A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Mestra Ivanilde Reis de Nascimento  


Mestra Ivanilde Reis faz arranjos a partir das técnicas de esqueletização e trançado, sempre utilizando matérias-primas naturais como folhas secas, fibra de buriti e de bananeira, cipó e cascas de frutos do Cerrado.

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Alexânia – GO

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Sobre as criações

Mestra Ivanilde Reis faz arranjos a partir das técnicas de esqueletização e trançado, sempre utilizando matérias-primas naturais como folhas secas, fibra de buriti e de bananeira, cipó e cascas de frutos do Cerrado. Especialista em manejo, ela é responsável por todo o processo de produção: desde a colheita, o preparo da matéria-prima até a montagem.  

O processo de Mestra Ivanilde começa pela colheita, que envolve muitas sabedorias, as quais ela vem aprendendo e ensinando sobre elas em suas trocas com outros mestres e artesãos. Ela e o filho trabalham colhendo as matérias-primas, o que é feito de maneira sustentável, sempre com muito cuidado com a natureza. “Se não tiver cuidado, aquilo acaba”. Tudo tem o tempo certo de colher: as cascas de frutos, por exemplo, só podem ser colhidas quando o fruto abre e solta a semente. Para as folhas, ela nunca quebra galhos, por isso o trabalho é feito pelos chamados “catadores de folhas”. A folha tem 3 fases e só pode ser colhida quando está na fase verde-escura, se não pode trazer problemas para as plantas. A colheita de folhas é feita apenas uma vez ao ano: começa em novembro e vai até março, e ela precisa colher para o ano todo, porque, no resto do ano, não se colhe. Ela tem toda a área de seu entorno mapeada: “De Minas Gerais até o Tocantins, conheço igual a palma da mão”. Como sua colheita é sustentável, só precisa de autorização dos proprietários: ela vai em loteamentos, fazendas e beira de rodovias e costuma fazer uma troca, levando mudas para plantar nas nascentes.  

Em seguida, Mestra Ivanilde passa para o preparo da matéria-prima, que também envolve técnicas que ela vem aprimorando em seus anos de artesã. Ela conta que para as folhas, existem 3 tipos de preparo: água da chuva (ficam no tambor de 6 meses a 1 ano para chegar na esqueletização) e buraco em terra sem produto químico (alternando entre camada de folha e de terra, de 6 meses a 1 ano), que são processos mais demorados; e o processo mais rápido: o cozimento. Para este, cada tipo de folha tem um tempo diferente e, depois de ferver, vem a parte química – com soda cáustica, barrilha e bicarbonato. Em seguida, lava-se, tira-se o excesso da soda, e coloca-se as folhas para clarear. A água é usada para 5 ou 6 cozimentos, até não ter mais soda cáustica nela, e nesse ponto ela serve de adubo para a bananeira. Depois que clareia, vem a secagem e, se ela quiser tingir, vai para o tingimento, que pode ser natural (com casca de cebola, outras folhas de outras árvores, beterraba, pó de café, cenoura) ou artificial (com anilina).  

A última etapa é a montagem. “Aí vai da criatividade, o que manda é ela. A cabeça tá a mil, olho para um lado, vejo, e já tô criando”. Entre suas obras estão especialmente arranjos e guirlandas feitos de flores, folhas e fibras desidratadas, terços de buriti e fibra com o Divino Espírito Santo, colares decorativos de buriti, porta guardanapos artesanais e mandalas. Todas as suas peças têm forte inspiração do Cerrado e ela também trabalha muito com artesanato representativo das Festas do Divino.  

Sobre quem cria

Desde a infância, no Tocantins, Ivanilde Reis do Nascimento já ajudava a avó a fazer coisas para casa. Aprendeu com a avó como colher, como tratar matéria-prima do campo, e também a bordar e a trançar. “Nessa época já tinha talento, vontade e curiosidade com o que via no campo.” Ela mudou para Goiás em 1994 e só então começou a vender suas peças. A partir de sua vontade de se especializar, criou uma linha de bordado de mesa e banho e uma linha sacra.  

Em 1996, tornou-se servidora pública e assim pôde explorar sua curiosidade pelo Cerrado, pelo mato. “Queria dar vida àquilo que estava sendo descartado pela natureza.” Mestra Ivanilde foi trabalhar na área da cultura do município e assim começou a conhecer e ajudar outros artesãos do seu município. A partir de seu conhecimento sobre matérias-primas e manejo, em 1998, começou uma pesquisa sobre o Cerrado junto com biólogos, para trabalhar a parte química. Pesquisou por uns 3 ou 4 anos: como colher, onde colher, durabilidade etc., e continua pesquisando até hoje. Por volta dos anos 2000, começou a vender seu produto feito das folhas, cascas e fibras do Cerrado. Nesse meio tempo, sempre passou o conhecimento para frente, dando cursos e trocando com outros artesãos pelo Brasil inteiro, além de ter ensinado durante 14 anos na escola agrícola sobre o Cerrado. Na comunidade, ela também desenvolveu alguns trabalhos, e já tem discípulo que trabalha com o artesanato, depois de ter se identificado com um tipo de matéria-prima. Foi reconhecida como Mestre em 2018 por seu repasse de conhecimento de mais de 20 anos. Mãe de 6 filhos, ela conta que hoje eles trabalham em família. “A arte na minha vida, ela é tudo. O que eu tenho hoje, é tudo tirado da arte”.  

Sobre o território

Mestra Ivanilde é servidora pública da área da cultura em Alexânia desde 1996 e a partir do seu cargo pôde conhecer muito o município, os artesãos, além da vegetação e da cultura de toda a região. “Alexânia é uma localidade excelente: é rico em matéria-prima, aprendi muito com o andar dos outros artesãos. Apesar de ser de áreas diferentes, a gente aprende a chegar”. Além disso, o território tem importância especial para o seu artesanato por conta do Cerrado e do Festejo do Divino Espírito Santo, festival tradicional do Estado. Mestra Ivanilde busca criar peças que identifiquem essa cultura, e também auxiliar artesãos a criar novas obras. Para ela é muito importante a valorização e o trabalho da cultura local. Uma das obras dela que representa essa cultura do Município e do Estado é a Pomba de Buriti, que aprendeu com o pai e hoje mantém e recria essa tradição.  

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