A Rede Artesol - Artesanato do Brasil é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Luana Kogus


Luana cria cestos, balaios, luminárias, mandalas, bolsas e chapéus trançando as folhas do coqueiro. O material, flexível, resistente e vistoso, produz lindas peças decorativas e utilitárias.

Mostrar contatos

AbrirFechar

Os contatos devem ser feitos preferencialmente via Whatsapp.

Telefone (12) 99700-9368
Contato Luana
Massaguaçu, Caraguatatuba – SP

Sobre as criações

Luana cria cestos, balaios, luminárias, mandalas, bolsas e chapéus trançando as folhas do coqueiro. O material, flexível, resistente e vistoso, produz lindas peças decorativas e utilitárias. 

Todo o trabalho se inicia com a coleta das folhas, que é feita nos ecopontos da cidade de Caraguatatuba ou nos pontos de descarte de podas de árvores. Apenas quando é necessário ela faz a poda nos coqueiros, e sempre com cuidado para retirar poucas folhas, “corto duas ou três folhas no máximo, pra que ele esteja sempre a disposição pra quando eu precisar. Tem coqueiros que eu ia com meu pai quanto adolescente, e se eu voltar, ele estará de novo”.   

Depois de coletadas, as folhas são higienizadas, lavadas com água e sabão, e precisam secar, o que é feito com um pano ou naturalmente, se o clima permitir. Após secas, mas ainda flexíveis, ela começa a trançá-las. As folhas precisam estar ainda verdes, para que as pétalas continuem maleáveis. Entre lavar e produzir as peças corre cerca de 3 dias, no verão. No inverno pode demorar mais, podendo levar até 15 dias para que as folhas sequem e possam ser trançadas.  

Quando trançadas, as peças ficam secando e assim que secam, elas recebem o acabamento com verniz de madeira, anilina ou óleos naturais, como o óleo de peroba. O tipo de acabamento depende do pedido ou do tipo de peça.  

Para as bolsas, após feito o acabamento, elas ganham um forro de chita, feito por outras costureiras da cidade. Já as luminárias ganham uma base em madeira, que pode ser proveniente de descarte dos ecopontos, de sobras do seu trabalho – ela trabalha em uma madeireira durante o dia, ou com madeiras esculpidas pelo mar, nesse caso, as madeiras não precisam de tratamento, como conta: “O mar e a água salgada tratam a madeira, tem algumas que ficam meses boiando. Então eu só lavo, e faço um tratamento com óleos naturais e já uso para as peças. São peças únicas”. As luminárias são uma de suas peças mais requisitadas e que tem maior efeito visual. 

Sobre quem cria

Luana Cristalina Diniz Tizoni Kogus é filha e neta de artesãos. Seu pai foi quem lhe ensinou o artesanato quando ela era pequena. O pai fazia trançados com as folhas de coqueiro, produzindo chapéus, cestos e balaios. Ele contou que aprendera a trabalhar com o material com os indígenas do litoral norte de São Paulo. O material, abundante nas praias de Caraguatatuba, eram manejados com cuidado, de modo que Luana tira até hoje algumas folhas do mesmo coqueiro que o pai as tirava.  

Ele ensinou aos cinco filhos o trabalho com as folhas, mas apenas dois deram continuidade à prática, e somente Luana o faz até hoje profissionalmente. Ela é, pelo que se sabe, uma das poucas pessoas a perpetuarem essa técnica no estado de São Paulo, e se sente orgulhosa em dar continuidade à tradição aprendida com seu pai: “Meu pai faleceu há 20 anos. Se eu não tivesse aprendido com ele, essa técnica teria morrido. Aqui na região, só tem eu e mais uma pessoa que trabalhamos com ela”. 

O trabalho com a fibra a ajudou a pagar os custos da sua faculdade e continua sendo uma fonte importante da renda familiar. Mas o trabalho com o trançado vai além do retorno financeiro, ela afirma que “é um conhecimento que não preço, não tem valor, é imaterial. É maior que uma herança monetária”.  

Ela participa da feira permanente de Caraguatatuba, que ocorre de quinta a domingo, na qual divide o estande com uma amiga e artesã. Elas se ajudam, revezam no cuidado com o estande, e criam peças juntas.  

Luana acredita que o trabalho em coletivo é uma maneira de defender e manter os saberes artesanais vivos. Por isso, compõe a União dos Artesãos de São Paulo, que integra a Federação dos Artesãos de São Paulo, e a Associação de Artesãos de Caraguatatuba. Além disso, junto com outros quatro artesãos da cidade, fundaram o grupo Tradições e Saberes. Nesse grupo, cada artesão trabalha com uma técnica e com os materiais disponíveis na região: escamas de peixe, cerâmica, taboa, fibra de coqueiro e madeira. Juntos, criam peças e querem compartilhar seus conhecimentos, realizar eventos, dar oficinas. Aos poucos o sonho coletivo vai se concretizando, e os seus saberes, ganhando outras mentes e corações. 

Conta que seu sonho é um dia ser reconhecida como mestra pelo seu trabalho com as folhas de coqueiro e deseja perpetuar a técnica que aprendera com o pai: “Quando crescer eu quero ser mestre também, precisamos difundir os conhecimentos”. 

Sobre o território

Conta-se que o nome Caraguatatuba é uma junção dos termos Karagûatá  e Tyba, que significaria um ‘ajuntamento de caraguatás’. Já Caraguatás é uma nomenclatura comum para diversas espécies de plantas epífitas e terrestres da família das bromélias, que crescem bem no clima tropical úmido, com chuvas e temperatura amena, características da região. A vegetação predominante na cidade, para além das bromélias, é a exuberante Mata Atlântica que cobre a Serra do Mar de verde. 

A história oficial da cidade data do início do século XVI, com a divisão do Brasil em 15 Capitanias Hereditárias, das quais fazia parte o território de Caraguatatuba, integrando a Capitania de Santo Amaro, que ia da foz do rio Juqueriquerê, em Caraguatatuba, até Bertioga, outra cidade no litoral norte de São Paulo.  

Foto de divulgação Artesol

No século seguinte, a região foi doada a outro proprietário para a produção de alimentos. Entre 1664 e 1665 começou a crescer o povoamento, com a construção de prédios e a igreja de Santo Antônio. Em 1710 o povoado foi elevado à condição de Vila de Santo Antônio de Caraguatatuba, e apenas em 1847 foi elevado à condição de Freguesia, recebendo assim emancipação política e administrativa.  

Em 1918 a população foi acometida por um surto de gripe espanhola, e diminuiu significativamente. A instalação da Fazenda dos Ingleses atraiu famílias estrangeiras que provocou o aumento da população e movimentou a economia da cidade. Em 1967 ocorreu uma catástrofe, quando chuvas ininterruptas provocaram deslizamentos, e os morros, com lama, terra e vegetação encobriram a cidade. O saldo de morte foi significativo e a cidade se reergueu anos depois, se tornado então a capital do litoral norte de São Paulo, conhecida por suas praias e pela vegetação, atração para turistas e locais.  

Pouco se sabe sobre os indígenas que habitavam a região, mas é certo que seus hábitos e os modos de vida influenciaram a vida local. Luana conta que seu pai aprendera a trançar com os indígenas, muitos anos atrás. Outro traço relevante do legado da presença indígena no território é a população tradicional caiçara, que teve seus primeiros registros na região no início do século XX. Vivendo da pesca, do cultivo de alimentos nas roças, do artesanato e do trabalho para terceiros, essa população resiste em todo litoral norte, inclusive em Caraguatatuba. 

Membros relacionados