A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Mestre Dim


Mestre Dim é um dos mais expressivos representantes da arte santeira do Piauí. Tem mais de quarenta anos dedicado ao ofício. É autor de muitos santos e esculturas com temas da cultura popular, como bandas de pífanos, bumba meu boi, reisados, além de figuras do imaginário nordestino como o vaqueiro, o sanfoneiro, os jangadeiros.

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Sobre as criações

Reconhecida como patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Arte Santeira do Piauí se configura um ofício e modo de fazer próprios. Dos 45 santeiros catalogados após essa ampla pesquisa que resultou em um Manual de Aplicação do IPHAN denominado “Senhores de seu ofício: arte santeira do Piauí”, mestre Dim é um de seus mais expressivos representantes. Autor de temas populares, bandas de pífanos e outros que caracterizam o nordeste, como a figura do vaqueiro, do sanfoneiro, dos jangadeiros, temas da cultura popular, como bumba meu boi e reisado, e muitos santos.

Sobre quem cria

Raimundo Ferreira Lima iniciou sua arte santeira em 1979, aos 14 anos, sob orientação de Mestre Dezinho. Mas começou mesmo a se envolver com artesanato através de um vizinho que esculpia peças em madeira. “Não como os artistas, eram mais rústicas”. Dim ficava observando. Não sabia quais ferramentas ele utilizava, mas o interesse o levava a pegar as chaves de fenda da mãe, aguardando a oportunidade de usá-las em tentativas de esculpir. Mantinha-as escondidas próximo a porta e quando a mãe saía para trabalhar ele a acompanhava, levando junto a ferramenta. Enquanto ela lavava roupas, escondido, o menino brincava de esculpir pedaços de madeira. Tinha apenas uma chave de fenda de cabo amarelo e uma faca de remendar bola, usada como talhadeira. Guarda as fotos das primeiras peças produzidas com as ferramentas. Dizia ao vizinho que queria aprender, mas ele não tinha tempo e sugeriu: “Porque você não procura o Mestre Dezinho?”. Assim o jovem Dim fez.

Mestre Dezinho morava em um bairro vizinho. Foi pedalando, de bicicleta. Chegando lá viu que o Mestre tinha a ajuda de muitos meninos. Não podia ensiná-lo, não havia espaço. Dim passou então a pegar pedaços de madeira e ficar imaginando como o mestre fazia suas obras. Três meses depois, retornou. Levou suas “ferramentas” e chegando lá encontrou facas bonitas. Sem constrangimento, perguntou: “Mestre, como você faz isso?” mostrando o anjo que tentava reproduzir. O mestre respondeu: “Olha, isso aqui não é pra enricar não, é pra ganhar o pão do dia-a-dia. Venha e comece amanhã”. A felicidade do jovem foi tamanha que no dia seguinte, ao sair da escola foi direto para o atelier. Bateu à porta antes das 13h30, horário combinado. Mal sabia que era uma prática que o mestre detestava que fizessem – ele gostava de descansar após o almoço e se aborrecia quando o interrompiam. 

O pai de Dim era carroceiro – tinha uma carroça puxada por burro. Juntava madeira. Não queria o filho trabalhando com artesanato – queria que ele fosse médico, engenheiro: “Eu já saí do mato e você vai mexer com pau, com madeira?” Mas Dim seguiu seu impulso e aprendeu com seu mestre o ofício de esculpir. Foram dez anos. Entendeu o que era um formão, como amolar uma faca. Saiu para seguir seu próprio trabalho mas estava sempre por lá para ajudá-lo. Nessa época Mestre Dezinho já tinha bastante idade. 

Dim gostava da arte, dedicou-se a ela, nunca desistiu. Exigiu luta e sacrifício. Hoje procura ensinar, ser um multiplicador. Começou no quintal de casa, com os amigos dos irmãos que se interessavam. Por anos ensinou em presídios, menores infratores, meninos de periferia. Foi convidado em 1989 a fazer uma exposição individual, levou com ele meninos do grupo de risco do bairro para expor. Em 2019 foi convidado para a inauguração do Museu Janete Costa em Niterói – foi, mas levando os trabalhos de seus aprendizes. Orgulha-se em ter proporcionado a oportunidade de alguns seguirem na arte, tornando-se grandes artesãos. Dim participa de feiras no Brasil e fora. Esteve em várias edições do Piauí Sampa, feiras nacionais do PAB em São Paulo, Minas Gerais, Fenearte. Seus trabalhos já foram apresentados em diversas exposições, destacando-se no IX Salão de Artes Plásticas do Piauí, 1983, onde recebeu o primeiro lugar na categoria escultura. Possui trabalhos nos Estados Unidos, Venezuela e Equador. É premiado em participações nos melhores Salões de Arte de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba, Recife e Belém. Em 2008 recebeu um Prêmio pelo IPHAN e Ministério da Cultura que contou com 1300 inscrições e apenas 90 ganhadores. Foi pra Limoeiro do Norte, Ceará, representando o Brasil em um encontro com 150 mestres no mundo todo e foi citado no livro Eu Me Ensinei de Edna Matosinho. Além de escultor, Dim hoje atua na oficina de jovens artesãos como consultor. Aos 54 anos, completa 40 dedicados a arte santeira: “Durmo e acordo fazendo artesanato. Minha mãe brigava, não queria que eu fizesse isso, e hoje ela chora quando vê o meu trabalho”. 

Mestre Dim / Crédito das fotos: Divulgação

Sobre o território

A atuação dos santeiros no Piauí acontece de norte a sul do estado, ainda que a maioria deles esteja concentrada na capital, Teresina, berço do reconhecimento dos trabalhos de Mestre Dezinho e Mestre Expedito. Nascido em casa, em Teresina, em 1965, Dim permanece morando e trabalhando no bairro onde nasceu, Monte Castelo. Bem próximo ao Centro da Cidade, a cerca de 4km, o bairro concentra grande número de artesãos em madeira. Em um raio de 2km, pode-se conhecer a oficina de uma dezena de artistas santeiros. Um deles é Mestre Dim. Aluno do famoso Mestre Dezinho e agora professor de muitos. “A oficina é o lugar onde nasci e vou morrer ali, na rede balançando”. E segue com planos: “Tem que esperar o futuro (…) Ter coragem e força e pensar pra frente, ter compromisso com a arte, com o artesanato tradicional (…) É pra lembrar, porque eu sou um menininho que sonhou em vencer na vida, que era picolezeiro, engraxate, lavador de carro. Pro futuro quero me sentar e pensar pra frente mais e trabalhar. E ser um multiplicador”. 

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