A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Nei Leite Xakriabá


Nei Leite pertence ao povo Xakriabá. Resgatou em seu trabalho a cerâmica tradicional do seu povo, aprendendo com os mais velhos, repassa esses conhecimentos aos mais novos, seu alunos.

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Sobre as criações

A cerâmica Xakriabá ficou esquecida por mais de 40 anos. O contato com a sociedade não-indígena trouxe violência e utensílios industrializados que aos poucos foram substituindo as cerâmicas utilitárias. As últimas peças que permaneceram em uso foram as moringas que armazenavam água. Com a chegada da luz elétrica e da geladeira, nem elas resistiram.

Apesar de as cerâmicas terem deixado de fazer parte do dia a dia, o conhecimento para produzi-las ainda estava vivo. Nei Leite Xakriabá conversou com os mais velhos de sua comunidade em busca das técnicas tradicionais. Com os conhecimentos adquiridos, começou a modelar moringas. Para despertar o interesse das pessoas de sua comunidade, desenvolveu tampas com a forma de animais do cerrado, inspirado pelas figuras de barro que sua mãe criava. Além das tampas, Nei melhorou o acabamento e passou a decorar as peças com grafismos da pintura corporal.

Os xakriabás respeitam os ciclos da natureza e o tempo do barro, aprendido com seus antepassados. O barro é coletado em diferentes aldeias, sempre do quarto crescente para o cheio da lua para que seja resistente. Na época dos brotos, que começa em agosto, o barro não deve ser retirado. Esse período termina em abril, quando a época chuvosa tem fim. Quando se dedicam à agricultura, no período chuvoso entre outubro e abril, os xacriabás quase não produzem cerâmica. Por isso não é possível atender a pedidos com prazos urgentes de produção.

Sobre quem cria

Vanginei Leite Silva, conhecido como Nei Leite Xakriabá, foi escolhido pelas lideranças indígenas para ser professor na escola indígena da aldeia devido a sua percepção sobre importância das práticas culturais. Quando começou a dar aulas, pensou que seria importante conhecer a prática para passar para os alunos. Aprendeu a modelar o barro com a mãe, Dona Dalzira, que por sua vez aprendeu observando sua avó trabalhar quando tinha seis anos de idade.

Nei se aprofundou na prática da cerâmica quando fez a licenciatura para professores indígenas oferecido pela UFMG. Seu trabalho de conclusão de curso foi sobre a cerâmica xakriabá e, em vez de escrever um texto acadêmico, propôs a realização de uma exposição com peças produzidas em oficinas e a escrita de um manual de cerâmica com imagens, para que as pessoas de sua aldeia que não soubessem ler pudessem aprender a técnica. Para escrever o manual, Nei entrevistou as pessoas mais velhas de sua comunidade que ainda guardavam nas memórias os conhecimentos cerâmicos dos xakriabás.

Descobriu, nesse processo, um método de queima a céu aberto. Fez testes e percebeu que funcionava. Os xakriabás não derrubam árvores para fazer lenha, apenas coletam galhos secos. Como a queima com forno a céu aberto necessita de muita lenha, o professor Rogério Godóy da UFSJ levou um forno catenário para a aldeia, por ser muito mais econômico.

Nei ensina as técnicas tradicionais para seus alunos na escola indígena. Como o tempo de 50 minutos não permite a transmissão de conhecimentos que respeitam os ciclos da natureza, começou a realizar as aulas nos finais de semana, com o formato de oficinas.

Seu objetivo principal é fortalecer o conhecimento sobre a cerâmica para que as pessoas voltem a fazer e a usar esses objetos no dia-a-dia. Mas a geração de renda também é um fator importante, pois a região em que vivem os xakriabás é muita seca e é comum deixarem a aldeia para trabalhar na agricultura.

Atualmente, muitos xakriabás estão usando as cerâmicas e há um grupo de mulheres que produz peças, vendendo dentro e fora da aldeia. Suas obras levam conhecimentos aos não-indígenas, contando uma história de violência, luta e resistência para quebrar estereótipos sobre as populações indígenas.

Nei Leite Xakriabá / Crédito das fotos: Divulgação

Sobre o território

A Terra Indígena Xakriabá foi demarcada em 1987 após uma chacina, em que três indígenas foram mortos, incluindo o vice-cacique. Está localizada nos municípios de Itacarambi e São João das Missões, no norte de Minas Gerais. Demarcada com 46 mil hectares, o número correspondia a um terço do território tradicional xakriabá, que antes também viviam no Piauí, Bahia e Goiás. A luta para reaver seu território continua por meio de retomadas de terras ainda não demarcadas, enfrentando muita violência cometida por fazendeiros.

Na Terra Indígena existem 40 aldeias, com cerca de 15 mil habitantes. O nome Xakriabá significa “bom de remo”, mas a Terra Indígena fica distante 40 quilômetros do rio São Francisco. A construção de uma barragem na região na década de 1980 provou a perda de áreas cultiváveis, impedindo também o acesso a riachos. Como a terra está em uma área de semiárido, com chuvas escassas, os xakriabás enfrentam graves problemas de acesso à água.

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