A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Mestre Antônio de Bastião


Antônio de Bastião, é mestre tamborzeiro, criador de sonoridades. Para ele, é evidente que o ofício vem dos seus ancestrais, da cultura quilombola que traz festividades e sonoridades que permeiam o território no qual nasceu e foi criado.

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Telefone (33) 99114-2799
Contato Mestre Antônio de Bastião – Antônio Luiz de Matos
CEP 39650-000, Minas Novas – MG

Sobre as criações

Antônio de Bastião, é mestre tamborzeiro, criador de sonoridades. Seu avô, Artur, era luthier e costumava leva-lo para as andanças no mato em busca de madeira para suas criações.

“Quando você planta uma flor e bota água, ela nasce, né? Veio dos meus ancestrais. Quando meu avô morreu eu fui agraciado”.

Mestre Antônio de Bastião

É assim que Antônio descreve a tradição que herdou do avô. Quando Artur faleceu, sua avó Florzinha juntou as ferramentas do companheiro e tentou entregar para um dos filhos, Francisco, que não aceitou e sugeriu entregar para Antônio, que desde pequeno acompanhava o avô.

Tambor, reco-reco e caixas de todos os tamanhos e sonoridades surgem das mãos de Antônio, que afirma ter desenvolvido uma linguagem para se comunicar com as árvores.

“Eu faço um diagnóstico. Eu bato nela e escuto o zumbido, ela emite um som. Eu percebo pelo oco, é como a coluna dela, então eu sei se dá pra tirar agora ou daqui a alguns anos”.

Mestre Antônio de Bastião

Para ele, é evidente que o ofício vem dos seus ancestrais, da cultura quilombola que traz festividades e sonoridades que permeiam o território no qual nasceu e foi criado.

Mestre Antônio de Bastião / Crédito das fotos: Lyndon Célio

Sobre quem cria

Antônio nasceu na beira do Rio Capivari, na casa de sua avó Florzinha, parteira tradicional da região. Nasceu nos braços da avó que, mais à frente, agraciou-o com o ofício do avô. Antônio ficou órfão de mãe e pai cedo, sendo criado pelos avós. Entre partos, ervas, rezos, pedidos de cura e sons de tambor, foi amadurecendo seus saberes e sua fé.

Já adulto, passou por vários estados brasileiros trabalhando como marceneiro, carpinteiro e mestre de obras. Viveu em Recife, Fortaleza, João Pessoa e São Paulo. Conta que fazia crucifixos de madeira e vendia na Praça da Sé. Passou alguns anos afastado do filho e da esposa por causa do trabalho e sentia falta de estar mais próximo da família.

Tinha acabado de voltar de São Paulo quando recebeu as ferramentas do avô falecido. Antônio conta que resistiu, não quis aceitar, viu sua avó se afastar com lágrimas nos olhos, quando sua companheira lhe aconselhou que aceitasse.

“Ô Antônio, pega as ferramentas, faz isso pela tua avó”.

“Eu gritei pra minha avó voltar, pra gente conversar. Ela voltou e colocou as ferramentas em cima da mesa. Eu senti uma friagem no corpo, quase caía. Decidi não voltar para São Paulo. Eu não tinha contato com meus filhos. Só voltei para São Paulo para dar baixa na carteira”.

Mestre Antônio de Bastião

Seu Antônio costuma dar muitas oficinas em espaços de arte e cultura, e já ganhou alguns prêmios pelo seu compartilhar. Não costuma cobrar, comenta que seu avô ensinou de graça, então não acha justo cobrar para ensinar o que sabe.

“Quando dou oficina, não dou o certificado enquanto não plantar uma muda. É preciso saber que árvores têm vida”.

Mestre Antônio de Bastião

Crédito das fotos: Lyndon Célio

Sobre o território

Seu Antônio passeia entre dois territórios, Minas Novas e São Benedito do Capivari. Em Minas Novas, a aproximadamente 513 km de Belo Horizonte, tem seu Ateliê e está restaurando o casarão com o objetivo de criar um ponto histórico de perpetuação de suas histórias e saberes.

Minas Novas está localizada no nordeste de Minas Gerais, na região do Alto Jequitinhonha, importante polo da cultura popular brasileira que reúne mestres e mestras da arte brasileira. Com aproximadamente 31 mil habitantes, Minas Novas antes era chamada de Arraial das Lavras Novas dos Campos de São Pedro do Fanado e foi uma cidade que por muito tempo teve a economia local voltada para extração de ouro. A cidade é cortada por rios como Fanado, Araçuaí e Capivari, onde seu Antônio nasceu. Lá construiu a “Balança da consciência” que segundo ele, vem do princípio do mundo.

“Ninguém é dono de nada. A gente está aqui passando um tempo. A balança da consciência visa isso. Você vai ver o que foi de pesado, o que foi de bom. Ela tem o símbolo da consciência.

Teve um cara, aqui em Minas Novas, que foi morto para pagar uma dívida com um coronel. Eles pegaram um cara aleatório, filho de escravo e enforcaram. O cara que fugiu não tinha paz, não conseguia comer, beber água… Ele acabou se entregando, porque ele não estava tendo sossego. Isso é a consciência. Depois que ele se entregou, ele pôde voltar a comer e beber água. É fundamental conhecer essa história.”.

Mestre Antônio de Bastião

Essa mesma consciência parece guiar as produções de Antônio que diz ser pecado tirar uma árvore verde para fazer tambor. Conhecido por toda a cidade, é avisado por amigos e vizinhos quando encontram alguma árvore caída, para que ele passe e recolha para suas criações.

“Nas minhas andanças eu vou buscando também. Tamburi é uma madeira boa… O pequizeiro não pode mexer, mas se cair a gente pede licença, replanta outro e pega a que caiu”.

Mestre Antônio de Bastião

Entre as tantas andanças pelo Brasil, foi entre Minas Novas e as margens do Rio Capivari que seu Antônio fincou suas raízes. E comenta que é em Minas Novas que pretende ser enterrado, em uma gruta que já está sendo construída.

“Minha vó florzinha era descendente de índio. Minha bisavó fugiu de Salinas, era indígena. Ela adivinhou que ia morrer. Essa gruta que eu estou construindo…eu sinto que eu vou sentir o dia que vou morrer. Essa história de religião vem das raízes e eu sou uma rama”.

Mestre Antônio de Bastião

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