A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Paulo Paiva 


A partir de resíduos de madeiras nobres utilizadas para fazer instrumentos musicais, Paulo constrói joias em madeira a partir da técnica da marchetaria tradicional.

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Sobre as criações

A partir de sobras e resíduos de madeiras nobres utilizadas para fazer instrumentos musicais, Paulo constrói joias em madeira a partir da técnica da marchetaria tradicional.  

Luthier e marceneiro, produz instrumentos acústicos de cordas dedilhadas, como violões, cavaquinhos e bandolins há mais de dez anos. Fez diversas formações com luthiers e especialistas na produção de instrumentos, e em 2010 abriu sua oficina, que foi durante oito anos dedicada à luteria, a produção dos instrumentos musicais. Ele se apropriou e ressignificou algumas das técnicas aplicadas na luteria, dentre elas a marchetaria tradicional com blocos, para a produção de biojoias. Para essa produção, utiliza apenas as madeiras que sobraram dos anos de trabalho como luthier, assim como madeiras doadas por amigos, e móveis de madeira nobre, que compra ou encontra nas suas andanças por São Paulo. “Não compro madeira nova, comercializada”, ele afirma.  

Na luteria, as madeiras utilizadas são nobres e certificadas, sendo assim, valiosas. Um diferencial do seu trabalho é reaproveitar até o último pedacinho dessas madeiras: Pau-Brasil, Jacarandá, Roxinho – utilizado para fazer escala de cavaquinhos, Peroba, Pau Marfim, Coração de Negro, Imbuía, Olho-de-Passarinho, Ébano, Frejó, Cerejeira, Pau-Ferro, Mogno, Maple, Faia, entre tantas outras espécies de madeira. 

Começa reunindo as sobras e resíduos de madeira, que seguem as características do nobre material: os sentidos dos veios, a combinação das cores entre elas, e ressalta até o perfume que são características de algumas madeiras, como a cerejeira. Em seguida, ele lixa os pedaços de madeira para reduzir as irregularidades, e depois os uns aos outros, formando uma sequência de várias cores e tamanhos de madeira, colando-os. Essa espécie de “sanduíche” de madeiras reúne pedaços de diferentes formatos e texturas. Depois de colado, ele corta o bloco na serra básica, retirando dele uma lâmina, composto pelas diferentes madeiras. As lâminas, uma espécie de mosaico de madeiras, são usadas para confeccionar brincos, colares, pulseiras, caixas e incensários, finalizadas com acabamento natural, sem uso de vernizes sintéticos ou pigmentos. 

A composição das madeiras e a construção das peças ocorrem a partir da criação livre do artesão, uma das características que mais gosta de seu trabalho e que torna cada peça única, sem molde nem repetição.    

“Muitas peças eu decido o que fazer na frente da lixadeira. Gosto de trabalhar de maneira livre e abstrata. Trabalho seguindo as cores e sentidos dos veios. Me sinto muito feliz e realizado, é uma produção intuitiva e espontânea. Quero torná-la cada vez mais livre.” 

Algumas das peças, como os colares, tem dois lados, ressaltando assim a versatilidade e inovação no design, obra de um autor inventivo e que tem muita intimidade com o material central na sua produção, a madeira. 

“Minha paixão é trabalhar com as madeiras”. 

Sobre quem cria

Paulo Henrique de Sousa Paiva é nascido e criado em São Paulo, capital. Filho de mãe portuguesa e pai cearense, teve desde criança contato com a arte e os fazeres manuais na família. Seu avô materno trabalhava com vime, em um trançado tradicional da Ilha da Madeira, já sua avó fazia o bordado madeira, característico da Ilha, e que foi ensinado a mãe de Paulo. O pai trabalhou com artes gráficas, na tipografia. A arte e o artesanato continuam na família na sua geração: um dos seus irmãos é desenhista, e outro faz brinquedos em madeira.  

A madeira sempre o encantou, e cedo ele se interessou pela marcenaria. Quando tinha 18 anos, foi trabalhar na marcenaria da Móveis Teperman. Tomou gosto e decidiu se aprofundar no estudo e na lida com o material. Fez curso de marcenaria no SENAI, além de muitas oficinas em restauração de móveis, cursos de espécies de madeiras brasileiras, de marcenaria tradicional. Conheceu e fez aulas com especialistas em marchetaria, técnica trazida pelos Jesuítas ao país, que consiste em encaixar pedaços ou lâminas de madeira, formando desenhos.   

A luteria entrou em sua vida unindo a paixão pela madeira e pelos sons, ele que já tocava violão desde a adolescência. Foi a um sarau na casa do conhecido luthier Manoel Aparecido Andrade (falecido em 2013). Se encantou pelo sarau, pelo ambiente e pela arte de construir instrumentos. Fez cursos de construção de violão. Foi experimentando em seus próprios instrumentos, “fui soltando algumas partes dos meus violões e remontando”, ele conta.  

Foto de divulgação Artesol

Em 2010 montou o ateliê Jacarandá Brasil, de produção de instrumentos de cordas dedilhadas, onde produzia cavaquinhos, violões e bandolins. Fazia reparos e restaurações em instrumentos dedilhados que não fossem acústicos, como guitarras. Mas não eram seu forte. 

Em 2018 uma amiga o mostrou trabalhos em biojoias em madeira, e ele decidiu experimentar e produzir as peças com as sobras de madeira dos instrumentos. Produzia e vendia em consignado para lojas em Paraty/RJ e na Bahia. O trabalho como artesão, no entanto, era dividido com uma rotina com um trabalho fixo. Trabalhava pela manhã em seu ateliê, e a tarde, no trabalho para a prefeitura. 

No entanto, durante a pandemia de Covid-19, ele adoeceu, a Covid o manteve internado e seus efeitos o levaram a ficar quase um ano sem trabalhar. Esse período o levou a rever suas prioridades, seu tempo, seu trabalho. Decidiu deixar o trabalho fixo e dedicar-se à produção das joias em madeira, ofício que o ocupa integralmente e do qual tem colhido os frutos, com elogios e boas vendas.  

Conta gostar do contato com o público nas feiras livres e naquelas que participa através do programa Mãos e Mentes Paulistanas, mas gosta mesmo das horas passadas no contato com a madeira, produzindo suas peças:

“Sou artesão de bancada, gosto de produzir”. 

 

Sobre o território

São Paulo é a cidade mais populosa do Brasil, leva o mesmo nome do estado do qual é a capital. Fundada em meados do século XVI pelos bandeirantes, a cidade tornou-se uma força econômica importante durante o ciclo do café, no século XIX. Durante o século XX se tornou um dos mais importantes centros industriais do país, e recebeu grande contingente de migrantes internos – sobretudo vindos do Nordeste, e de outros países, como Síria, Líbano, Japão, Coréia do Sul e Itália.  

É um dos principais polos culturais do país, com inúmeros museus, centros culturais, parques e instituições culturais. Recebe diversos eventos de grande porte, como a Bienal, festivais de música e de moda, e a parada LGBTQIAPN+, a maior da América Latina.  

Para Paulo, a cidade de São Paulo possivelmente significou acesso aos cursos de marchetaria, marcenaria e lutheria, oferecidos no SENAI e em outras instituições da região, assim como por profissionais liberais da cidade. O luthier Manoel Andrade morava em um bairro próximo ao seu, e frequentar os saraus que ele organizava marcou o seu imaginário, dali brotando o sonho de trabalhar e viver da arte de produzir sons a partir da madeira.  

Aproveita e frequenta o circuito de feiras livres e organizadas pelo Mãos e Mentes Paulistanas, o programa municipal de apoio aos artesãos paulistas. Desses encontros fortuitos que acontecem na maior cidade do país, já vendeu suas peças para clientes do mundo todo.  

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