Fábio e Deise Reis – Imperial Estanhos
Entre as linhas ornamentais do rococó, os ângulos retos e os contornos orgânicos, a produção de Fábio e Deise dá forma ao macio — e eterno — estanho.
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Sobre as criações
De modo recorrente, é difícil dissociar a trajetória dos artesãos de seus territórios. No caso de São João del-Rei, essa relação se mostra ainda mais evidente. A arte em estanho na região remonta ao período colonial do Brasil. Devido à baixa temperatura de fusão da matéria-prima – cerca de 230 graus Celsius –, o estanho era tradicionalmente trabalhado em fogões a lenha.
Na década de 1960, o antiquário inglês John Lionel Walter Somers esteve na cidade e atuou na revitalização da produção em estanho, incorporando técnicas modernas ao ofício. Deise relata que, na cidade, comenta-se que Somers dizia que o sucesso da empreitada só foi possível graças à alta habilidade manual do mineiro. Atualmente, São João Del Rey é reconhecida como a única cidade do Brasil que mantém a produção de estanho artesanal. Em 2013, o professor Antônio Henrique Pollastri Rodrigues, da UFSJ, iniciou o processo para certificação da identidade histórico-cultural do município pela sua produção de arte em estanho – protocolando, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), o pedido de registro da Indicação Geográfica “São João del-Rei” para peças artesanais em estanho.

O processo de produção, na fábrica do casal, é iniciado pela queima do estanho, as formas são moldadas em formas de ferro fundido, moldes permanentes. Só é possível fundir a peça se estiver dentro desses moldes. Com o tempo, eles construíram uma ampla gama de formas, que hoje permite uma grande variedade de peças.
Antes de receber o metal líquido, o molde precisa estar aquecido, para que o estanho se espalhe por completo e preencha todos os detalhes. Após a fundição, retira-se o canal de alimentação e a peça segue para o torno – tanto na parte interna quanto externa.
Quase todas as peças passam por montagem, dificilmente se funde uma peça inteira. São criadas em partes – macho e fêmea – que depois são unidas. Em seguida é preciso dar leveza a peça, retirando o excesso de estanho. Isso tanto por conta da matéria-prima quanto por razões estéticas. A espessura tem papel crucial nesse momento: como o estanho é um material macio, é preciso conhecimento técnico e sensibilidade para encontrar a medida exata. Nesse processo, utilizam-se faquinhas específicas, cada artesão desenvolve a sua própria técnica para confeccioná-las. Em uma única peça, chegam a ser utilizadas até sete faquinhas diferentes.
Depois do torneamento, vêm as etapas de acabamento. As peças podem ser polidas ou foscas (o mais procurado), obtido por meio da imersão em uma solução que é como uma queima leve. Por fim, aplica-se uma camada de cera, que sela e protege o metal.
As peças estão entre o design tradicional e o novo, de estética contemporânea. O primeiro é marcado pelo estilo colonial-rococó, com molduras e detalhes ornamentais; o segundo pelas linhas retas.
O caneco, primeira peça, permanece sendo vendido. O castiçal, licoreira e barril são as peças mais vendidas.
Desde 2018, eles produzem joias, essa produção segue outro caminho. Nesse caso, o estanho derretido é gotejado em água fria em movimento, criando formas orgânicas singulares. Há também peças produzidas com moldes de pedra-sabão esculpida, que garantem texturas únicas as joias.
Sobre quem cria
“(o artesanato) muda a vida da gente – e a gente é feliz fazendo o que faz”, afirma Deise
O trabalho em estanho é indissociável da história da família. A vida deles foi construída em torno da fundição e torneamento. Com apenas três anos de casados, abriram a primeira fábrica, o que intensificou o trabalho juntos.


Este é um dos motivos pelos quais ela valoriza e se empenha em divulgar o ofício. De certa forma, a divulgação cotidiana ajuda a lidar com a preocupação em relação ao futuro do estanho, uma vez que, como tantos outros ofícios manuais, a fundição e tornearia tem a continuidade desafiada pela diminuição do número de artesãos jovens. Deise costuma repetir a cada cliente que entra em sua loja: “Só a gente que faz, só aqui que tem”.
No início, a produção cabia inteira dentro de uma mala, com ela fizeram as primeiras viagens por Minas Gerais. Revezavam-se entre carregar o filho e a mala, Deise diz, em uma viagem entraram em uma farmácia e pesaram os dois. A mala tinha o peso exato do filho do casal, que na época estava com apenas três anos.
Fábio fez, aos 17 anos, o curso de funilaria e tornearia, no Sebrae, onde aprendeu as bases do ofício. Anos depois, realizou cursos no Sebrae voltados à dimensão administrativa do trabalho. Entretanto, segundo Deise, foi dentro das fábricas onde trabalhou que a verdadeira transmissão do saber-fazer aconteceu. Antes de abrirem o próprio negócio, Fábio passou por diversas oficinas – e foi nelas que se formou como artesão.
A cultural local é marcada por essa aprendizagem de chão de fábrica: o conhecimento é passado no ritmo do trabalho, de mestre a aprendiz. “Você só vai aprender estanho apenas em uma fábrica de estanho”, afirma Deise.
Sobre o território
Fundada no início do século XVIII, durante o ciclo do ouro, São João del-Rei é repleta de ruas estreitas e sinuosas, pontes de pedra, casarões antigos e igrejas imponentes – reminiscências do barroco mineiro. A cidade combina áreas de cerrado e campos rupestres, está situada na região de Campos das Vertentes, a cerca de 185 km de Belo Horizonte, sendo atravessada pelo Rio das Mortes e rodeada por serras e matas.
O município foi o local de nascimento de Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira, e integra a rota da Trilha dos Inconfidentes. Do período colonial, preserva um valioso conjunto arquitetônico, tradições religiosas e expressões artísticas e artesanais. Entre essas expressões, destaca-se a produção de estanho, presente em utensílios litúrgicos e domésticos, atividade com raízes no século XVIII.
Esta arte foi revigorada a partir dos anos 1960 com a passagem do antiquário inglês John Sommers, que fomentou o que viria a se tornar o cenário atual: uma produção movimentada por 10 a 20 fábricas e por muitos artesões que se tornaram referência nacional. Diante disso, em 2012, esta produção artesanal recebeu a Indicação de Procedência.
































