A Rede Artesol - Artesanato do Brasil é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Instituto Magü’ta Ümatüna 


“Queremos produzir pra dar uma vida melhor aos nossos filhos”. A produção artística e artesanal do povo Tikuna é diversa e muito rica, tanto para uso cotidiano quanto para uso ritual. Produzem cerâmicas, cestaria, biojoias, bancos e telas com pinturas e grafismos.

Mostrar contatos

AbrirFechar

Os contatos devem ser feitos preferencialmente via Whatsapp.

Contato Lindalva Felix Zaguri | Me’tana Magü’ta
Território Indígena Feijoal, Sede do instituto: Rua Tchomaücü, S/N – Comunidades indígenas Feijoal , CEP 69.630-000

A Artesol não intermedeia relações estabelecidas por meio desta plataforma, sendo de exclusiva responsabilidade dos envolvidos o atendimento da legislação aplicável à defesa do consumidor.

Sobre as criações

“A arte que produzimos, não precisamos fazer curso de graduação. Essas mulheres dentro da nossa cultura nascem com essa inteligência”.

Lindalva Felix 

  O ritual da Moça Nova é um momento marcante de transmissão de alguns dos saberes ancestrais e artísticos do povo Tikuna, o povo Magü’ta. Ocorre no momento da primeira menstruação das meninas, no qual elas param de trabalhar e após realizar pintura corporal com jenipapo preparando o corpo para se proteger do mundo, ficam reclusas recebendo ensinamentos da mãe e da avó. WORECÜTCHIGA, o ritual da Moça Nova é uma cerimônia muito antiga, conta-se que data do início do mundo, depois que o Deus Yo’i e Ipi pescaram seu povo no Eware. “O ritual é uma teia de significações tecida pelos antigos ancestrais Tikuna e pelos seus seres protetores imortais (Yói, Ipi e muitos outros)”, conta Salomão Clemente. 

É uma cerimônia que marca a passagem nas vidas das meninas, tem significados espirituais e sociais profundos, de preparação para vida adulta e manutenção da cultura do povo Tikuna. É nesse momento que os conhecimentos e saberes do povo são transmitidos dos anciões para os mais jovens. Os saberes artísticos e artesanais também são passados das mães e avós para as mais jovens, quando lhes ensinam a trabalhar com as fibras para produzir cestos, bolsas, biojóias, plantar e fazer roça. 

Créditos: Rafael Costa – Coleção Bancos Indígenas do Brasil (BEI)

As artistas tikuna utilizam diversas fibras para a produção da Bakará, a cestaria: tucumã, cipó imbé, buriti e arumã para a produção de bolsas, cestos e esteiras. Já os colares, brincos e pulseiras são feitos com as fibras colhidas e sementes, como a semente de jarina, tucum, coco e madeira, e são produzidas para uso cotidiano e para comercialização.  

Os bancos tikuna são feitos pelos homens e mulheres da aldeia. Para fazê-los utilizam árvores e troncos caídos, evitando derrubar árvores que estão de pé. Utilizam as madeiras disponíveis na mata: tanibuca, cedro, pau-brasil, matamatá, entre outras. A produção dos bancos é lenta e trabalhosa, levando cerca de 3 dias para produzirem cada peça. A feitura dos bancos, que agora conta com participação feminina, envolve limpar a madeira, entalhar o tronco e pintá-lo, utilizando tintas naturais à base de urucum, casca de pau-brasil, jenipapo e açafrão. Os bancos são esculpidos inspirados nos animais da mata e pintados. As pinturas e os grafismos utilizados são parte dos acordos estabelecidos entre os diferentes clãs do mesmo povo, pois cada clã tem um tipo de grafismo: jiboia, jararaca, onça, jabuti. Ao pintar, a artista utiliza dos grafismos existentes, mas combinando-os de forma particular, fazendo com que cada banco tenha um caráter único. Do mesmo modo, as telas são pintadas, em sua maioria por mulheres, com tintas à base de jenipapo, urucum e açafrão sob tecidos de algodão. Retratam uma percepção sensível e artística do mundo, da natureza e da cosmovisão Magü’ta. 

Sobre quem cria

O Instituto Magü’ta Ümatüna é fruto de uma reestruturação ocorrida em 2022 da Associação de Mulheres Indígenas Ticunas (AMIT). A associação foi criada em 2006 com o objetivo de gerar trabalho e renda para as mulheres da Terra Indígena do Feijoal. Lindalva Félix, cujo nome indígena é Me’tanã Magü’ta, teve e tem um papel importante de liderança na comunidade. Saiu do território para fazer faculdade na Universidade de Brasília em 2012 e retornou em 2021. Lindalva se recorda que ao sair da aldeia, aos 22 anos, passou por dificuldades e começou a fazer arte para vender, produzindo os colares, pulseiras e brincos que viu sua vó fazendo com o facão e a lixadeira. Conta que assim enfrentou as dificuldades e mantinha a memória da avó viva: “Cada vez que eu fazia arte, lembrava da minha avó”. Ao retornar para o Amazonas, somou forças aos artistas e artesãos e decidiram juntos retomar a luta em prol das tradições Tikuna. 

O trabalho do Instituto contempla tanto artistas e artesãos quanto outras formas de trabalho e geração de renda do povo Tikuna na Comunidade do Feijoal e comunidades ao redor, envolvendo cerca de 75 pessoas no total. Sua atuação está voltada para a valorização e o resgate da cultura tradicional Tikuna, que sentem ter sido deixada de lado em detrimento de outras expressões culturais e religiosas. Por meio da educação, da geração de renda e da valorização do fazer artístico e cultural, querem resguardar e perpetuar as tradições do seu povo. 

Sobre o território

Localizada na região do Alto Solimões, na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, está o Feijoal, Território Indígena demarcado desde 1986 no município de Benjamin Constant. Com cerca de 4.500 moradores, está envolto de uma exuberante vegetação da floresta amazônica. 

Na década de 80 as organizações Tikuna lutaram pela demarcação das terras ocupadas, assim como pelo direito à saúde e a educação para os povos indígenas. Conseguiram a demarcação das suas terras, e tiveram experiências exitosas em educação, com o Projeto de Educação Ticuna, voltado a formação de professores indígenas da região do Alto Solimões, que chegou a envolver até 220 professores de diferentes municípios da localidade. Desenvolvido pela Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngue (OGPTB), a iniciativa propunha um currículo bilíngue, português e Ticuna, desenvolvendo material próprio e agregando projetos de saúde na escola.  
O Instituto Magü’ta Ümatüna, assim como outras organizações locais, dá continuidade à luta pelos direitos dos povos tikuna, atuando na promoção de trabalho, renda e de manutenção das tradições artísticas e culturais dessa população. 

Créditos fotos: Instituto Magüta Ümatüna

Membros relacionados