A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Mestre Aberaldo


Aberaldo sempre lidou com madeira. Hoje, se concentra na figura humana, de corpo intencionalmente deformado, quando não disforme ou até fantasioso, com uma expressividade que se tornou marca registrada em sua obra.

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Ilha do Ferro, Pão de Açúcar – AL

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Sobre as criações

Foto: Divulgação Artesol

Aberaldo sempre lidou com madeira. Mas foi no início dos anos 80 que começou a esculpir peças para vender, cabeças humanas. Alguns amigos de Maceió o visitaram, viram o trabalho e levaram para a capital. Lá, passaram a vender para os turistas. Desde então não parou mais de esculpir. Se concentra na figura humana, de corpo intencionalmente deformado, quando não disforme ou até fantasioso, com uma expressividade que se tornou marca registrada em sua obra. A paleta de cores é harmoniosamente vibrante.

Com a ajuda da filha Mariana na interlocução com o mercado, o mestre trabalha hoje com uma tabela de preços para atender de forma justa cada perfil de cliente: o consumidor final e também o lojista. Conhecem e entendem o trabalho e despesas que o lojista ou representante assume para desempenhar esse papel nessa cadeia. Diferente do irmão que partiu da terra natal, Mariana resiste no povoado onde nasceu, ao lado do pai e da mãe Vânia, que se dedica ao bordado boa-noite – um fazer tradicional vulnerável, em risco de extinção.

Sobre quem cria

Crédito da foto: Itawi Albuquerque

Aberaldo conta que toda a geração de artesãos de antigamente trabalhavam com artesanato. Os pais, avós, toda a família produzia. “Um conhecimento muito antigo, de quando todo mundo sabia fazer alguma coisa”. Na época não havia transporte. Tudo se dava através dos rios. E pelas águas do Velho Chico era o avô quem fazia o transporte de todas as coisas, a bordo das duas canoas feitas com as próprias mãos. O pai também era fazedor de barcos, fonte de inspiração ao filho, hoje escultor. “As pessoas me perguntam com quem eu aprendi a fazer artesanato e eu não acho que eu aprendi com alguém, com uma pessoa, mas é um dom que vem com a família.”

Casou muito novo, trabalhou muito tempo na roça, ajudando o pai. Não dava para se sustentar com o trabalho de artesanato. Mas de uns 10 anos pra cá diz que muita coisa melhorou. A Ilha do Ferro transformou-se um dos mais importantes e expressivos polos de produção de arte popular do Brasil. Aberaldo e outros artistas da “Ilha” usufruem de um presente próspero, vivem bem com o legado desse sertão cheio de herança, memória, cultura e arte.

Não se esquece de citar o fotógrafo alagoano Celso Brandão como uma das pessoas mais importantes na divulgação do seu trabalho e de outros artistas da Ilha, e também Tania Pedrosa, a Pousada do Toque, dos proprietários Nilo e Gilda. Em 2017 através da curadoria de Marco Aurélio Pulchério integrou a galeria de arte popular na novela da Rede Globo, A Lei do Amor. Foi uma importante divulgação que o lançou nacionalmente e possibilitou, tardiamente, ser reconhecido em sua própria comunidade. Era anônimo no povoado até então, mesmo com suas obras “povoando” importantes coleções de arte, galerias e museus no país. “Nunca imaginei chegar onde cheguei com o artesanato.”

Sobre o território

Aberaldo é nascido e criado na Ilha do Ferro, Alagoas, um povoado às margens do rio São Francisco, isolado até os anos 80. Entranhado em plena caatinga, ele utiliza variedades de madeira da região: mulungu, craibreira (ipê amarelo que se encontra na encosta do riacho), umburana (uma das melhores, porque nunca dá “bichinho”), pereiro (“amarelenta”). Se alegra em oferecer possibilidades mais nobres para materiais tão simples. Em seu atelier, no quintal colado a sua casa, fala orgulhoso do jardim com muitas plantas. Dedica-se a elas. E é lá que expõe suas peças. Nessa galeria a céu aberto acomoda generosamente obras de outros artistas locais, colegas, amigos. Com uma privilegiada localização (sua casa se situa na rota de exploradores curiosos que tem nesse cenário único um ponto de parada) – sua propriedade é hoje uma hospedagem singular, de portas abertas para turistas, lojistas, pessoas que passam. “Você sai da Ilha do Ferro e não existe em outro lugar do Brasil o que você encontra aqui”.

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