a aquisição de teares. Como desdobramento do projeto, no mesmo ano, duas casas de tecelagem foram criadas em terreiros: a Casa do Alaká, no Ilê Axé Opô Afonjá, e a Associação São Jorge Filho da Goméia, no Terreiro São Jorge Filho da Goméia, localizado em Lauro de Freitas, Bahia. Nesse contexto, a Casa do Alaká foi idealizada com uma nobre missão: perpetuar uma tradição que é um símbolo de resistência e atravessa culturas, continentes, séculos e gerações.
A Casa não tem o objetivo comercial de gerar renda, pois seu papel é preservar a tecelagem tradicional de uso religioso. Por isso, restringe a sua produção às três peças citadas acima e possui uma política de preços que, de acordo com metodologias de precificação, seria entendida como inadequada. Dentro desses princípios, os preços pelos quais os panos são vendidos não dariam conta de cobrir os custos de produção, a manutenção da Casa e a remuneração do trabalho da tecelã. Contudo, a escolha de praticar preços mais baixos tem um objetivo político essencial: mantê-los acessíveis para que os filhos da casa possam usá-los e portá-los em seus ritos, honrando seus orixás e sua tradição.
As vendas, contudo, não se restringem apenas aos membros do terreiro. Turistas, pesquisadores, estudiosos, jornalistas e outros visitantes podem adquirir as peças, que, fora do contexto religioso, passam a ter novos usos. Um ojá, por exemplo, é frequentemente comprado como uma echarpe. Essa abertura da venda para pessoas que não necessariamente têm uma relação com o candomblé é justificada pela intenção de propagar esse modo de fazer, que é entendido pelas artesãs como uma herança cultural do nosso país e que pertence a todos os brasileiros.
Sobre o território
Salvador é a capital do estado da Bahia. Seu nome é um encurtamento de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, uma referência à Jesus, o salvador na fé católica trazida pelos colonizadores portugueses, e ao local onde está, a Baía de Todos-os-Santos. Umas das mais antigas cidades da América, foi fundada em 1549 e funcionou como a capital do Governo Geral até o ano de 1763.
Principalmente nos séculos XVIII e XIX, recebeu um grande contingente de negros escravizados trazidos de diferentes partes do continente africano. Esse longo e triste período da história reflete nas características populacionais da cidade até hoje. Mais de 80% da população de Salvador é autodeclarada negra, o que a torna a capital mais negra do Brasil.
Essa herança deu origem a religiões de matriz africana identificadas por nações, como a Ketu, Angola, Jeje e Ijexá, que possuem particularidades em seus rituais e vocabulários. A religião tem um importante papel nas dinâmicas espaciais e culturais da cidade. Um mapeamento realizado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia registrou, somente em Salvador, 1.165 terreiros de candomblé.