A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Valmir Neves


Arte sacra barroca. Assim Valmir Neves define sua arte em barro – uma fusão do clássico e do barroco, modelada com técnica e devoção.

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Sobre as criações

Arte sacra barroca. Assim Valmir Neves define sua arte em barro – uma fusão do clássico e do barroco, modelada com técnica e devoção. Do fascínio, desde a infância, pelas obras de Aleijadinho somado ao conhecimento herdado do amigo Reginaldo Campo (falecido em 2004) Valmir os recriou em uma linguagem própria. Da observação das ruas, do cotidiano, da vida real, ele se nutre de inspiração para obras ricas em detalhes e realismo, preservando a beleza do material em estado natural.

Dos tempos de escassez, o artesão traz o legado da habilidade com mãos. Até hoje quase não utiliza ferramentas, e as poucas que possui são fruto de improviso. Dá forma e vida à peças modelando-as e não esculpindo, como aprendeu com o amigo. “A maioria dos ceramistas usam muitas ferramentas, eu não. No inicio comprava kits de ferramenta e não conseguia usar. Não sei explicar se foi devido a escassez inicial de ferramentas – quando tive condições não conseguia mais trabalhar com elas.”

Foto de divulgação Artesol

Valmir adquire a argila de uma empresa localizada no município de Guapó, interior de Goiás, fabricante de telhas e tijolos desde 1953. Desconhece a origem do barro mas sabe que possuem as licenças necessárias para a extração, que chega ao atelier em estado bruto e é
preparado para o uso na maromba elétrica. O artesão chega a comprar um caminhão de oito toneladas de argila, o que lhe permite trabalhar por cerca de um ano. Armazena o barro no próprio atelier e na véspera de usar o mergulha em uma caixa d’água para passá-lo molhado na maromba. Em cerca de duas horas, processa a quantidade de matéria-prima suficiente para trabalhar durante uma semana. Modela a peça, aguarda a secagem por cerca de cinco dias e leva ao forno, aquecido a lenha por aproximadamente 24 horas. Geralmente Valmir realiza duas queimas ao mês – em cada uma delas, dá vida a cerca de cinquenta criações.

Sobre quem cria

Valmir Neves começou sua história com a arte em 1998, trabalhando com pintura em tela. Foi em 2001, quando conheceu Reginaldo Campo, que começou a trabalhar com cerâmica, da observação de seu ofício. Tornaram-se grandes amigos. Certo dia ele o convidou para uma sociedade – abriram um atelier em Goiânia, onde lecionavam cursos, vendiam argila e realizavam outras atividades. Tudo ia muito bem, mas cerca de dois anos após a inauguração ele faleceu em um acidente.

O recomeço foi difícil, mas aos poucos Valmir foi caminhando sozinho. Procurou a Central do Artesanato em Goiânia para expor suas peças, quando informaram sobre a necessidade de emissão da Carteira Nacional do Artesão, emitida pelo Programa o Artesanato Brasileiro (PAB). A formalização da profissão foi uma das decisões que ajudou na carreira, impulsionada pela participação em feiras nacionais. “As feiras abriram muito o horizonte, amadureci muito. A mudança é porque quando você tem o contato com o cliente você começa a entender o mercado, começa a fazer coisas direcionadas. Antes eram produtos mais simples.”

Foto de divulgação Artesol

Sempre aberto ao intercâmbio, Valmir passou a contar com orientação de vários órgãos e programas de apoio ao artesanato através de pessoas como André Franco, superintendente de Economia Criativa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Goiás de 2011 a 2018, e Beatriz Athayde, representante do PAB e grande incentivadora da participação dos artesãos em feiras, o que mudou o rumo de sua trajetória. “Eles levavam os produtos com o caminhão e pagavam os stands. Os artesãos pagavam hospedagem, alimentação e passagem aérea.” Com esse investimento, adquiriu muitos dos clientes de Minas Gerais e São Paulo a quem atende até hoje.

Passados vinte anos, Valmir reconhece a importância de ter perseverado. “Desde que comecei com a cerâmica, nunca trabalhei com outras coisas. Sempre insisti na cerâmica e sempre sobrevivi da minha arte. Podemos viver do nosso trabalho.” Da mesma forma, a esposa Lilian também passou a produzir e nunca mais precisou trabalhar fora. Ambos fazem parte da CATARGO – Cooperativa de Artesãos de Goiás, que vinham tentando regularizar há oito anos e conseguiram através da ajuda de Décio Coutinho e de uma parceria com o governo do estado através da Secretaria de Turismo do Estado. Valmir Neves é hoje um artesão reconhecido nacionalmente com peças expostas na Central do Artesanato de Goiás e em diversas lojas pelo Brasil – e mais recentemente em Miami. Em 2019, através de um projeto do Sebrae, integrou uma comitiva de artesãos goianos em uma visita técnica à feira Artigiano, em Milão, Itália, para avaliarem a possibilidade de participação em 2020. Infelizmente a pandemia os pegou de surpresa. “Foi o fato mais marcante como artesão
que aconteceu em minha trajetória, que a arte que proporcionou.”

Sobre o território

Valmir é natural de São Félix do Coribe, cidade localizada no Recôncavo Baiano, banhada pelo Rio Paraguaçu. Distante 110 km de Salvador, possui uma história profundamente ligada aos valores culturais baianos. Com reconhecido valor patrimonial, o tombamento de seu conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico, pelo IPHAN, ocorreu em 2010. Desde 1999 Valmir mora em Aparecida de Goiânia, Goiás, onde construiu sua história na arte e mantém sua casa, família e atelier. Tem planos de aumentar a produção de peças e para isso está adequando o espaço do atelier.

Acredita que os desafios são muitos e o maior deles é unir a categoria. “Para um artesão fazer sozinho é muito mais difícil, cada um trabalhando por si. A categoria unida ajudaria muito.” Querem envolver mais pessoas, ensinar o ofício para a filha, mesmo que ela não exerça a profissão. Acredita no valor cultural do trabalho, como parte de um resgate. “Quero que ela estude mas faço questão de repassar. Sempre fiz muita oficina em escolas e tentei passar para as crianças meu conhecimento. Não tem muita gente que faz esse tipo de trabalho, principalmente no barroco.”

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