Lucinéia de Souza Barbosa
As histórias das pessoas mais velhas, o modo de vida simples da roça e a natureza inspiram as criações de Lucineia de Souza Barbosa, a Néia. Muitas vezes uma lembrança de infância que parecia esquecida reaparece no barro. Mas é o próprio barro que vai buscar a memória.
Mostrar contatos
AbrirFechar
Os contatos devem ser feitos preferencialmente via Whatsapp.
A Artesol não intermedeia relações estabelecidas por meio desta plataforma, sendo de exclusiva responsabilidade dos envolvidos o atendimento da legislação aplicável à defesa do consumidor.
Sobre as criações
“O barro vai mostrando o caminho, o barro que quer modelar, e não eu. Ele me mostra qual é a peça. O barro que se modela na minha mão”.
LUCINÉIA DE SOUZA
As histórias das pessoas mais velhas, o modo de vida simples da roça e a natureza inspiram as criações de Lucineia de Souza Barbosa, a Néia. Muitas vezes uma lembrança de infância que parecia esquecida reaparece no barro. Mas é o próprio barro que vai buscar a memória.
O colorido também vem do barro, que são combinados para criar tantas nuances. O picumã, a fuligem que fica nas telhas que cobrem as peças durante a queima no forno a lenha, dá o preto ou o azul quando misturado com a argila branca.
As benzedeiras que visitava quando era criança, o trabalho na roça e as festas populares ganham forma no artesanato figurativo de Néia. Seu santo favorito, São Francisco, está sempre com os animais e acolhe pessoas necessitadas. Mas é um São Francisco com jeitinho mineiro, que cozinha no fogão a lenha e caminha no mato para apanhar pequi. Outros temas religiosos também aparecem, como presépios e igrejinhas.
Néia é muito conhecida por seus quadros, inspirados nos retratos de parede das casas das avós. Eles parecem dar carne e osso às memórias de personagens queridos e por vezes esquecidos, em cenas de casamento e composições familiares.
Sobre quem cria
Quando tinha 12 anos, Néia morava em Itaobim e passava as férias na casa dos avós, em Taiobeiras. Em um natal, quando sua mãe foi montar o presépio, percebeu que um rei mago havia se perdido. Decidida a resolver o problema, Néia foi à casa de um amigo que trabalhava modelando o barro para encomendar o rei mago que faltava. Esse amigo a incentivou a modelar a peça, auxiliando-a em todo o trabalho. Naquela época, as peças não eram queimadas. Misturava-se papel e algodão com a argila para que ela ficasse mais resistente.
Mudou-se para Taiobeiras mais tarde, no final da década de 1980. Para trazer renda para sua família, que vivia muita dificuldade, virou caixa em um supermercado e fazia lembrancinhas de gesso para vender em datas comemorativas. Depois que casou, começou a fazer parte de uma associação de artesãos.
O incentivo para a produção de artesanato em cerâmica na cidade despertou os conhecimentos que Néia havia aprendido aos 12 anos de idade. Ela iniciou seu trabalho modelando imagens de São Francisco, que foram vendidas rapidamente.
Com saudades do pai falecido, inventou de fazer um quadro inspirado em um retrato antigo que ficava na casa de sua mãe. Foi fazendo devagar, com custo e carinho. Quando terminou, chorou muito de saudade e comoção. Levou a peça a uma feira para expor, sem a intenção de vender. Uma cliente se emocionou muito ao vê-la e insistiu tanto para ficar com ela, que não houve jeito.
Néia vive uma vida simples junto à natureza. Faladeira, gosta de conversar com tudo e todo mundo, com as plantas e com os animais. Assim, do mesmo jeitinho que seu amado São Francisco.
Sobre o território
O município de Taiobeiras está localizado na região Norte de Minas Gerais, na microrregião do Alto Rio Pardo. O povoado que deu origem a Taiobeiras era lugar de passagem para as estradas que ligavam Teófilo Otoni aos municípios do sertão da Bahia, Brejo das Almas e Montes Claros. O local foi se tornando um entroncamento de tropeiros e viajantes que iam e vinham destas localidades.
Em 2008, a Associação dos Artesãos de Taiobeiras (Associart) procurou apoio do Sebrae Minas e da prefeitura para incentivar a produção artesanal da cidade. Após pesquisas de matérias-primas disponíveis, verificou-se que a argila vermelha era facilmente encontrada na região. Para começar a produção, o grupo “Mãos que modelam” foi criado com 18 artesãos e, entre eles, estava Néia. Foram realizados cursos de gestão e de aprimoramento, que incluiu visitas técnicas às comunidades de Coqueiro Campos e Campo Alegre, localizadas no Vale do Jequitinhonha. A partir desse trabalho, a produção de cerâmica foi se consolidando e se tornou uma identidade cultural de Taiobeiras, reconhecida em todo o Brasil.