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Em renda renascença
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Sobre as criações
As rendas possuem a beleza da flor de mandacaru e como ela também é símbolo de resistência, força e riqueza. As rendeiras são as protagonistas desse fazer que exige delicadeza e precisão no manejo da agulha. Com a linha e o lacê, a renda embeleza o o agreste e a vida dos sertanejos, tecendo a história de um e de outro, as enlaçando em uma trama cheia de encantos.
O lacê é uma fita fina que sustenta a trama tecida com os pontos que entrelaçam os fios, sobre um desenho de papel que é apoiado em uma almofada de tecido. Brincando de combinar os diferentes pontos, como dois amarrados, pipoca, abacaxi, sianinha, traça, entre outros, as rendeiras transformam fios de algodão em vestidos, blusas, colares, golas, brincos e muitas outras peças de renda exclusivas. A tradição da renda Renascença é reconhecida como importante Patrimônio Cultural que tem atravessado gerações, há quase um século sendo passada de geração em geração, resistindo como uma das marcas culturais mais significativas no Agreste Pernambucano.
Sobre quem cria
Dalva e Neide são mãe e filha, artesãs do singelo fazer da renda renascença. Neide é nascida em um sítio em Pesqueira (PE), cidade com uma forte e antiga tradição na renda renascença. Curiosa, aos 9 anos pediu às vizinhas que lhe ensinassem a rendar. Aprendeu, tomou gosto e aos quinze anos começou a trabalhar na Gerânio, que produzia roupas com renascença. Pediu à dona da Fábrica para ensiná-la a aumentar e diminuir os desenhos da renda, ampliando assim seu repertório e criando uma habilidade que lhe seria muito útil mais tarde. Trabalhou na fábrica até 1996, quando foi para o interior de São Paulo, para a cidade de Pedreira, onde trabalhou em uma fábrica que produzia porcelanas. A estadia, no entanto, durou apenas 4 meses e ela logo retornou a Pesqueira (PE).
Assim que voltou, retomou o trabalho com a renda e começou a trabalhar com a mãe, a Dalva. Faziam bonecas que eram levadas para vender em Maceió (AL). Ao mesmo tempo, Neide trabalhava em uma produção de rendas chamada Meu Xodó, na qual permaneceu durante dois anos. Em seguida, trabalhou em outra produção, a Renascence, voltada à exportação das peças de renda.
Em 2004, Dalva fez um curso de bolsas em renascença, oferecida pela SEBRAE. Com o curso, decidiram se profissionalizar. Neide abraçou por completo a causa do artesanato em seu estado, reconhecendo-se artesã em sua íntima e longa relação com a renascença, que conhece desde criança. Passou a viajar o país para divulgar essa técnica tão singular e para construir um futuro melhor para todos os artesãos, atuando na Federação de Artesãos de Pernambuco (FECARPE).
Integraram a Cooperativa Mista dos Artesãos de Pesqueira durante 15 anos, em seguida, integraram a Cheia de Graça, entre 2005 e 2010, a qual retornaram em 2019 e saíram em 2024 para construírem seus próprios caminhos.
Atualmente, Neide se sente desafiada a dar continuidade a tradição da renda. Trabalham com um grupo de doze rendeiras, na qual Neide faz o design das peças, as rendeiras do grupo fazem a renda, Dalva e Neide fazem os acabamentos, finalizam e engomam as peças. Ponto a ponto, vão unindo o amor ao ofício, ao trabalho em coletivo e às aspirações de conquistar novos horizontes, divulgando a renascença como patrimônio cultural que atravessa a vida de tantas mulheres do agreste.
Sobre o território
No semiárido pernambucano, Pesqueira é um território de resistência e florescimentos surpreendentes. A história recente do município está intimamente relacionada à história da Fábrica Peixe, seu progresso ocorreu simultaneamente com o apogeu da fábrica, de 1920 a 1950. Foi na transição do séc XIX para o XX, mais precisamente em 1897, que Maria da Conceição Cavalcanti de Brito empreende um pequeno fabrico de goiabada e massa de tomate no local. Em poucas décadas o negócio cresceu, tornando-se uma das maiores potências industriais do país e isso deu-se apesar das adversidades climáticas e restrito fornecimento de água.
Com o amargo declínio experimentado ao longo da segunda metade do século XX que culminou com o encerramento das atividades em 1998, a população sofreu com desemprego e queda drástica da renda. Além disso, os 80.000 metros quadrados de área ocupada pela Fábrica, eram espaço também afetivo da população. Foi o desenvolvimento de gerações, fonte principal de subsistência e esperança de inúmeras famílias.
Após alguns anos fechada, a estrutura foi adquirida pelo poder público local e tornou-se sede da feira livre do município, que ocorre todas as quartas feiras e abriga a “Feira da Renascença”, onde rendeiras da área rural e municípios vizinhos comercializam suas produções semanalmente.
O Centro Comercial Rosa fica no centro da cidade, onde funcionava a fábrica de derivados de tomate Rosa e hoje abriga além do museu de doce, também inúmeras lojas de renda renascença. Não à toa a cidade é conhecida como terra do Doce, da Renascença e Da Graça.
