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Sobre as criações
O barro das margens do Rio Ipojuca, que passa pelo bairro do Alto do Moura em Caruaru, possui acentuada característica plástica, ideal para o estilo de modelagem realizada na região. É retirado com os cuidados necessários para a manutenção sustentável das jazidas e perpetuação dos saberes do ofício.
A preparação é feita aguando e pisando a argila até que fique homogênea, depois a massa úmida é passada por peneiras para retirada de pedras e raízes e está pronta para a modelagem da reconhecida arte figurativa.
Começam a modelagem pelo corpo ou pelo rosto, depende da dimensão da peça. A secagem leva de 2 a 8 dias, enquanto a queima, dependendo do tamanho do forno a lenha, leva até 8 horas. Começam o processo inserindo pequenas quantidades de lenha até que o forno todo alcance a mesma temperatura para então cardear, ou seja, inserir uma grande quantidade de lenha aumentando a temperatura com fogo intenso. Depois de cardear é possível decidir se a peça sairá branca ou toda preta controlando a quantidade de brasa e fumaça que entra no forno – a fumaça escurece as peças e por isso chamam essa técnica de “forno preto”. A pintura em cores intensas é realizada após a queima utilizando tintas à base d’água e tintas plásticas.
A arte louceira, criação de peças utilitárias em barro, é antiga herança das indígenas Kariris. Com forte influência também das técnicas de matrizes africanas e européias, as mulheres ribeirinhas produziram por gerações as louças que serviam para uso cotidiano. Graças aos olhos atentos e mãos inquietas do pequeno Vitalino, que com o barro que a mãe trabalhava forjou seus primeiros boizinhos em formato de brincadeira, e à criatividade de inúmeros mestres e mestras, é que temos a expressão tão única no mundo.
Sobre quem cria
Foi em 2014 que um grupo de mulheres artesãs do Alto do Moura decidiu se unir pelo desejo de reconhecimento enquanto artesãs. Muitas mulheres da comunidade trabalham junto aos maridos e demais homens da casa na criação e feitura das peças, mas não eram reconhecidas como artesãs, ficando muitas vezes restritas aos papéis de mãe, esposa, cuidadora. Local conhecido por seus mestres, poucas são as mulheres que receberam o mesmo título, apesar de terem um papel central na continuidade da tradição. Marliete Rodrigues, integrante do grupo é a única mestra reconhecida, até o momento, pelo estado.
O grupo tem a iniciativa de fomentar o artesanato feminino no Alto do Moura, impulsionando em todas seu dom e criatividade, buscando revitalizar as tradições do artesanato figurativo, os traços culturais da comunidade e repassar o conhecimento em oficinas com base na prosperidade do artesanato em barro.
O projeto ainda jovem já foi reconhecido em importantes prêmios estaduais, como o Prêmio Ariano Suassuna em 2019, Prêmio de Cultura Popular em 2018. Desde o início participam de feiras como Festival de Inverno de Garanhuns e FENEARTE com apoio do SEBRAE PE, além de inúmeras exposições em galerias e espaços culturais.
As mais de 20 artesãs levam o projeto com muito orgulho e trabalho duro, tendo o espaço para visitação, exposições, vendas e oficinas inaugurado em maio de 2019. Como conta Driele, artesã do grupo, o barro “é conhecido como ouro negro porque dá todas as possibilidades de vida e de melhora”.
Sobre o território
Às margens do rio Ipojuca, na região mais ao alto, vivia a família Moura. Virou costume da população ribeirinha referir-se ao local como Alto dos Moura e esse costume permaneceu, mesmo mudada a configuração social do local. Hoje o bairro a 7 km da cidade de Caruaru, no Agreste Pernambucano, abriga mais de mil artesãos que trabalham com a arte figurativa no barro.
Há gerações que as propriedades plásticas do barro são conhecidas e a produção louceira, de objetos utilitários, era ocupação das mulheres. Com o crescimento da feira de Caruaru, o ofício antes voltado ao uso cotidiano foi aos poucos fortalecendo-se como fonte de renda.
Desse mesmo barro é que Mestre Vitalino começou a modelar suas primeiras figuras, ainda na infância, e colocou o Alto do Moura no mapa da Arte Brasileira na primeira metade do século XX. Inventivo, recriava na matéria inerte cenas do cotidiano sertanejo que vivenciava. Com o reconhecimento e aumento da procura, o mestre passou seus conhecimentos e em novas mãos, novas formas o barro ganhou. Cada artista, e são muitos reconhecidos no bairro, colaborou com o reconhecimento e valorização do ofício.