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Sobre as criações
Sentadas nas calçadas, abraçadas pela paisagem que acompanha o velho Chico, o rio São Francisco, as bordadeiras de Entremontes se entregam ao movimento meditativo das agulhas que embelezam o linho. O rendedê e o ponto-cruz são os pontos de bordado mais utilizados pelas artesãs que herdaram de suas mães a arte e o gosto pelo ofício. Os produtos que surgem de seu trabalho são caminhos de mesa, lenços, toalhas para bandejas, jogos americanos, guardanapos, cortinas, entre outras coisas. O redendê, bordado de origem nórdica, trabalha na trama, sendo um bordado geométrico e o ponto-cruz preenche mais os desenhos.
Sobre quem cria
A quantidade de bordadeiras que enfeitam as ruas de Entremontes é tanta que impressiona. O dom do ofício é passado pelas mães que embalam as mãos das filhas na dança do bordado. Quando chegam os visitantes, as bordadeiras abrem suas casas tão cheias de bordados como suas vidas.
A partir dos trabalhos de capacitação realizados pela Artesol, em parceria com o Sebrae, as bordadeiras formaram uma associação que foi fundamental para o crescimento das vendas. Hoje, a Cia de Bordados de Entremontes reúne grande número de mulheres que tiram seu sustento da arte de bordar. O processo de capacitação e assessoria pelo qual a comunidade passou foi importante para a construção de maior autonomia das bordadeiras que hoje se sentem mais valorizadas e possuem uma produção renovada.
Sobre o território
Conta-se que em 1859 Dom Pedro II, ao passar de barco pelo rio São Francisco, haveria avistado um povoado e perguntado que lugar era aquele entre os montes. Dessa pergunta do então imperador do Brasil, surgiu o nome mais tarde assumido pelo povoado. Posteriormente, em 1930, também o cangaço chegou a Entremontes. Conta-se que quando Lampião chegou, os moradores amedrontados se esconderam na caatinga, o que deixou Lampião furioso. Ao encontrar a vila vazia, ateou fogo em alguns lugares da cidade, como o cartório e a casa onde teria se hospedado D. Pedro II setenta anos antes.
Povoado cheio de histórias que se desenrolam no cenário à beira do rio, Entremontes, que mais parece saído de um livro de Ariano Suassuna, faz parte da cidade histórica Piranhas, em Alagoas. As casas coloniais coloridas e as mulheres que bordam sentadas nas portas de suas casas compõem o cotidiano e o imaginário do lugar. O velho Chico que segue majestoso pelas montanhas cobertas pela caatinga, embala em suas águas os catamarãs que carregam os turistas que vão visitar a “capital do bordado”, como é conhecida Entremontes. Todos os dias, do porto de Piranhas saem barcos para o vilarejo. Muitos deles seguem para trilhar a rota batizada de “Caminhos de São Francisco”. São quatro a cinco dias onde as histórias de vaqueiros, cangaceiros e rendeiras dão um tom fantástico à jornada que também passa por Sergipe, na outra margem do rio.
O povoado, que também é uma vila de pescadores, tem passado por grande dificuldade depois da construção da barragem hidroelétrica Xingó, por conta da grande oscilação do volume de água. É como se o rio tivesse se transformado em mar com fortes marés, o que inviabiliza a pesca. Além disso, a cachoeira que abrigava a desova dos peixes, seu berço, se encontra hoje debaixo da barragem. Com o declínio da pesca, o bordado assumiu um lugar ainda mais preponderante na geração de renda familiar dos moradores.