Mestre André da Marinheira
André diz que uma escultura pode lhe exigir dias ou até meses de trabalho para que fique pronta, dependendo do tamanho e complexidade. Usa apenas troncos de jaqueiras.
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Sobre as criações
André diz que uma escultura pode lhe exigir dias ou até meses de trabalho para que fique pronta, dependendo do tamanho e complexidade. Usa apenas troncos de jaqueira, árvore nativa de tom amarelado, que após alguns anos interrompe a produção de frutos. Muitas são centenárias e têm seu ciclo de vida e morte respeitados pelo artista. Quando utilizadas, já inférteis, não produzem mais. Árvores “anciãs”, do seu próprio do sítio. Reivindica do artistas a arte de domá-la, extraindo de um vigoroso tronco enormes animais. Nunca abandona a raiz, que permite peças lindas. A venda da maior parte é para colecionadores e galeristas.
André aprimorou-se em felinos e marcou um estilo: incorporou malha aos animais. Usa a pirografia, técnica na qual utiliza o fogo para realizar listras em imponentes tigres e manchas características nas onças-pintadas. Imprimiu uma estética própria, diferente da do pai, Manoel da Marinheira, um dos mais importantes escultores brasileiros que faleceu em 1995 deixando um legado na arte popular e tantos seguidores. Na década de 60 sua obra fascinou o usineiro Jorge Tenório, que se tornou seu maior colecionador, permanecendo até hoje o principal comprador das peças da família Marinheira, discípulos e outros artistas que seguiram o ofício. Um mecênas. Fundou em 2003, dedicado à obra de Manoel, um espaço em sua fazenda em Boca da Mata: o Museu Manoel da Marinheira, que reúne um acervo de mais de duas mil peças, aberto a visitação do público. Mas foi na década de 70, pelo olhar do fotógrafo e documentarista Celso Brandão (protagonista na difusão das manifestações das culturas e saberes populares de Alagoas) e do artista plástico Fernando Lopes, que foi definitivamente revelado e divulgado a artistas e intelectuais da época.
Sobre quem cria
André explica que a origem do nome da família começou com o avô, Seu Liberalino que, ao chegar da Alemanha em um navio fugindo da primeira guerra mundial buscou abrigo em Boca da Mata, sendo um de seus fundadores. Se apaixonou pela mãe de Manoel, avó de André, Dona Maria Justina e não quis mais sair dali. A avó ficou conhecida como “marinheira” (a mulher do marinheiro) e quando o filho nasceu, batizaram-lhe Manoel (filho) da Marinheira.
Dos vinte filhos de Manoel (dez do primeiro casamento e dez do segundo), apenas cinco seguiram o ofício: Antonio, Maria Cícera e Severino são surdos e mudos, sendo a arte um dos seus caminhos de expressão. Cícera, a única mulher que seguiu os passos do pai, faz imagens sacras tal qual o avô. Antonio e Severino, esculturas de animais como o pai. André, é um dos dois filhos do segundo casamento, e aquele que perpetuou seu legado. Começou lixando as peças. Seu pai ia riscando e cortando. Ele, dando acabamento. Aos 16 anos, começou a ganhar dinheiro com peças pequenas. Assim passaram-se mais de 35 anos dedicados a arte do entalhe, de intimidade com a madeira e com a mata.
De temperamento virtuoso, doce e gentil que se contrapõe a robustez de suas obras, André é um homem simples, de pouca formação mas muito devotado. É reconhecido Mestre da Arte da Escultura de Madeira pelo PAB, Programa do Artesanato Brasileiro e já recebeu inúmeros prêmios e homenagens. Em 2012 foi premiado com o Prêmio Culturas Populares promovido pelo Ministério da Cultura, uma das maiores emoções que teve: “Chorei quando me ligaram pedindo o número da conta bancária para o prêmio”.
Sobre o território
Boca da mata é terra de artistas, onde talento passa de pai para filho. Distante 80km de Maceió, é originalmente um território coberto por uma espessa faixa de Mata Atlântica. O lugar, tomado outrora por uma exuberância verde, é hoje uma terra árida, pegada ao mar, mas de raízes sertanejas. Ainda assim, permanece um território singular. E é lá onde André trabalha: em uma casa em frente a sua, onde acomoda todas as etapas da produção, exposição e venda das peças em um grande quintal.