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Sobre as criações
A palmeira de piaçava, abundante nas roças de Ituberá, é matéria prima essencial para a produção do trançado e das biojoias pelo grupo Joias do Quilombo de Lagoa Santa. A “planta fibrosa”, com nome de origem tupi, é fonte de renda da população local, que vende a palha para produção do artesanato e também de vassouras. São os homens responsáveis pela coleta do material, que demanda treinamento e força para subir na palmeira e cortar a palha no local adequado.
A técnica do trançado mistura a ancestralidade dos indígenas e da cultura negra na comunidade Lagoa Santa, no baixo sul baiano, reconhecida como terra remanescente quilombola desde 2015. Nas mãos de 15 jovens e senhoras do povoado, o trançado dá forma a cestos, bandejas, sousplats e potes com acabamento sofisticado e detalhes bordados em linhas de cores vibrantes.
Conhecido como marfim vegetal, o coco da piaçava é cortado, lixado e polido em formatos dos mais diversos para composição de colares, brincos e pulseiras. Na confecção das biojoias, são também utilizados outros materiais com chifres de boi, madeira de pupunha e outras sementes, unidos em cordões 100% algodão. O design das peças e inspirado em formas orgânicas, criando peças expressivas e sofisticadas.
Sobre quem cria
O grupo de artesãs que hoje atua na comunidade foi capacitada pela Cooperativa das Produtoras e Produtores Rurais da APA do Pratigi (Cooprap) com foco na geração de renda extra para a comunidade e também na valorização de técnicas ancestrais ligadas à identidade e cultura quilombola. Hoje existem cerca de 14 artesãs ativas que se dividem entre o trabalho com o trançado e com as biojoias. Cada integrante trabalha na sua casa, mas as encomendas são coletivas. A produção é comercializada em feiras e para lojistas de São Paulo, Sergipe e Rio de Janeiro. Em 2014, o Grupo formalizou a Associação de Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia e passou por uma capacitação de design com o Sebrae. Na ocasião foi criada a nova coleção de produtos que inovam nas cores e nas formas orgânicas.
Sobre o território
A comunidade remanescente quilombola de Lagoa Santa fica entre os municípios de Ituberá e Nilo Peçanha, na região do Baixo Sul da Bahia. Em seu território, cerca de 200 pessoas vivem basicamente da agricultura familiar e do extrativismo. Os principais produtos cultivados são o cacau, a mandioca, a banana, o cravo, além das seringueiras e da própria palmeira de piaçava usada no artesanato. Os alimentos são destinados ao consumo e à venda na feira livre de Ituberá.
A área de 652 hectares foi delimitada pelo Incra em 2014 e é conhecida por suas famosas águas. A população local mantém uma relação mística com a lagoa, chamada de “Lagoa Santa”, onde as crianças são batizadas e casos e cura são atribuídos à entidade “Mãe D’ Água”. Muitas pessoas do estado viajam até o povoado para fazer promessas para São Brás e pra entidade. Para o reconhecimento da comunidade, o órgão governamental leva em conta a história de formação e ocupação do território, considerando a ancestralidade, a tradição e a organização socioeconômica. Segundo as pesquisas antropológicas realizadas na comunidade, a ocupação do território teria se iniciado entre os séculos XIX e XX, com aquisição de terras por parte de famílias afrodescendentes que se agregaram formando uma única comunidade.