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Sobre as criações
O fio da rede
Raquel Lara Rezende
Da rede que pesca
Pesca peixe
Pesca ideia
Ideia que transforma fio de rede
nas mãos das redeiras de Colônia
A rede de pescar, antes utilizada para a pesca do camarão, nas mãos das redeiras de Colônia se tornam bolsas, acessórios, carteiras, chapéus. A partir do conhecimento tradicional do tear manual e do tear de prego, as artesãs trabalham com o fio reciclado das redes que passam por longo processo de limpeza antes que possam ser usadas. Também trabalham com escamas e couro de peixe, na confecção de acessórios e biojóias, como colares, brincos e pulseiras. A estética das peças, assim como seus nomes, fazem referência ao universo da pesca e da vida na comunidade de pescadores, embalada pelo balanço do mar e iluminada pela lua que reina no céu praiano. Brincos e colares maré, luar, de onda, gotas da lagoa e echarpe lagoa dos patos que se referem à lagoa em cujas margens se encontra a comunidade, são alguns dos acessórios produzidos pelas artesãs.
As redes recolhidas são aquelas descartadas pelos pescadores, quando já utilizadas ao longo de cinco safras. As artesãs então retiram a sujeira grossa das redes e as lavam várias vezes até extrair todo resíduo. Depois de limpas, as redes são recortadas e transformadas em rolos de fios que serão usados para confeccionar os produtos. As escamas também passam por processo de limpeza e depois de secas são lixadas manualmente pelas artesãs que lhes dão a forma que desejam. Por fim, são unidas à prata para o acabamento final.
Sobre quem cria
Em 2008, O Ministério do Desenvolvimento Agrário e o SEBRAE do Rio Grande do Sul ofereceram uma capacitação às mulheres de Colônia de São Pedro, desenvolvendo com elas a coleção Redeiras, lançada em janeiro de 2010. As peças foram produzidas a partir da reciclagem de escamas e couro de peixe e redes de pesca. A maior parte das artesãs já conhecia as técnicas do tear e do crochê que lhes foram transmitidas geracionalmente.
Hoje, são cerca de dez artesãs envolvidas no trabalho, além de alguns homens responsáveis por conseguir as redes.
Em 2012, a bolsa lagoa dos patos conquistou o 2° lugar na categoria “objeto de produção coletiva” do o Prêmio Objeto Brasileiro, promovido pela A Casa – museu do objeto brasileiro. As peças produzidas pelas artesãs de Colônia encantam por sua beleza e carácter inovador e sustentável, o que tem trazido a elas grande volume de pedidos.
Sobre o território
No segundo distrito de Pelotas, no Rio Grande do Sul, às margens da Laguna dos Patos, a maior da América Latina, com 265km de comprimento, encontra-se a Colônia Z3, conhecida como Colônia de São Pedro, fundada em 1921. Nesse momento, viviam na comunidade cerca de 40 famílias exclusivamente da pesca artesanal. O local, antes conhecido como Arroio Sujo, por conta das areias de coloração terrosa, integra a região da Costa Doce que começa no lago Guaíba e se estende até o extremo sul do país por uma faixa de terra junto ao litoral. Encontra-se aí o maior complexo lagunar da América Latina, com mais de 30 lagoas, o que concede à região uma rica biodiversidade que tem chamado a atenção do turismo ecológico. Entretanto, a poluição crescente das lagoas, por conta da ausência de tratamento dos esgotos dos 35 municípios da Costa Doce, tem tornado as águas das lagoas impróprias para banho, navegação e pesca.
A comunidade de Colônia tem sofrido com o declínio da pesca que por tanto tempo foi a principal fonte de renda das famílias daqueles que, sob a proteção de Nossa Senhora dos Navegantes, de São Pedro e Iemanjá, se aventuram pelas águas da lagoa e do mar em busca de seu sustento. A laguna dos patos, também chamada de “Mar de Dentro”, pela presença dos estuários que induzem a entrada das águas do oceano atlântico a partir das chuvas e dos ventos, já não pode mais prover o sustento das mais de mil famílias que vivem na Colônia.
A pesca é regida por safras marcadas pelos fluxos das águas que alteram a salinidade da lagoa no verão e no outono, o que influencia diretamente o ciclo reprodutivo das espécies de água salgada, como a tainha, o linguado e o camarão-rosa e as espécies de água doce, como jundiá, traíra e voga. Para preservar esses ciclos de reprodução, o Ibama instituiu um período em que é proibida a pesca: de junho a setembro para as espécies marinhas, e de novembro a janeiro para as de água doce. Com as dificuldades encontradas com a pesca, a atividade artesanal tem assumido importante lugar na geração de renda familiar, em que as mulheres são protagonistas.