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Sobre as criações
Casa sem paredes nem paradeiro,
no chão de água
os pés são remos
que passeiam ligeiros por entre as ruas-rios.
Sem deixar pegadas nem rastros,
os Muras passam.
RAQUEL LARA REZENDE
Os paneiros para carregar mandioca, os cestos que possuem usos variados, remos, cofos usados para armazenar farinha, entre muitos outros utensílios, todos são objetos produzidos artesanalmente há muitas gerações na comunidade de Santa Isabel do rio Tupana. As principais matérias primas são as fibras vegetais extraídas dos cipós ambé e titica, além das palhas de babaçu, tucumã e buriti. Seu manejo é realizado pelas artesãs que retiram de forma controlada as fibras da floresta e as tratam para que possam ser trançadas.
O modo de fazer o artesanato da região, herdado da etnia Mura, ganhou outros contornos, a partir do encontro com diferentes profissionais, como a designer Luly Viana. Com ela, o grupo desenvolveu outros produtos como a bolsa do modelo Paricá e outras peças exclusivas, feitas com cipó ambé.
Sobre quem cria
Em 2015, com o apoio e estímulo da ONG Casa do Rio, algumas mulheres indígenas e caboclas se organizaram enquanto grupo produtivo de artesanato, batizado de Teçume. Esse foi um primeiro passo, seguido por encontros de capacitação com designers com o objetivo de ampliar o potencial de comercialização dos produtos feitos de palha e madeira. O processo de fundação do grupo também contou com o apoio da Brazil Foundation que esteve envolvida na criação dos primeiros produtos. Outro projeto desenvolvido pela Casa do Rio é o de alfabetização da população da Comunidade de Santa Isabel, tendo como questão central a mulher e sua autonomia. Nesse sentido, a gestão do grupo Teçume da Floresta é realizado pelas artesãs, que têm aprendido a lidar de forma coletiva com as questões burocráticas do processo de comercialização.
O artesanato assume um papel fundamental para a maior parte das mulheres, sendo fonte de renda e de emancipação frente à família e à sociedade. Hoje, as mulheres do rio Tupana, junto a outras mulheres indígenas e caboclas do Amazonas, são importantes agentes de transformação da região, sendo cada vez mais atuantes nos espaços de debate sobre sustentabilidade, agroecologia, questões indígenas e das mulheres.
Sobre o território
A comunidade de ribeirinhos de Santa Isabel pertence à cidade de Careiro Castanho, localizada a 102 quilômetros de Manaus. Às margens do rio Tupana, de águas escuras, a comunidade goza de grande diversidade de fauna e flora que colorem com grande beleza essa região amazônica. Destacam-se aí o cultivo do cupuaçu, a extração de castanha-do-Brasil e a pesca.
O rio Tupana deságua no baixo Rio Madeira, já próximo à foz com o Rio Amazonas. Toda a região era ocupada pelos indígenas da etnia Mura, conhecidos como “corsários do caminho fluvial”. Suas canoas eram suas casas, com elas navegavam com grande conhecimento e destreza toda a bacia do Rio Madeira. Não possuíam aldeias e viviam de forma nômade pelos cursos d’água. Sua coragem e espírito guerreiro também compõem a imagem dos Mura que resistiram bravamente ao avanço das Missões Jesuítas, do comércio português e das ações militares no Amazonas.
Possuíam grande facilidade em agregar outros povos e etnias, como os negros que viviam em quilombos, os ciganos e indígenas desagregados de suas tribos ou egressos das Missões Católicas. Nos anos 1930, com o ciclo da borracha, os Muras começaram a se miscigenar com nordestinos que chegavam para trabalhar. Desse encontro nasceram os antepassados mais próximos à população que hoje vive às margens do Rio Tupana.