A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Mestre Cornélio


Mestre Cornélio é um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. Suas imagens geralmente reproduzem símbolos locais e figuras humanas. Apesar de seguir a importante tradição de arte santeira dos mestres escultores do estado, os totens se tornaram sua marca registrada.

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Sobre as criações

Após uma ampla pesquisa que resultou em um Manual de Aplicação, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), reconheceu a Arte Santeira do Piauí como patrimônio nacional. O manual se constitui em ferramenta teórico-metodológica do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) para identificação, documentação e registro desse patrimônio na categoria ofício e modos de fazer. É considerado pelo IPHAN um instrumento indispensável no processo de identificação de bens culturais que possibilita a preservação e salvaguarda de bens culturais de natureza material e imaterial. No manual foram catalogados 45 santeiros denominados “Senhores de seu ofício: arte santeira do Piauí”. Entre eles, Mestre Cornélio, um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. 

Reconhecido como mestre de ofício pelo Governo do Piauí, Cornélio passou a representar junto com Mestre Expedito, o artesão mais antigo na tradição santeira do Piauí, após o falecimento de Mestre Dezinho no ano de 2000. Suas mãos habilidosas são capazes de dar forma a esculturas em madeira com impressionante riqueza de detalhes feitas com batidas precisas em pedaços de cedro e pequi já beneficiados. Suas imagens geralmente reproduzem símbolos locais e figuras humanas e apesar de seguir a importante tradição de arte santeira dos mestres escultores do estado, os totens se tornaram sua marca registrada.

Sobre quem cria

Filho de carpinteiro e marceneiro a história de Cornélio com a madeira é longa, e começa cedo. De família muito humilde, começou a ganhar intimidade com a madeira por necessidade: “Era uma época de muita dificuldade”. Aos 12 anos mudaram-se para Teresina e por volta dos 15 passou a fazer parte de um grupo de jovens. Em 1973 o pai foi contratado para a construção do teto da igreja São João Evangelista, a “Igreja do Parque” como é conhecida e ele foi convidado a trabalhar junto, como ajudante. Começa aí sua iniciação artística. O padre, um italiano, o pediu que executasse a imagem do Cristo. Cornélio achava que não conseguiria mas o pároco insistiu: certo dia, bem cedo, foi até a pequena marcenaria onde o pai trabalhava nos fundos de sua casa levando um jornal. Bateu à porta e mostrou a figura do mestre escultor cearense Carlos Barroso (já falecido), que estava desabrigado na praça, precisando de trabalho. Anunciou que ele o ajudaria. E juntos, esculpiram o Cristo da igreja em galhos de cajueiro de tamanho natural. Assim iniciou sua vida de santeiro. 

Cornélio não pretendia seguir na arte, mas o padre insistia. O convenceu a esculpir uma Pietá na casa de um médico. Ao finalizar a obra ambos reforçavam que ele seguisse no ofício. Ele não queria, mas aos poucos foi tomando gosto. O renomado ator e dramaturgo piauiense Tarcisio Prado, comprava suas peças como forma de incentivo. Mas o pai passou a reclamar que ele andava ausente, ficava só pela rua trabalhando. Cornélio se zangou e parou de esculpir. Mas o pároco voltou a sua casa e o convenceu que voltasse, dizendo que o pai ficaria velho e que Cornélio teria que ter uma profissão. Ele enfim acabou se apaixonando pela arte e com o trabalho conseguiu vencer as dificuldades. Aos poucos foi ganhando reconhecimento. Foi premiado no Salão de Artesãos Piauienses (1974) e em 1978 foi mencionado no primeiro livro O Reinado da Lua, resultado da pesquisa de Sílvia Rodrigues Coimbra, Flávia Martins e Maria Letícia Duarte, que saíram a campo entre 1975 e 1980 pelo nordeste para documentar a realidade singular dos artistas populares. Mais tarde foi mencionado na publicação Arte Santeira Piauiense. Foi novamente premiado no II Salão Universitário de Arte Santeira e no VII Salão de Artes Plásticas do Piauí, em Teresinha PI (1981). Participou de mostras nacionais e internacionais no Rio de Janeiro (1976), Teresinha (1976), Salvador (1980 e 1981), Brasília (1987), São Paulo (1987 e 1988), Córdoba – Argentina (1995) onde foi reconhecido melhor do mundo entre artesãos de 21 países e mais recentemente em Curitiba – PR. O padre sempre dizia que um dia, sua arte o levaria a conhecer sua terra natal na Itália. Surpreendentemente Cornélio foi convidado em 1999 pela Câmara Comercio Exterior São Paulo – Itália para representar o Brasil em uma viagem para a cidade de Pádua, terra natal do padre italiano. Uma lembrança que sempre o impressiona. E a vida seguiu. Sua persistência e capacidade criativa o levou a ser reconhecido no Brasil e exterior. Com um estilo próprio, suas peças são praticamente um privilégio de colecionadores que ousam aguardar pela produção de uma encomenda. Diante do reconhecimento e valor que sua obra alcançou, chega a achar graça de algumas estratégias comerciais que já presenciou: “Me mataram muitas vezes. Me tornaram analfabeto. Para as peças valerem mais. Mas que história é essa?”

Aos 62 anos Cornélio reconhece as conquistas que a arte lhe trouxe: “Pra começar não fiz estudar, não completei o ensino médio completo, precisava trabalhar (…) a arte trouxe esse prazer de ter o talento, comecei a ser reconhecido pela tal criatividade, criei um estilo próprio e sempre digo: seja feio mas seja você mesmo”. 

Sobre o território

José Cornélio de Abreu é nascido no município de Campo Maior em 1956. Trabalha em um espaço pequeno dentro de casa: “O atelier de artesão humilde é uma oficina como de qualquer outro. Atelier parece chique demais e o artista de verdade nunca fica rico porque ele não rouba, ele faz um trabalho”. Emociona-se ao rever quão distante a arte o levou e o valor desse legado: “Um dia minha filha estava em sala de aula e a professora falando desse assunto perguntou se alguém conhecia Mestre Cornélio. Ela levantou a mão e disse que era seu pai mas ninguém acreditou. Então a professora pediu que ela o convidasse à ir a escola para que falasse aos demais alunos. Isso tem um valor enorme!”

Fonte: Arte Popular Brasil Feira Nacional de Artesanato / Piaui 2008 / Casa Claudia / Artesanato Piauense

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