A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Clélia Lemos 


Clélia Lemos cria estandartes que provocam um grande impacto visual devido à riqueza das cores e texturas, combinadas com harmonia e muita beleza.

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Belo Horizonte – MG

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Sobre as criações

Clélia Lemos cria estandartes, principalmente de santos e orixás de tamanho variados. Suas obras apresentam, com um apurado olhar artístico, o simbolismo religioso do catolicismo mineiro, permeado por forte devoção e ricas manifestações populares. Suas peças causam um grande impacto visual, devido à riqueza das cores e texturas combinadas com harmonia e muita beleza. Criações sofisticadas e intrincadas, suas obras têm chamado cada vez mais a atenção de colecionadores e galeristas. 

O processo de criação de um estandarte de tamanho médio ou grande é bastante demorado, levando no mínimo 20 dias. Começa a fazer o estandarte a partir da imagem do santo, que é uma estampa vendida em lojas de tecido. Prepara a base do estandarte pensando nas cores que vão combinar com a imagem e aplica uma série de materiais, como flores, pedrarias, rendas e crochês. 

Sobre quem cria

Maria Clélia Lemos nasceu no dia 30 de maio de 1953 em Piedade de Ponta Nova, Minas Gerais. Ainda criança, mudou-se para Timoteo, no Vale do Aço. Viveu com a mãe até os 15 anos, quando foi para Belo Horizonte para ajudar sua irmã a cuidar de seus filhos. 

Mais tarde, Clelia iniciou um relacionamento e teve quatro filhos. Como não tinha com quem deixar as crianças, não conseguia trabalhar fora e sempre estava em busca de serviços que poderiam gerar alguma renda. Em umas férias, visitou sua mãe, que sempre estava desenvolvendo algum trabalho manual, como costura, crochê e bordado. Com ela, aprendeu a fazer sapatilhas e flores de tecido. A venda das sapatilhas foi sua principal fonte de renda e, com ela, pode dar uma vida melhor para seus quatro filhos. 

Um dia, uma querida amiga de Montes Claros comprou duas estampas iguais de um santo para fazer um estandarte e deixou uma delas para a Clélia. Com a imagem, Clélia se animou e fez um estandarte para uma exposição de Willi de Carvalho, para ocupar uma parede que ficaria vazia, já que não havia obras em quantidade suficiente para ocupar todo o espaço. As pessoas que visitaram a exposição elogiaram o estandarte pois realmente era muito bonito, mas Clélia conta rindo que ele ainda não foi vendido e está “encalhado” em sua casa até hoje. 

Trabalha produzindo estandartes há 20 anos. Participa de exposições, dá oficinas, faz estandartes para blocos de carnaval e grupos de folias. Uma de suas obras foi presentada ao Papa Francisco em 2015, o que é motivo de muito orgulho. 

Crédito da foto: Theo Grahl

Sobre o território

Belo Horizonte é a capital de Minas Gerais. O estado, cuja colonização foi central para a formação do Brasil, mantém até hoje tradições católicas introduzidas no período pelos portugueses. Os estandartes ou bandeiras eram muito utilizados em festas e procissões de irmandades dedicadas aos diferentes santos, principalmente no século XVIII, período do Brasil colônia. Atualmente, o estandarte continua a ser um objeto muito sagrado nos festejos populares, como Congadas, Maracatus, Festas do Divino e Folias de Reis. 

Os grupos de foliões têm a tradição de fazer seus próprios estandartes com elementos que contam suas histórias, mas o trabalho de Clélia Lemos é tão precioso que chegou a receber uma encomenda do grupo Folia de Reis São Sebastião de Vespasiano, de Belo Horizonte. A obra é cuidada com muito carinho pelo grupo e só participa das folias em momentos especiais. 

Crédito das fotos: Ricardo Carotta

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