A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Mestra Cida Lima


Mestra Cida Lima herdou de sua família o saber-fazer da louça cabocla. Ela produz peças de decoração, como as cabeças, e de utensílio como panelas, travessas, pratos e potes.

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Sobre as criações

Pega o barro, peneira, agua o barro, amassa. Depois de macio, as mãos deslizam no barro em busca de formas que depois de criadas descansam. Oito dias na sombra, sem vento! A espera prepara a carne barrosa para o forno cachimbo. O fogo amadurece as formas que ficam ainda mais formosas com as lambidas do tauá.

Crédito da foto: Leo Gonzaga

Herança indígena, a louça de caboclo não faz uso do torno. O molde é dado pelas mãos que conhecem a textura e a plasticidade do barro e sabem guiá-lo de acordo com os desejos da imaginação. Depois de secas na sombra, são levadas para o forno onde ficam por mais ou menos três horas. Os desenhos são feitos com pena de galinha e as cores vêm da argila tauá. Cida Lima produz peças de decoração, como as cabeças, e de utensílio como panelas, travessas, pratos e potes.

Sobre quem cria

‘A gente só sabe o valor do nosso trabalho quando vai pro mundo’.

Cida Lima

Aos 7 anos, a mestra Cida Lima começava a sua jornada com o barro. Nascida em 1968, na zona rural de Belo Jardim, Cida herdou de sua família, conhecida na região como família de louceiros, o saber-fazer da louça cabocla. No pequeno cômodo da casa de sua avó, se juntava a ela e seu avô para trabalhar o barro. Seu avô, cego, amassava o barro e sua avó lhe ensinava a moldá-lo. Levando as louças na cabeça, Cida e sua avó seguiam para a cidade de Belo Jardim para vender as peças.

Cida seguiu, assim, no ofício da louça cabocla, fazendo dela sua principal fonte de sustento, com a qual cria seus quatro filhos. Foi graças ao total apoio da Sra. Conceição Moura, uma grande empresária nacional e da região, que a artista plástica Ana Veloso conheceu as louças de Cida e sua família, começou a comprar da artesã e a incluiu no projeto Estado de Arte, que investia no artesanato produzido em Belo Jardim. A partir do projeto, Cida começou a ser incentivada a fazer peças diferentes, contando com algumas sugestões dadas por Ana Veloso.

Crédito da foto: Leo Gonzaga

Sem muita clareza do que fazer, Cida e sua família começaram a experimentar coisas novas. As cabeças, que são os carro chefe do grupo, tem origem a partir de um pedido de uma senhora da região que chegou até a Cida para pedir uma cabeça para pagar uma promessa a Nossa Senhora da Conceição e nesse momento, seu filho Jailson, no momento com apenas 12 anos, criou a primeira cabeça.

Em 2011, Cida participou da 12ª Fenearte, o que mudou sua vida. Ali pôde compreender o valor do seu trabalho e se reconhecer enquanto artesã. Cida saiu da Feira com as peças vendidas e com muito mais confiança em si e em seu trabalho, pronta para finalmente sonhar. Hoje, Cida é reconhecida pelo PAB – Programa de Artesanato Brasileiro – como mestra artesã.

Sobre o território

A região pertence à bacia hidrográfica do rio Capibaribe, em Pernambuco, um dos rios mais importantes do estado, e do rio Ipojuca. Belo Jardim integra a unidade geoambiental do Planalto da Borborema, com montanhas que chegam a mais de mil metros de altitude. Com uma vegetação tipicamente agreste, a caatinga assume seu reinado na paisagem sertaneja.

Belo Jardim também é conhecida pela musicalidade, por gerar muitos musicistas, sendo chamada por alguns como a “Terra dos Músicos”. Além da música, a cidade se destaca pelo artesanato. Entre 2006 e 2009, o projeto Estado de Arte, coordenado pela artista plástica Ana Veloso, com o apoio essencial da Sra Conceição Moura, atuou na cidade de Belo Jardim e de outras cidades da região do agreste central pernambucano, com o propósito de revitalizar a produção artesanal e estimular sua visibilidade. Cida Lima foi uma das artesãs que integrou o projeto e sua participação trouxe para ela retornos que estavam além das expectativas da artesã, hoje reconhecida pelo PAB como mestra do artesanato brasileiro.

Foto de divulgação Artesol

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