Antônio Geraldo Sobrinho
Antônio Sobrinho acredita que o manejo e o corte da madeira carregam um saber transmitido culturalmente – um saber fazer como conhecimento ancestral.
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Sobre as criações
Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, tristriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
NASCIMENTO, Milton; VELOSO, Caetano. A terceira margem do rio, 1990.
Antônio Geraldo Sobrinho produz gamelas, vasos e potes, entre outras peças. Desde o começo, desenvolve formas de preservar o bioma amazônico. Se orgulha de ter criado e aperfeiçoado uma técnica que extrai o máximo de cada tronco: uma espécie de triangulação da madeira, retirando peças de três faces e criando gamelas umas a partir das outras – em vez de moldar uma única peça por pedaço
Acredita no valor do trabalho artesanal de entalhe da região Norte. A madeira, como uma metonímia, expressa o pensamento do artesão: suas colorações distintas, densidades e texturas variam a depender da região do país e o clima do local. No Amazonas e no Acre, sobretudo, a gama de colorações é imensa. Além disso, o manejo e o corte da madeira carregam um saber transmitido culturalmente – um saber fazer como conhecimento ancestral.


Antônio trabalha sozinho, ele inicia o processo selecionando o matéria-prima, adquirida por meio da compra de madeira de manejo ou por meio da “reciclagem da madeira”. Após a escolha, a madeira precisa passar por um período de dois a três dia para “enxugar”, ou seja, secar adequadamente.
Com a madeira seca, ele utiliza serras, motosserras e máquinas desenvolvidas por ele mesmo para realizar cortes. Em seguida, inicia o processo de lixamento que consiste no uso de lixas grossas, finas e manuais. Após esse processo, aplica um selador, lixa novamente e finaliza com uma nova camada de selador ou óleo mineral.
Sobre quem cria
“Tudo é e vira arte” – Antônio Sobrinho
Sua disposição para o trabalho manual pode ser compreendida tanto pela vivência na cultura nortista — marcada e reconhecida pelo entalhe — quanto por sua socialização. Ao rememorar a infância, o artesão fala da época do corte da seringa e dos momentos de lazer à beira do rio, quando ele e os amigos faziam os próprios brinquedos, utilizando técnicas rudimentares de entalhe.
Natural de Lábrea, município do Amazonas, Antônio Geraldo Sobrinho viveu ali até os quatorze anos, quando se mudou para o Acre. Desde então, permaneceu entre as regiões de floresta do Amazonas e do Acre, atuando na extração de látex — ou, como ele diz, no “corte da seringa”, profissão que também era exercida por seu pai. “Seguia o rastro do pai pela floresta, desviando dos rastros das onças”, ele conta.


Durante a infância e adolescência, Antônio construía barcos com pedaços de madeira entalhados com facão. Aos 17 anos, já criava modelos com motores improvisados, feitos a partir de toca-fitas e miolos de canetas.
Trabalhou com a extração do látex dos 8 aos 25 anos. Em 1992, aos 25, mudou-se para a capital do Acre, Rio Branco, e começou a trabalhar com marcenaria, fabricando móveis. Após 15 anos como marceneiro, encontrou no artesanato, já nos anos 2000, uma alternativa mais segura, prazerosa e rentável para si, sua esposa e filha. Autodidata, costuma dizer que “nasceu para isso”.
Um de seus sonhos é construir canoas inspiradas nas tradicionais embarcações indígenas de sua região — feitas com a queima da casa da árvore Jutaí — e expô-las aos turistas que visitam seu ateliê.
Sobre o território
Bioma amazônico: vegetação densa, úmida, biodiversidade singular. Um território entrelaçado pelos rios Juruá, Purus, Acre, Iaco, Tarauacá e Envira. A diversidade de fauna e flora que colore a região Norte com tons singulares, inspirando o mundo simbólico dos seus artistas e artesãos, unindo cultura e saberes populares.
A importância ambiental, cultural, política e econômica desse bioma marca profundamente a história do Acre e sua capital, Rio Branco. O ciclo da borracha e os violentos conflitos políticos em torno dele culminaram na criação do Acre Território, que, após o fim da Revolução Acreana, foi transformado em estado apenas 1962.
Ainda que passe por processos de apagamento e violência contra as comunidades indígenas locais, a região mantém a presença viva de mais de 15 etnias indígenas, como Kaxinawá, Arara, Jaminawá, Ashaninka, Madija, entre outros – sendo algumas aldeias isoladas.
O Acre parece um oásis diante do processo de desmatamento que tem arrasado com a biodiversidade de tantas regiões brasileiras. Mas, talvez por se tratar de um estado recente, ainda marcado pelos conflitos do passado, há pouca consciência de quão importante, rica e bela a região é.






















