Oleiras do Candeal – Associação Quilombola dos Artesãos e Agricultores Familiares das Comunidades Olaria e Cupim
Oleiras do Candeal é um grupo de mulheres que trabalham o barro em sua essência. Remanescentes quilombolas, elas desenvolvem todas as peças como aprenderam com suas mães e avós: da coleta do barro, à queima e pintura, todo processo é manual e utiliza ferramentas singelas.
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Sobre as criações
Na comunidade de Olaria, o trabalho com barro é uma tradição secular. Para seus ancestrais, as peças em barro eram feitas para uso doméstico e armazenamento de água, e também para serem trocadas por alimentos com atravessadores, que vendiam as peças em outras localidades próximas onde ainda não havia água encanada.
O perfil do produto não foi muito alterado até hoje. São feitos manualmente, sem uso de tornos, com o barro da região retirado dos mesmos barreiros que utilizavam suas avós. São potes, vasos, pratos, cumbucas, moringas e travessas, sendo adaptadas às novas demandas.
As pinturas também remetem aos traços antigos de suas avós, preparadas com a argilas avermelhadas, pretas e rosadas, que recebem uma pintura chamada Toá – um preparado de argila com o qual elas pintam símbolos como o Caracol, elemento marcante na identidade do grupo.
Como diz Nilda, “Na cabeça da gente já está aquela forma de antigamente. Eu faço a pintura como a minha avó. Magna também faz as pinturas da avó dela”.
O processo de produção leva, em média cinco dias e é feito da seguinte maneira: Coleta do barro úmido, que é transportado em carrinho de mão ou mesmo na cabeça. Ao chegar ao galpão de trabalho, o barro é seco por 1 dia inteiro, se houver sol. Depois, o barro precisa ser quebrado, atividade que faziam manualmente, e passaram a utilizar máquina apenas em 2022. Para modelar as peças, o barro é umedecido e amassado “como massa de pão”, antes de dar a forma desejada. Utilizam ferramentas simples como a Cucheba, uma espécie de colher feita com cabaça para arredondar, aparas de cana-de-açúcar para cortar as bordas dos potes, e a semente Olho-de-boi para dar polimento, além de cortes de tecidos para alisar.
Em seguida, elas ficam em repouso para secar novamente e, assim, receber o Toá, que pode ser vermelho, amarelo, preto ou branco. São feitos das argilas em um processo de coar e ferver repetidamente até ficar com a textura adequada para tinta. Para fazer os desenhos, utilizam um talo de Mamona. Já pintadas, as peças vão ao forno para fixar a pintura e garantir a firmeza e durabilidade. Para queima, são utilizadas apenas madeiras secas, já caídas no Cerrado.
Após a queima, para testar a qualidade da peça e do barro utilizado, elas batem o pote com as mãos e, se for bom, fará um som de sino, limpo e agudo.
Sobre quem cria
Atualmente a Associação é composta por 12 mulheres artesãs e agricultoras familiares, que aprenderam a trabalhar com o barro com suas ancestrais, e se orgulham muito do trabalho tradicional, rústico, totalmente manual e sem uso de tornos ou maquinários.
Entre os anos de 1998 a 2003 a Artesol, então Comunidade Solidária, atuou no território com o antropólogo Ricardo Lima em projetos pela estruturação e salvaguarda dessa produção. Ainda, com o apoio da Artesol, conseguiram realizar a construção do Galpão da Olaria, onde armazenam e queimam as peças em um forno pequeno e dois fornos grandes, feitos com tijolos de adobe e barro, conforme a tradição.
O galpão é todo pintado com as formas que usavam suas avós em homenagem ao conhecimento tradicional, que é tão importante para as mulheres envolvidas. Isso porque artesanato na comunidade é, além da tradição, uma renda fundamental, pois a região não oferece muitas oportunidades de trabalho formal. Por isso, o grupo passou a oferecer oficinas, alimentação e hospedagem aos turistas que passam por ali, oferecendo uma vivência típica da comunidade. Até os chalés construídos para hospedagem são feitos em tijolos de adobe e cobertura de palha, para honrar toda a tradição.
Os homens da comunidade também trabalham o barro, mas apenas para produção de tijolos e telhas.
Sobre o território
“As pessoas de antigamente, no caso os nossos avós, moravam em terras particulares onde trabalhavam na época, plantando milho, feijão, arroz e mandioca. Então, eles não tinham terra própria, né? Aí, quando eles foram saindo dessas terras, por vontade própria, eles foram se apropriando desse local que hoje é Olaria. Hoje, nós que somos netos, moramos no mesmo lugar, que é uma comunidade de mais ou menos 53 famílias.”
As Comunidades Quilombolas Olaria e Cupim são certificadas como Comunidades Quilombolas desde 2022, em um território a 12 km do centro do município de Cônego Marinho, no norte de Minas Gerais. É uma comunidade simples, na zona rural, formada por familiares que alternam suas atividades entre o barro e a roça, para a produção de alimentos para a comunidade.
O território está situado a 60 km do Parque Estadual Veredas de Peruaçu, onde há muitas pinturas rupestres. Segundo Nayane, as semelhança entre as pinturas presentes no parque e as pinturas das peças em barro são objeto de estudo de historiadores.