A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Associação dos Lavradores e Artesãos de Campo Alegre


As mulheres de Campo Alegre têm por ofício a cerâmica. Seu trabalho começa quando as mãos mergulham no barro. Assim nascem moringas, filtros, mulheres noivas, grávidas, amamentando, colhendo, trabalhando, mulheres de mãos dadas, em círculo.

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Telefone (38) 9936-3227
Contato Associação dos Lavradores e Artesãos de Campo Alegre – ALACA
Povoado Campo Alegre – Zona Rural, CEP 39660-000, Turmalina – MG

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Sobre as criações

“Oh beija-flor toma conta do jardim.
Vai buscar Nossa Senhora pra tomar conta de mim.
Sinhá Rainha, sua casa cheira,
Cheira cravo e rosa, flor de laranjeira”.
Cantiga de domínio popular do Vale do Jequitinhonha

As mulheres de Campo Alegre têm por ofício a cerâmica. Seu trabalho começa quando as mãos mergulham no barro. Assim nascem moringas, filtros, mulheres noivas, grávidas, amamentando, colhendo, trabalhando, mulheres de mãos dadas, em círculo. O barro, coletado a cada dois anos para não degradar o solo, é socado no pilão, peneirado e depois amassado para que possa ser moldado. As cores são resultado do uso do oleio, barro diluído em água com pigmentos naturais, como o tauá, que dá a coloração avermelhada, e a tabatinga que colore de branco. Para a pintura de flores e penas, as mulheres utilizam penas variadas, e depois de pintadas, as peças são queimadas em fôrno a lenha, geralmente nas noites de lua cheia.

Sobre quem cria

A associação de Campo Alegre foi fundada em 1985 por um pequeno grupo de lavradores e uma mulher artesã, e contava com mais famílas inscritas como lavradores. Hoje, a situação se inverteu e quem atua na associação é em sua maioria artesã. As mãos e os corações das artesãs do Vale do Jequitinhonha têm seus mistérios. Ao modelar o barro, iniciam uma jornada para denro de si mesmas, que lhes permite se remodelarem, transformarem. Assim, de viúvas da seca, as artesãs se transformaram em noivas da seca.

As técnicas utilizadas na produção dos objetos lhes foram passadas pelas mães e avós. Na região conta-se que as antepassadas das ceramistas aprenderam a moldar o barro com as índias que viviam na região, fazendo cumbucas para uso doméstico e urnas funerárias. Hoje, as ceramistas fazem alguns objetos utilitários como vasos, potes e vasilhas de cunho mais tradicional, mas são apaixonadas mesmo é pelas bonecas, além das peças de animais e moringas antropoformas, herança da estética de origem africana.

Sobre o território

Campo Alegre é distrito de Turmalina, alto do Jequitinhonha. O artesanado com a cerâmica nasceu na comunidade e foi levado mais tarde para Coqueiro Campo, outra comunidade próxima, pelas mulheres que para lá se mudaram. Assim, as artesãs das comunidades possuem laços estreitos umas com as outras e muitas são parentes ou possuem a mesma origem familiar, o que explica a grande semelhança do artesanato produzido nos dois locais. As técnicas utilizadas pelas artesãs são as mesmas e a estética possui as mesmas características.

A comunidade fica no Alto Jequitinhonha, próxima ao rio Fanado. A região, antes coberta por mata atlântica e habitada pelo povo indígena Aranã, foi ocupada no século XVII pelos vaqueiros que buscavam terras para pastagem. Grande parte da mata foi derrubada e o que ficou no lugar foi o capim colonião e o solo castigado. Hoje, a principal atividade econômica presente no Vale é o cultivo de eucaliptos pelo agronegócio, que tem trazido consequências graves que atingem as comunidades e o ecossistema, como o desemprego, a crise hídrica, e os impactos na diversidade da fauna e da flora locais.

Nesse contexto, as mulheres têm estado cada vez mais ativas na geração de renda para suas famílias, visto que os homens, desempregados, são obrigados a buscar trabalho em outros cantos, passando longas temporadas fora da comunidade. Antes migravam para trabalhar com o corte da cana, mas com o fim do ciclo dos canaviais, os homens buscam trabalho na construção civil e em madeireiras. Cabe às mulheres, que passaram a ser conhecidas como viúvas da seca, a cuidarem dos filhos, de suas casas, do plantio e de si mesmas. Em Campo Alegre vivem cerca de 200 pessoas e para a maior parte das famílias o artesanato constitui hoje principal fonte de renda.

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