Centro de Cultura Mestre Graciano
Francisco sente uma alegria especial em entalhar animais, talvez pela relação profunda que estabeleceu desde criança com a mata e os seres que vivem nela.
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Sobre as criações
A madeira é a matéria-prima que Francisco Graciano usa para manifestar o seu imaginário. Quando pega a madeira, logo vem a ideia do que vai fazer.
“Eu costumo dizer é que eu não sei fazer é nada. Tem uma voz assim na cabeça, do meu lado que vai dizendo o que é pra fazer. Pra mim é como uma voz de um espírito índio (…) Gosto de ficar sozinho, distraído da cabeça e quando eu chego eu já tenho as imagens na cabeça”.
Francisco sente uma alegria especial em entalhar animais, talvez pela relação profunda que estabeleceu desde criança com a mata e os seres que vivem nela. Assim como seu pai, Manoel Graciano, Francisco se dedica com esmero à pintura das peças, criando novas matizes, a partir da mistura de cores.
Sobre quem cria
Francisco Graciano Cardoso é filho do mestre Manoel Graciano, um dos mais importantes escultores do estado do Ceará, falecido em 2014. Assim como seu pai, desde criança Francisco brincava com a madeira, fabricando seus próprios brinquedos. Teve uma infância solitária e bem singular. Após o falecimento de sua mãe, seu pai se casou novamente e ele começou a ser maltratado pela madrasta. Até que decidiu fugir da casa dos pai, em Juazeiro do Norte, quando tinha 6 anos de idade, indo morar em Brejo Santo, sozinho.
Trabalhava nas fazendas da região e comprava as suas próprias roupas, seus chinelos e sua comida. Viveu muitos desafios, como não ter onde dormir às vezes, o que lhe trouxe um senso profundo de autonomia. Aos 17 anos se casou e quando nasceu o primeiro filho, percebeu que o que recebia no roçado não era suficiente para se alimentarem.
Foi então, em um dia em que andava pelo mato a buscar lenha, que encontrou pedaços de galhos de imburana (árvore nativa da caatinga, muito usada pelos artesãos da região nordeste, para o artesanato) e decidiu experimentar entalhar um casal. Pediu ao seu irmão que mostrasse para o mestre Noza (importante escultor e xilógrafo do Ceará) para avaliar se ele “tinha futuro” enquanto artesão.
Quem deu o retorno foi a esposa de mestre Noza, que sugeriu que seguisse com o artesanato. Com o dinheiro que recebeu das suas primeiras 2 peças, floresceu a vontade de seguir. Chegou a acompanhar o pai em alguns trabalhos, como a encomenda que recebeu do Memorial Antônio Conselheiro (Canudos – BA), sob a curadoria de Dodora Guimarães, para entalhar uma representação da “Guerra de Canudos”. Manoel Graciano, com o auxílio de Francisco entalhou as esculturas de Antônio Conselheiro, os 12 apóstolos, entre outros personagens, como os irmãos Vilanova e Pajeú.
A vida de Francisco mudou após esse trabalho, a partir do qual se estabeleceu definitivamente na arte popular. Quando o mestre Manoel Graciano, seu pai, faleceu, Francisco estava com 26 anos, pai de 4 filhos. Atualmente, além de seguir criando sua própria arte, Francisco tem o sonho de construir um prédio e transforma-lo em um museu para receber as pessoas e alunos.
Sobre o território
Brejo Santo é um município do estado do Ceará, com cerca de 50 mil habitantes, localizado na mesorregião do sul do estado. Aos pés da da Chapada do Araripe, antes habitada pelos povos da etnia Kariri, Brejo Santo apresenta em seu território diferentes vegetações, como o cerradão, a caatinga e o cerrado. A região abriga também a bacia de Araripe, uma das mais importantes bacias hidrográficas do nordeste que abastece com suas águas subterrânias vários municípios.
A região sul do Ceará, na chapada do Araripe, se encontra a 500 km de Fortaleza, capital do estado. Também conhecida como Cariri, a região foi palco de grandes histórias, como a do Movimento Caldeirão de Santa Cruz do Deserto que reuniu camponeses liderados pelo beato José Lourenço, em fuga da seca no período da Ditadura.
Trata-se, assim, de uma região cheia de surpresas e riquezas que fazem do Cariri um lugar único, desde a paisagem, às mãos do carirense, que surpreende pelas belezas que é capaz de criar, até o mundo encantado criado pelos mitos e lendas da região. O colorido da cultura cheia de vida e personalidade vibra nas rodas de Coco, no Boi, Reisado e Maracatu; no pífano, no cordel, na zabumba e nas rendas que dão movimento e compõem o imaginário encantado do lugar.