A Rede Artesol - Artesanato do Brasil é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Ateliê Comunitário Arte em Comum 


Inspiradas pelos cenários do Brejal, as artesãs bordam paisagens rurais em panos de prato, toalhas de mesa, bolsas, almofadas trazendo à mesa e a casa o encanto do seu local.

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Estrada do Brejal, 1500 – Posse, CEP 25770-090, Petrópolis – RJ

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Sobre as criações

O bordado livre, que conserva pontos tradicionais reorganizando os espaços e propondo novos estilos de desenho, tem sido explorado de inúmeras formas na produção artesanal brasileira. 

As bordadeiras do ateliê Arte em Comum retratam em seus bordados as paisagens e cenas da comunidade do Brejal, uma região rural localizada na Posse, 5º distrito de Petrópolis, Rio de Janeiro. Em seus bordados vemos as paisagens das lavourinhas de alfaces, cenouras, couve-flor, beterraba e outras hortaliças. Encontramos também os insetos, sapos, plantas, flores nativas, galos e galinhas que compõe seu cotidiano. Reinterpretam os pontos clássicos, tornando-os parte de uma paisagem ímpar, bucólica: o rococó vira uma beterraba ou uma couve-flor em meio à plantação, o revés do ponto se torna a linha das lavouras, vistas à distância. Dessa interpretação própria de suas paisagens está o encanto do grupo, que produz panos de prato, almofadas, bolsas, toalhas de mesa, aventais, jogos e caminhos de mesa. 

Crédito da foto: Sara Gehren

Crédito das fotos: Sara Gehren

O processo se inicia com o risco do tecido, feito à mão livre ou transferido com a ajuda do papel carbono. Cada uma escolhe os desenhos que deseja bordar e os leva para casa. Em uma semana conseguem bordar alguns de prato ou almofadas, a depender da complexidade dos desenhos. Sob o encanto das agulhas transcorrem horas, por vezes dias, preenchendo com os tons e temas do Brejal os tecidos de algodão. 

Se reúnem todas as tardes de quinta-feira para receberem os tecidos, entregarem encomendas e conversarem sobre a vida. O local que as acolhe é o Instituto Vira Mundo, que agrega diversas atividades socioeducativas, ambientais e culturais, sendo um ponto de referência na região.   

Sobre quem cria

O grupo, que surgiu como projeto de arte e terapia em 2002, é atualmente formado por 16 artesãs e um coordenador, Leonardo Fragoso. Surgiu como uma proposta de roda de bordado e conversa entre as mulheres do Brejal, sob a coordenação de Layla Cristina Monte. O grupo reunia tanto mulheres que já sabiam bordar desde crianças, como a Rosa, uma das bordadeiras mais antigas do grupo, quanto aquelas que aprenderam a bordar nas oficinas. Com o tempo, passaram a trabalhar também com os filhos das bordadeiras e as crianças do bairro, oferecendo reforço escolar, aulas de inglês e outras atividades culturais. O encontro das bordadeiras ocorria às quartas pela tarde, já o trabalho com as crianças era diário.  

Crédito da foto: Sara Gehren

Crédito das fotos: Sara Gehren

Em 2011, a então coordenadora se afastou e Leonardo foi convidado para assumir a coordenação do grupo. Voltaram-se à produção artesanal, com foco no bordado, mantendo o encontro semanal. Ao longo dos anos, se fortaleceram como espaço de encontro, troca e como grupo produtivo de mulheres. 

Se encontraram durante anos em uma casinha cedida para o grupo, mas em 2019 passaram a compor o Instituto socioeducativo Vira Mundo, que fica em uma antiga fazenda de criação de cabras que atualmente congrega diversas atividades da região, desde atividades socioeducativas para crianças, até atendimentos médicos e oficinas de tear, costura.  

Em 2021, após quase vinte anos de existência, foram reconhecidas como Ponto de Cultura e Memórias Rurais pelo Instituto Brasileiro de Museus, sendo vistas como referência no artesanato da região. Estão construindo parcerias, participando de eventos e ganhando o merecido reconhecimento.  

Sobre o território

Petrópolis, conhecida como Cidade Imperial, era um território ocupado pelos indígenas Coroados, assim chamados por rasparem os cabelos em formato de coroa.  Um nome genérico para diversas etnias indígenas, em Petrópolis encontravam-se membros dos Puris e de outras nações antigas, como os Tamoios e Sucurus. Resistiram à ocupação portuguesa até o século XVIII, quando foram alvo de sucessivas investidas do Vice-Rei João Rodrigues da Cunha e do Padre Manoel Gomes Leal. 

Crédito da foto: Sara Gehren

Durante muitos anos, o território foi pouco explorado, protegido pelo paredão montanhoso de mais de 1000 metros de altura. Apenas com a descoberta do ouro em Minas Gerais que foi aberto o Caminho Novo, no início do século XVIII.  

A fundação da cidade está intimamente ligada à Dom Pedro I e ao padre Correia. Conta-se que o imperador se encantou com a região quando, de passagem pelo caminho do Ouro que o levaria a Minas Gerais, pernoitou na fazenda do pe. Correia. Adquiriu propriedades na região e ali decidiu que seria construído um Palácio de Verão, algo que só ocorreu muitos anos depois, em 1845 com Dom Pedro II. Em homenagem ao seu patrono de fundação, a cidade foi nomeada Petrópolis – Cidade de Pedro, a partir da junção das palavras em latim Petrus (Pedro) com a palavra em grego Pólis (cidade). 

A região recebeu, nas primeiras décadas do século XIX, grande contingente de imigrantes alemães que deixaram sua marca tanto na arquitetura, quanto nos costumes e tradições da cidade. Outras ondas migratórias trouxeram diversas influências culturais para a região, que cresceu, se expandiu e guarda com orgulho o prestígio de já ter sido uma cidade imperial. 

O bairro do Brejal é um refúgio rural na região metropolitana de Petrópolis. Fica a 40 quilômetros do centro histórico da cidade, e é referência em eco-turismo, gastronomia, produção de orgânicos e produção artesanal, com as bordadeiras do Ateliê Arte em Comum. 

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