Leonardo Ricart dos Santos
Reconhecido como Mestre da Arte Saramenha, Leonardo trabalha com a transmissão e salvaguarda do saber-fazer da cerâmica centenária e quase extinta, que através de suas mãos persistentes, resiste.
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Sobre as criações
A Cerâmica Saramenha começou a ser produzida no Brasil no século XIX, na Chácara Saramenha, arredores de Ouro Preto. Era grosseira e pesada. Só seria valorizada mais tarde graças a estudiosos e colecionadores como o marchand Paulo Vasconcelos que iniciou uma pesquisa e coleta por cinco anos e colaborou com técnicos do Patrimônio Histórico e Artístico, atordoados com a estranha cerâmica encontrada nas escavações e pesquisas de campo. Com cores que variavam entre o amarelo-ouro e o avermelhado e decorada com desenhos ingênuos. Seu traço marcante, o vitrificado. Uma das mais antigas técnicas de queima e vitrificação, a mesma identificada na Mesopotâmia, uma relíquia em museus. Apesar de projetada internacionalmente, depois da Exposição Internacional de Bruxelas nos anos 70, hoje a cerâmica Saramenha agoniza.
A fábrica foi instalada em 1803 e abasteceu cidades próximas até a proibição da Coroa Portuguesa de se fazer produtos manufaturados no Brasil, antes de 1851. Mas os trabalhadores continuaram a produzir e disseminar a técnica ao longo da Estrada Real, em uma transmissão de pai para filho. Mantida como segredo de família. Consistia no uso de uma argila quase negra, que após queimada se tornava cinza, era vidrada com óxido de ferro e pedra moída derretidos em panelas de ferro adaptadas aos rústicos fornos da época. Considerada extinta em 1982, o pesquisador Pedro Arcângelo Evangelista, conhecido como Petrus, localizou um artesão, ultimo depositário da técnica, Mestre Bitinho, aos 77 anos.
Sobre quem cria
Silvestre Guardiano Salgueiro faleceu em 1998. Antes Seu Bitinho passou seus ensinamentos em um curso em sua oficina, quando Leonardo Ricart dos Santos o conheceu. Foi em 1994. Um ano de convivência foi bastante para assimilar o domínio da técnica. Após atuar em outras áreas, Leonardo trocou de ofício e se dedica exclusivamente à cerâmica. Com o falecimento do mestre Bitinho, a cerâmica Saramenha entra novamente no rol das artes em extinção e Leonardo assume essa missão. A Prefeitura Municipal de Ouro Branco disponibilizou local apropriado para que ele exercesse o ofício: fundam uma oficina e iniciam a queima das primeiras peças. De lá pra cá Leonardo foi se firmando como um novo mestre. Foi reconhecido como Mestre da Arte Saramenha através da Iniciativa Resgate Cultural do Artesanato Mineiro e premiado pelo Ministério da Cultura através do Prêmio Culturas Populares em 2009.
Mas em meados de 2012 o ofício voltava a estar ameaçado. Com o objetivo incansável do resgate e transmissão dessa arte, é criado um projeto em colaboração entre a Agência de Desenvolvimento de Ouro Branco, o Sebrae MG, a FAOP (Fundação de Artes de Ouro Preto), Prefeitura Municipal de Ouro Branco e Gerdau Açominas. Incluiu a construção de um atelier, compra de equipamentos e material para oficinas oferecidas gratuitamente. Inaugura-se a Oficina Escola de Cerâmica Saramenha “Mestre Bitinho” onde Leonardo passa a ser mestre-professor.
Sobre o território
No século XVII, durante o ciclo do ouro, a emigração de portugueses para o Brasil, em especial para Minas Gerais, foi tão grande que diversos decretos foram baixados para regulamentar a evasão: Portugal tinha uma população de cerca de 2 milhões de habitantes e, só naquele século, mais de oitocentos mil portugueses vieram para o Brasil. Vários tinham conhecimento cerâmico e passaram a produzir artigos artesanais rudimentares para uso diário. Com a descoberta de argilas de boa qualidade em várias localidades do estado, fábricas artesanais de louça surgem na província, entre elas, a Chácara Saramenha, a que mais prosperou. Hoje o legado dos antepassados não inclui apenas a técnica mas também equipamentos do século passado, como a roda (torno) e o forno a lenha, bastante rudimentares. A produção segue, ainda hoje, um processo primordialmente artesanal com o uso da maromba para amassar o barro e do moinho para moagem dos pigmentos metálicos. Uma manufatura centenária, legitimamente nacional, que recupera seu vigor e resiste em perdurar.