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Espaço Cultural Mamulengo de Cheiroso 


“O boneco é uma representação do que a gente não pode dizer, o boneco é esdrúxulo, é carente, é gaiato, é louco, é humilde, tem várias façanhas” – José Augusto Barreto.

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Sobre as criações

“O boneco é uma representação do que a gente não pode dizer, o boneco é esdrúxulo, é carente, é gaiato, é louco, é humilde, tem várias façanhas”.

JOSÉ AUGUSTO BARRETO

As mãos moles, molengas, originam a palavra mamulengo, e são indispensáveis para a manipulação dos bonecos que podem ter o formato de luva e serem encaixados nas mãos do artista. Manipulados por varas ou fios, são fortemente ancorados na cultura popular, e o grupo Mamulengo de Cheiroso tem como principal fonte de inspiração os folguedos e  danças brasileiras, em especial, as nordestinas. 

Os folguedos, uma tradição folclórica que combina elementos das culturas indígena, negra e européia, são a principal fonte de inspiração do grupo. Os estudiosos afirmam que as manifestações surgiram nas colônias, da relação entre as datas de celebração litúrgica, católica, com a cultura popular. São manifestações coletivas, com elementos teatrais e personagens definidas, que dançam e cantam com uma indumentária própria para a celebração, que se assemelha a uma peça dançada. Essa inspiração se faz muito presente no teatro de mamulengos, que é permeado de música e dança. As apresentações do grupo são sempre acompanhadas por uma banda de forró pé-de-serra, com zabumba, sanfona e triângulo. Espetáculos que mexem com o corpo e aguçam os sentimentos, levando aos risos e às lágrimas.  

“Esse trabalho é baseado nos folguedos da cultura popular, no reisado, no guerreiro, no São Gonçalo, nos Cocos, nas Cheganças, no Cacumbi. Por isso o canto e a dança são muito fortes pra nós”.

JOSÉ AUGUSTO BARRETO
Crédito das fotos: Melissa Warwick

Todos os bonecos são produzidos artesanalmente pelos artistas e artesãos do Mamulengo de Cheiroso. Sob encomenda ou à pronta entrega, a produção dos bonecos respeita os modos de fazer tradicionais, utilizando principalmente de madeira, argila e tecidos, raramente usam materiais sintéticos como espumas ou isopores. Preferem fazer como foram ensinados, garantindo assim a durabilidades dos bonecos. 

A madeira utilizada é recolhida nas matas, são coletados galhos e troncos caídos, coletados em regiões circunvizinhas, nos estados da Bahia e de Sergipe. Usa-se principalmente a Imburana, que passa por tratamento, ou o mulungu, madeira leve e resistente. As cabeças e as mãos, são entalhadas diretamente na madeira, aproveitando sugestões naturais do formato da própria madeira. Os mais antigos usam um formão para talhar a madeira, e o mais jovem, uma máquina, a mini retífica. 

Este é um dos poucos grupos que produzem também bonecos de cerâmica, algo que Augusto aprendeu há muito anos, com os antigos, fazendo bonecos de barro, baseado numa técnica sergipana de brincar, chamada Cassimicôco, também conhecida por casquinha de coco. Para produzir a cerâmica, colhem a argila na beira do rio do peixe, em uma região próxima, em Tanquinho. Usam uma argila abrasiva, mais “liguenta do que arenosa”. Augusto é quem molda a cabeça dos bonecos em argila, seguindo um dos três moldes de diferentes tamanhos, coloca uma pequena bola oca de argila na capela do dedo, modela um cone e faz olhos, boca e nariz com a ajuda de um palito de bambu. Além de cabeças de boneco, com a argila fazem miniatura de brinquedos para crianças, que são assados em um forno localizado na própria sede do grupo. 

Crédito das fotos: Melissa Warwick

Após esculpidos ou modelados, os bonecos passam por pintura e ganham um figurino, confeccionado à mão pelo alfaiate do grupo. Os tecidos são cuidadosamente escolhidos, dando preferência a chitas e tecidos à base de algodão. Assim os bonecos ganham forma e estão prontos para ganharem vida nas mãos dos artistas.  

Animam uma ampla gama de personagens populares e míticos: o Cheiroso, a Viúva Alucinada, o Benedito, a Cobra Jupira, Mãe Djalma, Simeão, a Cobra Grande, Clemilda, Gerson Filho (sanfoneiro e marido da Clemilda), a Raladeira de Mandioca (que canta e rala mandioca), Bastião.  
Cheiroso é um dos principais bonecos, criado por Augusto há mais de 45 anos. O anfitrião que abre as peças, é um palhaço popular, seu bordão começa com a declamação: “Muito bom dia, boa tarde, mestre cheiroso chegou!” e segue com uma declamação de rimas que convidam e preparam o público para o espetáculo.  

Os enredos do teatro são baseados nas histórias da cultura popular: o figo da figueira, no reino do Limo Verde, Maria Língua de Trapo, baseado no Reisado e a Rainha Genoveva, baseada no Guerreiro. É um teatro contemporâneo e muito antigo, que convida todas as gerações a um mergulho na cultura popular:  

“Pra entender tem que se jogar, entrar no jogo. É como entrar no mar, você se joga, se molha, se a correnteza não lhe levar você vai embora”.

JOSÉ AUGUSTO BARRETO

Além de ser um grupo reconhecido e consagrado pelo teatro de bonecos, produz vestimentas e figurinos para outros grupos de cultura popular. Com o conhecimento que acumularam ao longo dos anos dos festejos e celebrações tradicionais, produzem indumentário, chapéus, adornos e estandartes sob encomenda. Além, é claro, de fabricarem seus famosos bonecos, brinquedos em miniatura e peças figurativas em cerâmica. 

Sobre quem cria

Fortemente ancorado nas tradições culturais populares do nordeste do Brasil, o Espaço Cultural Mamulengo de Cheiroso foi fundado em 1978 por Aglaé Fontes, reconhecida estudiosa da cultura popular. O nome do grupo presta homenagem ao brincante pernambucano já falecido, o Mestre Cheiroso, um dos primeiros mamulengueiros dos quais se tem registro, que ficou muito conhecido no início do século XX. 

Nascido com a vocação de ser um teatro popular de bonecos, o grupo se perpetua durante quase cinco décadas através de exercício contínuo de criação e de amor à cultura popular. Dirigido por Augusto Barreto desde 1985, o grupo é composto pelo Mestre, a contramestra e sua irmã, Marlene Barreto, Artur Barreto, Pedro Freitas, Gustavo Floriano, Sashi Duarte, Mimi do Acordeon e Junior da Zabumba. Pedro é o alfaiate, Artur produz bonecos, é músico e brincante.  Marlene é artesã e brincante. Gustavo é da direção e é músico. Sashi é da produção. Mimi e Junior são músicos. Nas apresentações são acompanhados da banda de forró, que toca com eles a mais de quinze anos. 

Crédito da foto: Melissa Warwick

Cada um tem várias funções dentro do grupo: fazem as pesquisas para a elaboração das peças, produzem artesanalmente os bonecos, os figurinos, dão oficinas, produzem as peças. São múltiplas e complexas as funções desempenhadas com amor e afinco, para manter vivo um teatro do povo.

Periodicamente fazem visita a outros grupos e profissionais para trocar conhecimentos, técnicas, buscar novos materiais e fontes de inspiração. Assim, já visitaram mais de 100 lugares no Brasil, nas suas 5 regiões, além de outros países, como Portugal, França, Itália, Espanha, México e Índia, onde participaram de um encontro de teatro primitivo de bonecos. Dessa troca constante aprendem e ensinam, buscam coletar materiais sustentáveis e duráveis para seus bonecos, sobretudo madeira e materiais para os figurinos.  

O grupo assume as trocas com outras referências culturais e valoriza as manifestações culturais locais, sergipanas. Combina cânticos e cantigas populares, costumes cotidianos, expressões sergipanas, mitos e místicas locais, tornado-as fonte de abundante e renovada inspiração. É um teatro irreverente, ousado, mítico e mundano. 

  

Crédito das fotos: Melissa Warwick

“O Teatro de bonecos tem sua essência, é muito importante. É uma coisa milenar, vem desde as grandes navegações, passa pela Índia, até voltar ao Brasil. Mas é duro de manter”.

PEDRO FREITAS

Apesar do desejo de manter viva a tradição, reconhecem que o teatro de bonecos passa por uma crise e enfrentam dificuldade para manter seu acervo. A sede do grupo atualmente não comporta de maneira adequada todos os bonecos que construíram e ganharam ao longo dos anos. Pretendem, através de projetos, campanhas de financiamento coletivo e parcerias, construir o Memorial Mamulengo de Cheiroso, que engloba o espaço para acomodação do acervo, teatro para as apresentações e espaço para realização de oficinas.  

Sobre o território

O nome Aracaju tem origem Tupi, “arákíu”, ou “cajueiro dos arás”, sendo ará um gênero de aves e akaîu, cajueiro. Outras versões da tradução falam em Cajueiro dos papagaios. Conta-se que em uma das ruas que hoje é uma das principais avenidas da cidade havia muito cajueiros e neles pousavam papagaios e araras para comer e descansar, o que pode ter inspirado o nome dado à cidade. 

A região era ocupada pelos povos Tupis, mais especificamente os tupinambás, quando os europeus chegaram à Região, no século XVI. Ela permaneceu como povoado Santo Antônio de Aracaju entre os séculos XVII e XVIII, até que foi elevada à categoria da cidade e futura sede da província em 1855. Tendo sido escolhida por sua posição propícia para o escoamento da produção açucareira e pelo potencial de expansão da cidade. Sendo a segunda cidade brasileira a ser planejada, já que seu objetivo era sediar a capital da província de Sergipe, as primeiras ruas da cidade estão organizadas no formato de um tabuleiro de xadrez. 

A economia da cidade está baseada na exploração do petróleo, indústria e serviços, com destaque para o turismo. A orla de Atalaia, local onde fica a sede do grupo Mamulengos de Cheiroso, é um dos principais cartões postais da cidade, com rede de hotéis, restaurantes e áreas de lazer e cultura. 

A cidade é palco de grandes festas no período junino, com shows de artistas nacionalmente conhecidos e as famosas Quadrilhas juninas. A festa em homenagem a São João, marcada no calendário litúrgico no dia 24 de junho, início do solstício de inverno e período das colheitas, é celebrado com forró, alegria e fartura.  

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