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Sobre as criações
As cores ocres das peças da argila – alaranjado, bege, tons de marrom, pintam o cotidiano das artesãs do Conselho Comunitário de Ferreirópolis, em Salinas, Minas Gerais. Sua produção contempla peças utilitárias, como potes, jarros, pratos, xícaras, cumbucas, panelas e bandejas, e peças decorativas, como folhas, casinhas, máscaras e até imagens religiosas. As casinhas e bandeiras enfeitadas com o tema da tradicional festa junina de Salinas retratam a cultura da região. A casinha do João de Barro também chama a atenção de turistas e de clientes nas feiras que participam.
Cada artesã tem uma produção própria, algumas preferem as peças utilitárias, outras gostam mesmo é de produzir imagens, esculturas. É na argila que o sopro da inspiração se faz presente, ganhando forma e cores.
Contam que no início não foi fácil, tinham que buscar o barro na roça com baldinhos, pisar o barro – processar manualmente, fazer os bolos a argila, para só então moldar as peças, trabalho que fazem através da técnica das placas. Abrem a argila até ficar em formato de uma placa, que modelam com instrumentos rústicos como facas, colheres ou sabugos de milho. Algumas peças precisam “subir” aos poucos, como é o caso dos jarros. Após modeladas, as peças precisam secar até ficam em ponto de couro. Depois, precisam secar por cerca de uma semana, até que fiquem firmes e possam receber o acabamento, que é feito com lixa fina e maceração – com ajuda de uma sacolinha plástica, alisam a peça até que fique com aspecto brilhoso. Feito o acabamento, elas levam as peças no forno, que fica na sede da associação. Ficam de 8 a 10 horas no forno à lenha.
“O que nós enfrentamos aqui foi sofrimento, se não tivesse coragem não tínhamos enfrentado. A gente buscava o barro e pisava, molhava, amassava com as mãos. Entrava no mato para buscar lenha. Se a gente não tivesse coragem e gostasse muito, não enfrentava não”. Conta a artesã Joanina, de 78 anos.
Em 2015 conseguiram acessar o Fundo Estadual de Cultura, que lhes permitiu comprar a maromba – máquina que processa a argila. Garantindo o processamento da argila, elas têm mais tempo e energia para se dedicar à produção e a queima das peças.
Apesar das dificuldades, elas contam que com paciência, dominaram a técnica: “A minha primeira panela saiu toda torta. Mas chegando em casa eu fiz um monte de peças. Quanto mais eu faço peça, mais eu tenho vontade”, conta a artesã Joventina, a mais velha e mais produtiva artesã do grupo com 82 anos.
Sobre quem cria
As mulheres são ligadas à associação dos produtores rurais de Ferreirópolis, tiveram uma vida de trabalho no campo e hoje se encontram e realizam através do fazer artesanal.
As artesãs que compõe o grupo começaram a se encontrar em 2014, nas oficinas promovidas por Cláudia Miranda, atual coordenadora do grupo. As oficinas ocorriam dentro de um quadro de projetos da prefeitura de Salinas (MG), ocorreram entre 2014 e 2015 e despertaram o amor à cerâmica nas mulheres, em sua maioria agricultoras aposentadas. Cláudia deu oficinas para vários grupos na região, mas apenas este vingou e continua unido até hoje. “Só elas caíram em terra fértil, essa sementinha aqui de Ferreirópolis”.
A cerâmica já estava na vida de algumas delas há muito tempo, como o é o caso da artesã Saturnina, de 69 anos. Quando jovem, trabalhou em uma olaria, fazendo telhas e tijolos para construções. Trabalhou duro durante anos na agricultura e nas olarias, até se aposentar. Retomou a lida com a cerâmica, agora por gosto e inspiração, nas oficinas da Cláudia. Hoje se sente feliz e cheia de orgulho das peças que produz.
As mulheres se encontram na sede de associação para processar a argila, dividi-la em quantidades iguais para todas trabalharem, fazer a queima das peças e distribuir pedidos e encomendas.
Sobre o território
Ferreirópolis é um distrito rural do município de Salinas, Minas Gerais. Salinas fica no norte de Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha, junto a outros municípios da região compõe o Alto Rio Pardo. O clima da região é semiárido, com logos períodos de estiagem e altas temperaturas.
Os primeiros registros da ocupação do local datam do século XVII, voltado para a criação de gados à margem do Rio Pardo. O local também foi explorado em busca das jazidas de sal-gema, produto precioso à época. Em 1880 é considerada vila com o nome Santo Antônio de Salinas, só passou a categoria de cidade em 1887. Recebe o nome pelo qual é conhecida hoje apenas em 1923. Com população estimada de 40 mil habitantes (Censo de 2022), é composto de quatro distritos: Salinas, Ferreirópolis, Nova Matrona e Nova Fátima de Salinas.
A cidade é muito conhecida pela produção de cachaça, considerada a capital mundial da cachaça. O produto é considerado patrimônio cultural imaterial, com um museu local dedicado à bebida. A cidade também é conhecida pela produção agropecuária, pela festa junina, pelas jazidas minerais e pelo artesanato.