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Sobre as criações
O grupo familiar Fibra e Arte trança diversos tipos de fibras produzindo cestos, bandejas, boleiras, tapetes, luminárias, chinelos e o que mais a imaginação lhes permitir.
O trançado está na família há pelo menos três gerações, e é uma das principais atividades produtivas do seu território, o Quilombo do Campinho, em Paraty (RJ).
As artesãs e artesão trabalham com cinco tipos de fibra: a taboa, o cipó imbé, o bambu, a taquara, cipó ticumpeba e a fibra da juçara – todas espécies encontradas na Mata Atlântica. Preferem trabalhar com a taboa e a taquara, por estarem disponíveis em abundância no Quilombo.
Para colher a taboa, que cresce em brejos e locais alagadiços, vão bem cedo e em grupo, junto a outras famílias artesãs do quilombo. Por vezes encontram bichos indesejados, como aranhas, sanguessugas e cobras – com quem os encontros rendem boas risadas. Passam o dia colhendo a fibra, que depois é transportada, deixada para secar por alguns dias, raspada, trançada, costurada de modo a ganhar a forma e o tamanho desejado, por fim, é finalizada com resina à base de água.
Todo o processo de colheita e extração das matérias-primas é feito de forma responsável e sustentável: da taboa só retiram os feixes, para que possa rebrotar; da taquara só se retira em lua minguante e quando está madura; da juçara se usam as fibras onde ficam os frutos, que são aproveitados em polpas e sucos. O cipó imbé tem sido menos usado, por ser mais difícil de extrair.
A produção artesanal do quilombo, inicialmente relacionada ao processamento e armazenamento dos alimentos, hoje está mais ligada à decoração. Produzem peças cheias de histórias e que se tornaram uma marca do território – o cesto de galinha, inventado pela Dona Madalena, é reconhecido como um símbolo do quilombo do Campinho.
Sobre quem cria
O Fibra e Arte é composto pelo núcleo familiar formado por Agilsa, Paulo, Cátia e Valquíria. Dona Agilsa é filha de casal que foi representante do fazer artesanal no Quilombo do Campinho durante décadas: Dona Madalena e Seu Valentim, ambos já falecidos. Os pais aprenderam a trançar o tipiti com a fibra da taquara, espécie de bambu de casca amarelada. Aprenderam fazendo e refazendo o tipiti, trocando com familiares e vizinhos, até dominaram o trançado com essa fibra. Dona Madalena se fez uma referência do artesanato do Quilombo do Campinho, repassando seus saberes a quem quisesse aprender na comunidade.
Dona Agilsa aprendeu ainda criança o trançado da taquara com a mãe, Dona Madalena, que também ensinou às netas, Cátia e Valquíria. “A gente fazia os fundos dos cestos que ela ia vender”, conta Cátia. Depois que aprendeu o trançado da taquara com a mãe, Agilsa buscou trançar outras fibras e ensinou seu saber-fazer às filhas.
O trançado, junto à agricultura, garantiu a subsistência de muitas famílias do Quilombo durante bastante tempo. Porém, com o crescimento da especulação imobiliária na região e a construção de grandes condomínios próximos a rodovia Rio Santos, várias pessoas saíram para prestar serviços nas casas e condomínios da região. Dona Agilsa, que começou a trabalhar com artesanato aos 17 anos, saiu para trabalhar nas casas da região quando a renda com o artesanato não era suficiente. Já o Paulo, aprendeu Artesanato com a esposa e um amigo, Reginaldo, que o ensinou a trabalhar com o bambu. Hoje, ele produz peças artesanais e móveis em bambu. Foi durante a pandemia que as filhas, principalmente a Cátia, passou a divulgar as peças pela internet e começaram a receber mais pedidos. Desde então, a família tem se dedicado a produção artesanal, atendendo a pedidos de lojistas e clientes de todo Brasil. Contam com o apoio do Sebrae-RJ, que presta assessoria em precificação e divulgação. Atendem no seu ateliê, que fica próximo à casa da família.
Sobre o território
O Quilombo do Campinho da Independência é uma área de 297 hectares, às margens da Rodovia Rio Santos (BR 101), na altura do Km 589, entre os municípios de Paraty (RJ) e Ubatuba (SP).
O quilombo foi fundado por três irmãs: Antonica, Marcelina e Luiza, ex-escravizadas da fazenda da Independência, onde fica atualmente o Quilombo. Conta-se que com a abolição da escravidão, os senhores doaram as terras às três irmãs. Outras versões contam que após a abolição, os proprietários abandonaram as terras, que foram divididas entre aqueles que lá trabalhavam e viviam.
Mesmo já morando nas terras há décadas, a partir dos anos 70 os moradores do quilombo sofreram ataques de grileiros que tentaram se apossar das suas terras, valorizadas após a construção da Rodovia Rio Santos (BR 101). A resistência da comunidade lhes permitiu continuar no território e na década de 90 foi fundada a Associação dos Moradores do campinho (AMOC), e cinco anos depois alcançaram uma conquista história: em março de 1999 o Quilombo do Campinho da Independência finalmente recebeu a titulação das terras, sendo a primeira titulação de um território quilombola no estado do Rio de Janeiro.
As principais atividades econômicas das famílias do quilombo atualmente são a agricultura de subsistência, voltada a plantação de mandioca, feijão, milho, banana, palmito juçara e cana de açúcar. Através da Associação de moradores, a comunidade construiu uma experiência exitosa de Turismo de Base Comunitária, na qual os turistas podem conhecer o roteiro cultural guiado, que mostra o cotidiano, o modo de produção agroecológico, o premiado Restaurante do Quilombo, a casa de farinha, a casa de artesanato e as manifestações culturais, como a roda de jongo e capoeira angola.