Dina Santos


Estatuetas de orixás, patuás, escapulários e flores fazem parte do universo de Dina, que assina seu trabalho como Majeko — “plantação de milho” ou “milharal” em iorubá. Um nome que funciona como metonímia de sua trajetória e do saber-fazer ancestral.

Mostrar contatos

AbrirFechar

Os contatos devem ser feitos preferencialmente via Whatsapp.

Bairro: Engenho Velho de Brotas, CEP 40240-830, Salvador – BA

A Artesol não intermedeia relações estabelecidas por meio desta plataforma, sendo de exclusiva responsabilidade dos envolvidos o atendimento da legislação aplicável à defesa do consumidor.

Sobre as criações

As criações de Dina contêm um sem-fim de detalhes primorosos, construídos com respeito ao tempo e à sua ancestralidade nigeriana. As técnicas de montagem e costura foram aprendidas durante a socialização primária, com a mãe — uma artista orgânica. Em linhas gerais, os souvenirs religiosos e decorativos que produz são: flores, prendedores de guardanapo, patuás, escapulários e estatuetas voltadas ao mundo afro-brasileiro, com 20 a 22 cm — dependendo dos elementos que o orixá carrega.

O processo das peças de Dina é muito minucioso e reafirma seu compromisso com a sustentabilidade, reaproveitando a palha que seria descartada, buscando o material com vendedores de milho. Após a coleta, a palha de milho é levada ao ateliê, onde passa por um longo processo de seleção, higienização e preparação. Para o miolo das flores, a textura de estigma é conseguida com a colagem de areia de praia, coletada por Dina especificamente nas praias com a textura mais adequada, mais grossa. A palha da costa passa por um processo de fiação para ser utilizada na confecção do crochê, feito com agulhas próprias, finas, e agulhas de costura. Todos os detalhes são pensados — os espelhos de alguns orixás, por exemplo, têm detalhes metálicos colados para dar a ideia de reflexo — um detalhe primoroso que, junto a todo o processo, frequentemente enche as mãos de Dina de calos.

Foto de divulgação Artesol

A produção das estatuetas e patuás é ainda mais complexa, pois, além da técnica, seguem as referências do candomblé nigeriano. A ordem de montagem respeita a vestimenta religiosa: calça, saia e anáguas. O Exu dela, por exemplo, não tem tridente, pois este é um elemento iconográfico da cultura colonizadora. Ela busca representar os movimentos dos orixás “dentro de uma realidade, quando eles estão em terra”.

Nos patuás, utiliza a técnica de emenda de tecido ensinada pela bisavó paterna, que fazia à mão. A avó chamava de “pedacinho de taco”, usado para fazer saias e colchas; Dina usa essa técnica e reverte o uso ao construir patuás.

Ela é uma artista ímpar no trabalho com palha de milho, o que traz mais relevância ao seu trabalho na cidade de Salvador.

Sobre quem cria

Dinalva Maria Bispo dos Santos, que prefere ser chamada de Dina, é natural de Salvador. Seu artesanato é profundamente marcado pela herança familiar e pela ancestralidade. Para ela, é essencial que seu trabalho dialogue com a cultura nigeriana e com o candomblé de matriz nigeriana. Sua família, tanto do lado paterno quanto do materno, é descendente de nigerianos. Seu bisavô veio diretamente da Nigéria para a Bahia e, junto a outros doze companheiros, fundou o primeiro candomblé em solo baiano. Essa linhagem familiar carrega uma imensa riqueza cultural, mas também os efeitos persistentes da colonização.

Foto de divulgação Artesol

Essa herança atravessa toda a trajetória de Dina. Ela iniciou sua vida profissional como maquiadora, mas se incomodava com a ausência de produtos pensados para peles negras. O incômodo, no entanto, se converteu em caminho quando passou a atuar no campo da cultura, onde permaneceu por mais de três décadas. Foi chamada para entrevistas e envolveu-se em pesquisas sobre a cultura nigeriana e as questões raciais no Centro de Cultura Afro-Oriental da UFBA. Esse mergulho lhe possibilitou revisar representações e reparar equívocos simbólicos na criação de seus orixás.

Ao se reaproximar do artesanato, Dina conta que “estalou a lembrança da palha de milho aprendida (com a mãe)”. O saber-fazer ocorreu por transmissão familiar no espaço da casa, sobretudo pela mãe e a avo. Ela se lembra de ver a mãe fazendo ornamentos para a casa. A partir de determinado momento, isso se tornou uma atividade que elas passaram a fazer juntas. As principais técnicas que utiliza são a montagem e a costura: a primeira foi profundamente influenciada pelos aprendizados com a mãe; a segunda, com a avó.

A transmissão de uma história ancestral está presente em cada detalhe de seu trabalho. A palha de milho, assim como o próprio milho, tem grande força simbólica no mundo espiritual, estando associada ao orixá Oxóssi. Por isso, seu trabalho é também um resgate. Não se trata apenas de contar a história da mãe ou da própria família, mas de dar continuidade à memória de um povo, de uma ancestralidade coletiva, frequentemente invisibilizada pelas práticas colonizadoras.

Sobre o território

Salvador, capital da Bahia, é uma cidade litorânea e solar, marcada por colinas que se debruçam sobre a Baía de Todos-os-Santos. O clima tropical envolve a paisagem urbana, destacando o azul do mar e o verde das matas. Cidade histórica, é fortemente marcada por tradições populares. O artesanato em todo o estado da Bahia carrega os complexos processos de troca cultural que atravessam sua história.

Seu nome é um encurtamento de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, uma referência a Jesus, o salvador na fé católica trazida pelos colonizadores portugueses, e ao local onde está, e à Baía de Todos-os-Santos. Umas das mais antigas cidades da América, foi fundada em 1549 e funcionou como a capital do Governo Geral até o ano de 1763. 

Principalmente nos séculos XVIII e XIX, Salvador recebeu um grande contingente de negros escravizados, trazidos de diferentes partes do continente africano. Esse longo e triste período da história reflete nas características populacionais da cidade até hoje. Mais de 80% da população de Salvador é autodeclarada negra, o que a torna a capital mais negra do Brasil. 

Essa herança deu origem a religiões de matriz africana identificadas por nações, como a Ketu, Angola, Jeje e Ijexá, que possuem particularidades em seus rituais e vocabulários. A religião tem um importante papel nas dinâmicas espaciais e culturais da cidade. Um mapeamento realizado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia registrou, somente em Salvador, 1.165 terreiros de candomblé. 

Membros relacionados

Patrocínio
Institucional Master

Realização

Opções de acessibilidade