A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Darlindo


Darlindo José de Oliveira Pinto é hoje reconhecido um mestre-de-ofício. Premiado, o mestre trabalha há décadas com a rara matéria prima da balata, com a qual molda nas figuras em tamanho reduzido a representação da fauna e flora da Amazônia, costumes indígenas, do cotidiano da vida ribeirinhas, lendas e mitos da região.

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Sobre as criações

Extraída da baladeira, árvore da família das sapotácias cujo nome científico é Manilkaa Bidentata, a balata é uma matéria prima encontrada somente na linha do Equador, em um estreito raio que alcança cinco municípios no oeste do Pará (Almeirim, Prainha, Monte Alegre, Alenquer e Óbidos). Encontra-se em área de conservação e proteção ambiental, cujo extrativismo é guiado por planos de manejo. As balateiras soltam leite apenas durante três meses do ano – Março, Abril e Maio – quando as chuvas são mais intensas. Época em que artesãos contratam uma equipe formada por seis homens para uma expedição de coleta. Partem com suprimentos para ficarem na mata durante todo o período de chuvas e só retornam quando as elas cessam. Voltam trazendo 1.500 kg da matéria prima, o que garante matéria prima aos artesãos por até 4 anos.

O extrativismo é realizado por pessoas habilitadas, mas há sempre, nas expedições, um homem inexperiente para aprender o ofício garantindo assim a perpetuação do saber e a renovação da equipe de extrativistas. É uma atividade bastante cara. Para mandarem extrair a balata, os artesãos precisam contar com parcerias junto a órgãos de apoio a cultura, única forma de viabilizar a aquisição da matéria prima. É a partir dessa rara seiva que Mestre Darlindo imprime sua imaginação. Traz nas figuras em tamanho reduzido a representação da fauna e flora da Amazônia, costumes indígenas, do cotidiano da vida ribeirinhas, lendas e mitos da região.

Em Belém, nos anos 80, em pesquisas no Museu Paraense Emílio Goulding, adquiriu técnicas que o aprimoraram ainda mais no ofício, em uma época em que não sabia como colorir a balata, e usava tinta tipográfica, tóxica. “A balata não pega pintura, ela é tingida. Usa-se tingimento.” Passou então a usar tinta óleo, usada para pintura de telas e quadros. O mestre cozinha a balata com a tinta que, apesar de tóxica, perde a toxidade no momento do cozimento, permitindo que crianças pequenas continuem manuseando suas miniaturas.

Sobre quem cria

Foi a curiosidade que seduziu Darlindo José de Oliveira Pinto a trabalhar com modelagem em balata. Na época aos 10 anos de idade, tinha um vizinho extrativistas de balata chamado João Boi – o quintal de sua casa fazia fundos com a casa dele. Menino, passava o dia observando ele modelar, confeccionando animaizinhos – boi, vaca, cavalos, macacos, jacaré, bode e outros. Não podia chegar perto, os filhos dele não deixavam e Darlindo se mantinha distante, com medo de apanhar. “Mesmo assim eu ficava brechando do meu quintal, quando eles saiam eu pulava a cerca, pegava um pedaço de balata e ia pra casa tentar modelar do jeito que ele fazia. Depois eu ia no trapiche da minha cidade onde ficava armazenado os blocos de balata que seriam enviados para os EUA – eram várias toneladas que eram exportadas. Eu levava uma faquinha para tirar algumas lasquinhas de balata dos blocos e levar pra minha casa”.

As peças que produzia levava para serem vendidas nos navios que subiam e desciam o Rio Amazonas com passageiros de Belém para Manaus e vice-versa. Com o tempo passou a comprar uma fração da matéria prima de Seu João Boi que lhe rendia algum tempo de produção. Já em Belém realizou formações em gestão, comércio justo, empreendedorismo, qualidade, manejo, design, exportação e outros.

É hoje reconhecido um mestre-de-ofício. Premiado, possui peças no Museu do Folclore no Rio de Janeiro e em 2012 teve uma peça premiada pela UNESCO como Artesanato de Excelência entitulada “búfalo montado”, criada por ele em 1985. Representando o Brasil, viajou para outros países e conheceu praticamente todos os estados do Brasil com seu trabalho. Fechou grandes negócios de exportação e conhece como poucos a produção artesanal do seu estado. Generoso como os mestres o são, Darlindo vem atuando há décadas como um importante articulador, criando oportunidades e apoio a outros mestres e artesãos do estado.

Darlindo José de Oliveira Pinto / Crédito das fotos: Divulgação

Sobre o território

O artesanato de modelagem em balata é tradicional do município de Monte Alegre (PA) e apesar de se tratar de um saber fazer local com tradição de aproximadamente um século, ainda é pouco conhecido no estado, no Brasil, mais ainda no mundo. Sem apoio do poder público local, só em agosto de 2020 a Camara Municipal de Monte Alegre reconheceu como Patrimonio Cultural Imaterial o artesanato de miniatura em balata. É uma cadeia produtiva ativa há mais de 50 anos e que envolve cerca de 50 famílias (direta e indiretamente). Darlindo nasceu, viveu e trabalhou até os quatorze anos em Monte Alegre, quando se mudou para Santarém – onde morou na casa de um amigo e vendia para lojas.

Em 1980, aos 18 anos, mudou-se definitivamente para a capital, Belém do Pará, onde permanece até hoje. Juntos, são hoje em 12 mestres artesãos no estado: seis deles sediados em Belém, cinco em Monte Alegre e um em Santarém. Com apoio limitado do governo federal através do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) enfrentam desafios para manter viva a tradição. Para o futuro o mestre projeta participar de intercâmbios onde possa transmitir seu conhecimento não apenas ao país mas à outras nações.

Como presidente da Federação dos Artesãos do estado do Pará e membro da Confederação Nacional dos Artesãos, sonha em ter a profissão, de artesão, reconhecida no Brasil – a lei No 13.180, de 22 de outubro de 2015, que regulamenta a profissão de artesão, nunca foi homologada. “Então nós não somos reconhecidos como trabalhadores no Brasil. A profissão artesão não existe. Para o futuro desejo que os governantes vejam isso. Mas eles querem que a gente vire microempreendedor. Eu não quero ser empresário, eu quero ser reconhecido como artesão, como trabalhador no Brasil”, afirma o mestre.

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