Maqueson


Maqueson é o mais expressivo artista da marchetaria no Brasil e a floresta amazônica é sua maior fonte de inspiração e de matéria-prima. 

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Sobre as criações

A marchetaria é uma técnica muito antiga, que consiste em incrustar lâminas de diferentes materiais, como metal, marfim e madeira, em uma superfície para produzir um efeito decorativo. Maqueson trabalha com um tipo específico de marchetaria, por meio da sobreposição de finíssimas lâminas de madeira sobre madeira para criar imagens elaboradas. Suas peças causam deslumbramento pela riqueza de detalhes, cores únicas e efeitos de luz e sombra. A precisão técnica aliada às escolhas temáticas resulta em desenhos com volume, profundidade e surpreendente realismo. 

Em suas peças, usa lâminas com espessura de 0,5 a 0,7 mm de mais de 150 tipos de madeiras, oriundas da floresta amazônica e dos descartes da indústria moveleira. As cores são totalmente naturais, e é por meio da justaposição de tons, dos efeitos de contraste e do uso estratégico das manchas e variações da própria madeira que imagens da floresta ganham vida. Cria caixas, clutchs e marca-páginas, a exuberância das cores e das formas das araras, tucanos, beija-flores, toda a sorte de aves e outros animais que povoam suas copas. Algumas peças fascinam pelo inesperado realismo de “zoom in” em penas, asas de borboletas e escamas, apresentando padrões que provocam a curiosidade sobre a qual animal pertencem. A flora, como não poderia deixar de ser, também é trabalhada em composições surpreendentes, assim como cenas da paisagem acreana que podem ou não estar povoadas por humanos. 

Maqueson também domina grandes formatos, produzindo painéis em grandes dimensões. Destacam-se os painéis de doze metros cada do Teatro Plácido de Castro em Rio Branco – AC e a “Paisagem Amazônica com Pavãozinho do Pará”, encomendado pelo Banco da Amazônia em Belém – PA. E o conjunto de obras “História da Revolução Acreana” na Assembleia Legislativa do Acre, com imensos painéis que contabilizam 36 metros de comprimento, talvez o maior conjunto de marchetaria em todo o mundo. 

Sobre quem cria

Maqueson em seu ateliê | Créditos: Théo Grahl

Maqueson Pereira da Silva (1958) nasceu no Seringal Grajauzinho, na margem direita do Rio Juruá, quando Porto Walter ainda era um distrito do município de Cruzeiro do Sul – AC. Ali viveu até os 5 anos, época em que sua família se mudou para a Flora, uma comunidade localizada a cerca de 3 km rio acima, na margem esquerda. 

Filho e neto de seringueiros, seus avós migraram de Sergipe e do Ceará para o Acre em busca da riqueza da borracha. Primeiro filho de cinco irmãos, ouvia de seu pai que aprenderia a ler e seria doutor, expectativas que encorajaram seus sonhos. Seu avô, cego pela fumaça de coagular borracha, ensinou-o a ler com uma Cartilha de ABC e a contar com grãos de milho e feijão. 

Maqueson cresceu no meio da floresta, encantado pela magia das rimas que seu avô declamava de cor e pelas histórias inventadas pelo pai, nas quais o menino era sempre o herói. Com o pai, aprendeu a construir barcos e cortou seringa, enfrentando os igapós repletos de peixes elétricos que dão choques doloridos. 

Do pai também ouviu a promessa de que, se aprendesse a ler e escrever, poderia estudar com os padres alemães. Assim, com 14 anos, mudou-se para Porto Walter para estudar no Colégio José de Anchieta dos Padres da Congregação do Espírito Santo. Cumpridor da promessa, seu pai remava por dois dias para descer o rio e três dias para subir nas viagens das férias ao longo de quatro anos. 

Seu interesse em aprender e sua dedicação logo chamaram a atenção dos padres, que o estimularam a continuar seus estudos como seminarista. Sem nunca ter saído da floresta, Maqueson mudou-se para Salete, em Santa Catarina, com 18 anos. A mudança repentina para um local completamente desconhecido, com coisas que nunca havia visto, causou-lhe um misto de sentimentos que demoraram anos para ser compreendidos e se encaixarem. 

Sentia muita saudade de casa no seminário, pois não encontrava na vegetação e na geologia dali nada que lembrasse sua floresta. Em uma tentativa de se reencontrar, sentiu a necessidade de contar suas próprias histórias e tentou realizar algumas pinturas, deixando-o muito insatisfeito. Até que a marchetaria se impôs como uma rememoração: 

“A marchetaria surge quando eu não esperava. Eu nunca tinha ouvido falar em marchetaria. Eu fui estudar marcenaria, era obrigatório para atuar em localidades carentes de mão de obra especializada. Um dia, chegaram dois padres enquanto eu estava cortando quatro pedacinhos de madeira para fazer uma Nossa Senhora bem simples para um cartão de Natal. O padre chegou e perguntou o que eu estava fazendo. Eu quis desconversar, mas ele disse: ‘Isso que você está fazendo chama marchetaria. Se o senhor for para a Itália, pode aprender; os italianos trabalham muito bem com isso aqui. Mas o senhor precisa estudar desenho.’”

MAqueson

Com o padre alemão, chamado Theodoro Bang, Maqueson passou a estudar desenho. Também recebeu orientações do Irmão Guilherme Shüler, imprescindíveis para seu aprendizado na marchetaria. Seus primeiros trabalhos foram geométricos, mas logo passou a compor imagens mais complexas com temas religiosos. Também teve a oportunidade de estudar marchetaria na Itália e na Alemanha. 

Entre as idas e vindas entre o Acre e o sul do Brasil que se seguiram, Maqueson enfim entende que o seminário não é o seu caminho. Casa-se com a catarinense Linda, com quem teve três filhas, e decide, por fim, mudar-se definitivamente para Cruzeiro do Sul, onde instala sua oficina de marchetaria. Com a atuação de sua esposa na administração da empresa, aos poucos consolida seu trabalho e seu negócio, construindo uma empresa com identidade única no Brasil.  

Atualmente, sua oficina-escola oferece oportunidades de trabalho e renda para aqueles que têm vontade de aprender. Emprega 35 funcionários que trabalham sob sua direção artística e produzem, em média, 350 peças por mês. 

Já participou de exposições individuais e coletivas. Suas peças são vendidas, no Brasil, principalmente para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. No mercado internacional, exporta para o Oriente Médio, França e Itália.  

Sobre o território

Vista do Cruzeiro do Sul (AC) – Créditos Théo Grahl.

Cruzeiro do Sul é um município do interior do estado do Acre, há 632 km da capital Rio Branco. Está encravado em meio à floresta amazônica e é banhado pelas águas do rio Juruá. É o mais importante polo econômico e turístico do estado. Antes do início da ocupação por meio de expedições realizadas no século XIX, a região era habitada por diversos povos indígenas, como Náuas, Amahuacas, Jamináuas, Capanáuas e Caxinauás. 

O início do povoamento da região por populações não-indígenas tem estreita relação com a exploração de borracha do látex da seringueira e do caucho e foi alvo de disputa entre peruanos e brasileiros por anos. Até o século XX, a extração de borracha foi a principal atividade econômica da região, que hoje também compreende a exploração de madeira. 

A cidade orgulhosamente carrega o título de ser a produtora da melhor farinha de mandioca do mundo, a primeira do Brasil a possuir selo de Indicação Geográfica. Entre o plantio e achegada à mesa, a produção leva cerca de 9 meses e atravessa gerações, constituindo-se como um importante patrimônio cultural do estado e do país.

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