Matsiani Shanenawa
É arte que se tornou resistência e sustento: hoje, cada vez mais mulheres da aldeia descobrem nesse saber antigo uma forma de gerar renda familiar e mostrar seu valor único, criando um movimento coletivo de empoderamento feminino que fortalece toda a comunidade através da valorização de suas tradições artesanais.
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Sobre as criações
Das mãos de Matsiani nascem brincos delicados tecidos com fibras de chila, pulseiras coloridas que dançam nos pulsos e cordões que carregam a força ancestral do povo Shanenawa. A chila, palmeira generosa que cresce nos arredores da aldeia Morada Nova, oferece suas fibras que são cuidadosamente desfiadas linha por linha e secas ao sol do Acre antes de ganharem nova vida nos adornos. Cada brinco, trabalhado manualmente desde a preparação da matéria-prima, torna-se portador de histórias antigas, enquanto as miçangas coloridas – pedrinhas da marca jablonex que chegam de São Paulo através de fretes caros – encontram seu propósito verdadeiro ao se transformarem em anéis, pulseiras e cordões que misturam técnica contemporânea aos desenhos sagrados.

A produção segue ritmos e técnicas transmitidas através de gerações: as penas são amarradas com precisão milimétrica, formando pequenas flores que dançam nos adornos, cada movimento das mãos seguindo os ensinamentos que fluíram de sua avó e seu pai. Cestas tradicionais, sutiãs de chila, saias tradicionais, vasos de barro, panelas e tigelas de cerâmica completam o repertório de criações que mantém vivas as técnicas tradicionais deste povo. Não há pressa no processo criativo – cada peça demanda seu tempo de cura, sua paciência de confecção, seu momento certo de nascer.
Cada desenho bordado em miçangas, cada padrão tecido em fibras não é apenas decoração, mas linguagem viva que fala da identidade Shanenawa. Quando um brinco é precificado, ali estão contidas não apenas as horas de trabalho manual, mas as manhãs de coleta na floresta, o conhecimento ancestral de preparação dos materiais, os significados profundos gravados em cada traço e cor. É arte que se tornou resistência e sustento: hoje, cada vez mais mulheres da aldeia descobrem nesse saber antigo uma forma de gerar renda familiar e mostrar seu valor único, criando um movimento coletivo de empoderamento feminino que fortalece toda a comunidade através da valorização de suas tradições artesanais.
Sobre quem cria
Desde os oito anos, as mãos pequenas de Matsiani aprenderam a dançar entre fibras e sementes, guiadas pela sabedoria paciente de sua avó. Cestas, cordões, pulseiras e sutiãs de chila nasciam sob os olhos atentos da menina, que absorvia não apenas a técnica, mas o amor profundo por cada gesto criativo. Com o tempo, vieram as miçangas coloridas, os brincos delicados, os anéis que contam histórias – e seu pai lhe ensinou os segredos das penas, enquanto sua tia revelou os mistérios das pequenas miçangas brilhantes. Assim se forjou uma mulher indígena que carrega em suas mãos a força de seu povo.


Maria Abijicelia Brandão da Silva Shanenawa, Matsiani Shanewa,é artesã, mas também é professora – e nessa dupla identidade encontra seu poder de transformação. O conhecimento nunca foi guardado como tesouro secreto, mas compartilhado generosamente dentro e fora dos laços familiares. Ensina aos primos, primas e principalmente às tias de idade mais avançada, que nem sempre dominam as técnicas de pulseiras e brincos. Na escola, sua sala de aula se transforma em oficina viva: todas as turmas se sentam em círculo enquanto ela ensina, passo a passo, como fazer brincos e cordões, aquelas criações mais práticas que os jovens dominam com mais facilidade. É um encontro entre gerações, onde a educação formal se encontra com a sabedoria tradicional.
Essa mulher indígena transformou o saber herdado em ponte entre mundos: sustenta sua família através da venda de suas criações, empodera outras mulheres da aldeia mostrando que suas mãos podem tecer independência, e educa as novas gerações para que não se percam os fios que ligam passado e futuro. Matsiani carrega dentro de si o legado precioso de sua avó, que já partiu, mas permanece viva em cada ensinamento transmitido. Como mulher, como indígena, como artesã e como professora, ela sabe que seu maior tesouro não são apenas as técnicas aprendidas, mas a compreensão profunda dos significados que cada peça carrega – um saber que transcende a criação manual e toca a essência do que significa ser Shanenawa na contemporaneidade.
Sobre o território
Os Shanenawa habitam a região centro-norte do Acre, às margens do rio Envira, no município de Feijó, em território que abriga cerca de 800 pessoas do povo Shanenawa e aproximadamente 1.200 Huni Kuĩ. A Terra Indígena Katukina/Kaxinawá foi homologada em 1988 e possui 23.474 hectares, onde atualmente a língua predominante é o português, sendo que apenas cerca de 25% das pessoas ainda dominam a língua materna.
O município de Feijó possui área territorial de 27.946,605 km² e população de 35.426 pessoas segundo o último censo de 2022, sendo o terceiro município mais populoso do estado do Acre e o segundo maior em extensão territorial. Segundo dados de 2017, a população estava distribuída em 50,26% urbana e 49,74% rural, com significativa parcela de ribeirinhos vivendo às margens dos rios da região.
A região caracteriza-se pelo clima equatorial, quente e úmido, com temperaturas que oscilam entre 24ºC e 32ºC durante todo o ano, sendo os rios um importante canal de transporte da população local, destacando-se o rio Envira entre os principais da região. Esse território é reconhecido por sua riqueza ambiental e biodiversidade, proporcionando aos Shanenawa o acesso a plantas medicinais, frutos e matéria-prima para artesanato, elementos fundamentais para a manutenção de suas práticas culturais e sustento das famílias.


























